Críticos do ex-papa o usam como bode expiatório em caso de abuso, diz Vaticano
Em um comentário, o diretor editorial do Vaticano, Andrea Tornielli, defendeu fortemente o histórico de Bento XVI
O Vaticano reagiu nesta quarta-feira (26) aos críticos do ex-papa Bento XVI, que está sob escrutínio por seu tratamento em relação a abusos sexuais na Alemanha décadas atrás, acusando-os de buscar um bode expiatório para o que deveria ser um “exame coletivo” do passado da Igreja.
O Vaticano esperou quase uma semana para emitir uma resposta substantiva após a divulgação do relatório da última quinta-feira (20) sobre abusos na arquidiocese de Munique de 1945 a 2019.
A reportagem diz que o então cardeal Joseph Ratzinger não tomou medidas contra os clérigos em quatro casos de supostos abusos quando era arcebispo da cidade, entre os anos de 1977 e 1982.
Em um comentário, o diretor editorial do Vaticano, Andrea Tornielli, defendeu fortemente o histórico de Bento XVI de quando ele deixou a Alemanha para se tornar o chefe doutrinário do Vaticano e depois como papa de 2005 a 2013.
“Ratzinger,…como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, já havia combatido o fenômeno na última fase do pontificado de São João Paulo II…e uma vez que se tornou papa, promulgou normas muito duras contra abusadores clericais, leis especiais para combater a pedofilia”, escreveu Tornielli na rede oficial do Vaticano.
Apresentando o relatório encomendado pela Igreja na quinta-feira passada, o advogado Martin Pusch disse que Ratzinger não fez nada contra o abuso nos quatro casos e que aparentou não ter demonstrado interesse nas partes lesadas.
Em seu comentário, Tornielli, que tem acesso ao atual papa, disse que as reconstruções de eventos antigos contidos no relatório de Munique “ajudarão a combater a pedofilia na Igreja se não forem reduzidas à busca de bodes expiatórios fáceis e julgamentos sumários”.
Na segunda-feira, Bento XVI, agora com 94 anos, doente e morando no Vaticano, reconheceu que esteve em uma reunião de 1980 sobre um caso de abuso sexual em Munique, dizendo que afirmou erroneamente aos investigadores alemães que não estava lá.
Seu secretário particular, o arcebispo Georg Gaenswein, disse que Bento XVI participou da reunião, mas a omissão “foi o resultado de um descuido na edição” de uma declaração de 82 páginas enviada anteriormente aos investigadores alemães.
Tornielli disse que a pressa para o julgamento e por um bode expiatório devem ser evitados para que todos possam “contribuir para a busca da justiça na verdade e para um exame coletivo de consciência sobre os erros do passado”.
Desde que o relatório foi publicado, conservadores têm defendido o ex-papa, mas grupos de vítimas e especialistas disseram que as descobertas mancham o legado de um dos teólogos mais renomados do catolicismo.