Juízes revelam por que impediram a participação de Djokovic no Aberto da Austrália
Magistrados citaram influência sobre jovens e movimentos antivacina na explicação
Os três juízes que recusaram unanimemente o pedido de Novak Djokovic para ficar na Austrália para competir o torneio aberto do país revelaram os motivos da decisão
Em um comunicado escrito, os juízes afirmaram que não é irracional que o ministro da Imigração, Alex Hawke, expulse Djokovic devido a preocupações com os riscos que o atleta sérvio não vacinado poderia trazer à saúde e ordem pública.
A decisão dizia que o ministro poderia inferir que a presença de Djokovic encorajaria protestos antivacina, o que poderia contribuir com o espalhamento da Covid-19. Eles destacaram que a decisão do ministro também considerou a possível influência do atleta em pessoas que estavam indecisas sobre tomar a vacina.
“A possível influência do segundo grupo vem do senso comum e da experiência humana: uma estrela mundial icônica do tênis pode influenciar pessoas de todas as idades, jovens ou idosas, mas principalmente os jovens e impressionáveis, a emulá-lo. Isso não é fantasioso; não precisa de evidência”, disse a decisão.
A explicação encerra um dos episódios mais controversos da história do Aberto da Austrália.
O número 1 do mundo no tênis masculino foi forçado a deixar o país na véspera da competição após o tribunal não encontrar ilegalidades na decisão do ministro da Imigração em cancelar seu visto.
Essa foi a segunda vez em que o visto de Djokovic foi cancelado – a primeira veio horas depois da sua chegada na Austrália, em 5 de janeiro, quando os funcionários da Força de Fronteira Australiana (ABF, na sigla em inglês) rejeitaram sua suposta exceção da regra que determina que todos os viajantes devem estar vacinados.
Djokovic disse que uma infecção por Covid prévia significava que ele estaria isento, mas sob regras federais, isso não é suficiente, e ele foi detido em uma instalação de imigração.
O assunto foi para o tribunal e um juíz decidiu que a determinação era “irracional”, pois ele não teve tempo o suficiente para consultar seus advogados. Djokovic foi liberado da detenção e retomou os treinos no Melbourne Park na esperança de garantir seu 21º prêmio de grand slam.
No entanto, dias depois o governo interviu para cancelar seu visto novamente, declarando que o jogador não vacinado seria uma ameaça para a saúde e ordem públicas. O problema foi enviado para uma corte superior e três juízes se reuníram no último domingo (16).
A equipe jurídica de Djokovic não discutiu os méritos da decisão do ministro, apenas que ele teria feito um erro jurisdicional sobre a lei de migração do país.
No domingo, os juízes determinaram que não houve erro e Djokovic concordou em deixar a Austrália.
Em nota, o jogador disse estar “desapontado” com a decisão, mas respeita a decisão do tribunal. Naquela noite, ele partiu para a Sérvia, onde recebeu boas vindas de herói.
A primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic disse que o tratamento dado pela Austrália ao ídolo foi “escandaloso”. Brnabic disse à CNN na quarta-feira (19) que não sabia o motivo de Djokovic não estar vacinado, mas acrescentou que não acredita que ele seja antivacina.
“Ele apoia a vacinação das pessoas que querem se vacinar. Então eu não o percebo como um antivacina”, ela disse.
Em um comunicado logo após a decisão no domingo, a família de Djokovic culpou a política pela decisão.
“Isso não é apenas um problema esportivo, de não poder jogar no primeiro grand slam da temporada, dominada por Novak por uma década, mas de política e de todos os outros interesses que tomaram prioridade acima dos esportes”, afirmou a família.
Sob a lei australiana, Djokovic pode ser banido do país por três anos, apesar de a ministra de Assuntos Internos, Karen Andrews, não ter emitido um posicionamento. “Qualquer candidatura será revisada em seus próprios méritos”, disse ela no início da semana.
Na terça-feira (18), a Tennis Australia lamentou a disputa sobre o visto, dizendo que distraiu os jogadores do torneio.
“Nós lamentamos profundamente o impacto que isso teve em todos os jogadores”, disse em nota. “Sempre há lições a serem aprendidas, e nós vamos revisar todos os aspectos da nossa preparação e implementação para informar nosso planejamento – como fazemos todos os anos. Esse processo começa assim que os campeões do Aberto da Austrália levantam seus troféus”.
O grand slam termina em 31 de janeiro.