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    Elza Soares é o grito urgente daqueles que tanto apanham no Brasil, diz pesquisador

    Em entrevista à CNN, biógrafo da escola de samba Mocidade Independente, Fábio Fabato, relembra como a história da artista se relaciona com sua escola de coração

    Léo LopesThayana Araújoda CNN , em São Paulo e no Rio de Janeiro

    A cantora e compositora Elza Soares morreu aos 91 anos, nesta quinta-feira (20), por causas naturais.

    A partida de Elza aconteceu no dia do padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião, que, no sincretismo religioso, corresponde a Oxóssi, na Umbanda.

    O orixá é padroeiro da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e tema do seu atual enredo. A cantora participaria do encerramento do próximo desfile de sua escola do coração.

    Além disso, no último carnaval antes da pandemia, em 2020, a Mocidade levou para a avenida o enredo “Elza Deusa Soares”.

    Em entrevista à CNN nesta sexta (21), o jornalista e biógrafo da Mocidade Independente, Fábio Fabato, considera Elza Soares “uma grande distribuidora de liberdade”.

    Ele relembra que, quando foi feito o enredo da Mocidade sobre a cantora, o objetivo era destacar essa característica de Elza.

    “Ela veio com um instrumento poderoso – aquela garganta fabulosa, uma voz única – e usou para gritar as mensagens mais urgentes do Brasil, que também eram suas mensagens”, disse o pesquisador.

    Ele complementa dizendo que Elza “apanhou muito ao longo do século 20”, mas destaca que ela não se abateu e acanhou.

    “O drama não a fez rígida, no sentido de ter medo de viver. Ela queria viver e contar o quanto a liberdade era importante”, contou.

    “É emocionante falar da Elza porque estamos falando de um Brasil tantas vezes amordaçado e combatido. E é o Brasil da maioria: feminino e preto. Elza Soares é o grito urgente daqueles que tanto apanham no Brasil”, destacou Fábio Fabato.

    O jornalista relembrou aquele que é considerado o episódio de estreia de Elza.

    Ao participar, aos 13 anos de idade, de um programa de calouros na rádio, conduzido pelo compositor Ary Barroso, ela foi questionada: “De que planeta você vem?”.

    A provocação do autor de “Aquarela do Brasil” pela forma como Elza estava vestida foi retrucada com: “Do planeta fome, o mesmo que você.”.

    “Infelizmente ele não teve a sensibilidade, no começo, de perceber que ali viria aquele fenômeno”, disse Fábio.

    Fábio destaca os versos do enredo “Elza Deusa Soares”, da Mocidade, que dizem: “Se a vida é uma aquarela / Vi em ti a cor mais bela.”.

    “Ary Barroso fez a “Aquarela do Brasil”, que é um dos hinos nacionais. Essa parte do samba enredo é porque a escola fazia uma crítica de que não havia a cor preta na aquarela do Ary Barroso. Elza Soares veio para transgredir”, completou.

    O biógrafo da escola relembra que Elza ficou emocionada ao receber a homenagem, dizendo que “era o Oscar que ela poderia receber em vida”.

    “A Elza e a Mocidade estavam umbilicalmente ligadas. Ao mesmo tempo, a trajetória das escolas de samba, que também apanharam muito das elites para hoje se constituírem o maior espetáculo da Terra, tem muito a ver com a história da Elza. É uma espécie de metáfora”, pontuou.

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