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    Maurício Pestana: diversidade e inclusão além das fronteiras de raça e gênero

    Muitas vezes, caímos na armadilha de não nos atentar a grupos que são excluídos por motivos variados como religião, origem social ou regional

    Maurício Pestana

    Sempre que me indagam sobre o tema “diversidade e inclusão”, na maioria das vezes, é para falar de raça, um tema recorrente no Brasil, uma vez que o racismo em nossa sociedade é tão nefasto que abarca outros preconceitos sobre educação e origem social. Caso tenha também interfaces de gênero, o racismo é potencializado com os elementos do machismo.

    Mas em um país continental e tão diverso como o nosso, para falar de diversidade e inclusão, é necessário pensar em uma dimensão muito maior do que as empresas e a sociedade têm lidado com o tema nos últimos anos.

    A exclusão de raça e gênero é tão gritante que, muitas vezes, caímos na armadilha de não nos atentar a outros grupos que também são excluídos de maneira geral por motivos variados como religião, origem social ou regional e até linguística, caso carreguem algum sotaque.

    Parecem poucos, mas são indivíduos que, de certa forma, acabam excluídos de vagas de emprego, oportunidades de ascensão em uma empresa e não aparecem nos programas de diversidade e inclusão em um país com tanta disparidade entre negros e brancos, homens e mulheres e grupos historicamente excluídos como LGBTQ+ e PCDs.

    Um fato nesta semana ilustrou bem este problema, em uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial.

    É obvio que é incomparável o governo dele com o anterior, do ponto de vista de raça e gênero. Hoje, mulheres e negros se fazem presentes, inclusive mulheres negras como ministras, algo antes inimaginável no governo Bolsonaro. Ou seja, embora a quantidade ainda deixe a desejar, temos um governo infinitamente mais representativo em termos de raça e gênero, coisa que antes era quase inexistente.

    Porém, nesta reunião, foi exposto um problema: em um país de maioria cristã, com um contingente expressivo de evangélicos, o governo não consegue falar com este segmento da sociedade.

    Parece estranho, mas este dilema expõe uma realidade que pode ser crucial para quem trabalha e deve estar atento ao tema diversidade e inclusão. Será que estamos realmente falando com todos os segmentos da sociedade?

    Citei os cristãos, mas e os de religiões com pouco poder político, econômico e midiático, como é o caso das religiões de matrizes africanas? Como são tratados os seus adeptos quando vão para uma entrevista de trabalho em uma sexta-feira em que, por preceito religioso, alguns se vestem de branco? E como são tratados na entrevista ou no ambiente de trabalho? A sua empresa já pensou ou trabalha com o tema da intolerância religiosa?

    O Brasil é um país diverso no sentido mais amplo da palavra. Somente há pouco tempo se deu conta e assumiu o seu racismo e tem avançado muito em políticas de igualdade racial e de gênero. Porém, tem de estar atento a todo tipo de preconceito.

    A inclusão e o diálogo têm que ser pensados em todos os níveis, levando-se em consideração as diferenças étnicas, sociais, raciais, de gênero, religiosas, regionais e daí por diante. Só assim seremos uma nação verdadeiramente democrática e inclusiva.

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