Lua de gelo de Saturno pode ser mundo oceânico “disfarçado” e hospitaleiro à vida
Satélite, que se assemelha à Estrela da Morte de Star Wars, pode conter oceano interno sob camada de gelo de 22,5 a 32 quilômetros de espessura
A lua mais interna de Saturno, que se assemelha à Estrela da Morte de Star Wars, pode ser um mundo oceânico “disfarçado”, de acordo com uma nova pesquisa, publicada na semana passada pela revista Icarus.
Mimas, que é a menor e mais próxima lua de Saturno entre as 82 que envolvem o planeta anelado, pode conter um oceano interno líquido, segundo o estudo.
“Se Mimas tem um oceano, ele representa uma nova classe de mundos oceânicos pequenos e ‘furtivos’, com superfícies que não denunciam a existência da água interna”, disse, em nota, a autora do estudo, Alyssa Rhoden, cientista do Southwest Research Institute em Boulder
Mimas foi descoberta pela primeira vez em 1789, pelo astrônomo inglês William Herschel, como um pequeno ponto perto de Saturno.
As sondas Voyager capturaram imagens da pequena lua em 1980, e a missão Cassini, da Nasa, realizou sobrevoos por ela enquanto estudava Saturno entre 2004 e 2017.
A lua está a apenas 186 mil quilômetros de Saturno e leva pouco mais de 22 horas para completar uma órbita ao redor do planeta. Ela é coberta de crateras, mas a maior tem 130 quilômetros de diâmetro e dá à lua sua aparência distinta de “Estrela da Morte” do Star Wars.
Os cientistas estão há muito tempo intrigados com Mimas, porque ela parece ser feita quase inteiramente de gelo. Crateras espalhadas pela lua sugerem que sua superfície permaneceu congelada por muito tempo.
No entanto, antes que a missão Cassini chegasse ao fim em 2017, foi detectado uma oscilação na rotação da lua, que sugeria que Mimas pode conter um oceano subterrâneo.
Nosso sistema solar é o lar de vários mundos oceânicos, ou luas onde os oceanos existem sob espessas camadas de gelo, incluindo a lua Europa, de Júpiter, e as luas Titã e Encélado, de Saturno.
Elas diferem da Terra, que está na distância certa do sol para incluir oceanos de água líquida em sua superfície.
Os mundos oceânicos de águas interiores, ou IWOWs (na sigla em inglês), estão muito mais distantes do sol — mas ainda podem sustentar vida dentro deles.
“Como a superfície de Mimas tem muitas crateras, pensamos que era apenas um bloco congelado”, disse Rhoden, que também é líder da Rede de Coordenação de Pesquisa de Mundos Oceânicos da Nasa.
“Os mundos oceânicos, como Encélado e Europa, tendem a ser fraturados e mostram outros sinais de atividade geológica”, explicou.
“Acontece que a superfície de Mimas estava nos enganando, e nosso novo entendimento expandiu muito a definição de um mundo potencialmente habitável em nosso sistema solar e além”, acrescentou.
Mimas está travada em sua órbita ao redor de Saturno, o que significa que o mesmo lado da lua sempre está voltado para o planeta — como nossa lua enquanto orbita a Terra.
Os pesquisadores acreditam que um fenômeno chamado “aquecimento das marés” permite que o oceano subterrâneo exista em Mimas.
O aquecimento das marés causa um aumento interno da temperatura em uma lua devido à sua relação gravitacional com um planeta.
Para recriar a oscilação detectada na rotação de Mimas pela missão Cassini, os pesquisadores usaram modelos para mostrar que o aquecimento das marés que ocorre na pequena lua é suficiente para manter um oceano sob uma espessa camada de gelo (entre 22,5 a 32 quilômetros).
Essa descoberta pode ser útil para futuras naves espaciais estudarem mundos oceânicos em nosso sistema solar, mas também mostra que Mimas e outras luas de Saturno podem valer a pena de serem observadas mais adiante.
Futuras naves espaciais podem confirmar se Mimas é de fato um desses mundos oceânicos de água. “Avaliar o status de Mimas como uma lua oceânica serviria de referência para modelos de sua formação e evolução”, disse Rhoden.
“Isso nos ajudaria a entender melhor os anéis de Saturno e as luas de tamanho médio, bem como a prevalência de luas oceânicas potencialmente habitáveis, particularmente em Urano. Mimas é um alvo atraente para investigação contínua”, completou.
(Texto traduzido. Leia o original clicando aqui)