Conheça a mansão de R$ 2,9 bilhões com obra de Caravaggio que foi para leilão
Villa Aurora, no coração da capital italiana, abriga obras inestimáveis de mestres da pintura da era moderna; leilão realizado nesta semana não obteve nenhum comprador e ganhou "desconto"
Uma mansão imponente no coração de Roma, avaliada em 471 milhões de euros (cerca de R$ 2,9 bilhões), que abriga o único mural de teto do pintor italiano Caravaggio, não atraiu nenhum comprador interessado durante um leilão realizado nesta semana. O lance inicial era de 350 milhões de euros (mais de R$ 2 bilhões).
A proprietária do Villa Aurora, Rita Carpenter, nascida no Texas – e mais conhecida como princesa Rita Boncompagni Ludovisi, terceira e última esposa do falecido príncipe Nicolo Boncompagni Ludovisi –, disse que tentará vender novamente em três meses.
A segunda tentativa de venda, que está sendo realizada pela casa de leilões Fallco Zucchetti, será no dia 7 de abril, e contará com uma redução de 20% no preço e um lance inicial de 282 milhões de euros (R$ 1,74 bilhão).
“Depois de receber a notícia, a princesa Rita está triste, mas serena. É um leilão que recebeu atenção mundial e o valor do imóvel continua incrivelmente alto”, disse Milioti, em nota.
A maior parte da infraestrutura foi demolida no século 19 e a Villa Aurora é a única parte remanescente da maior Villa Ludovisi, uma casa do século 16 que foi considerada “uma das grandes maravilhas do mundo”, segundo o historiador de arte Claudio Strinati, em uma coluna publicada no jornal diário “La Repubblica”.
A família Boncompagni Ludovisi é descendente do Papa Gregório XV, e a Villa Aurora tem estado no centro de uma amarga disputa legal entre Rita Carpenter e os filhos de um casamento anterior do falecido marido. Carpenter disse à CNN que ela mora na propriedade há 20 anos. Mas um juiz italiano ordenou que a casa fosse colocada em leilão.
Mas a manutenção da propriedade não será nada barata. Uma das condições para quem comprar o imóvel será gastar 11 milhões de euros (aproximadamente R$ 67 milhões) em despesas de restauração.
“Espero que um anjo compre a casa e que eles entendam a profundidade da história aqui”, disse Carpenter à CNN.
A poucos passos da Via Veneto, a icônica rua homenageada pelo diretor de “La Dolce Vita”, Federico Fellini, a Villa Aurora é ladeada por um jardim e várias garagens, em um total de 2.800 metros quadrados (pouco mais de meio acre), de acordo com documentos de venda pública publicados pelo Ministério da Justiça.
A propriedade de seis andares abriga inúmeras obras de arte, incluindo uma pintura a óleo na parede atribuída a Michelangelo Merisi da Caravaggio, mais conhecido simplesmente como Caravaggio, cujo corpo de trabalho se tornou sinônimo das representações viscerais de violência do artista.
Abrangendo o teto de uma pequena sala de 2,75 metros quadrados, o mural de Caravaggio na Villa Aurora representa três deuses – Júpiter, Netuno e Plutão – reunidos em torno de um globo translúcido.
A obra foi encomendada pelo cardeal Francesco Maria Del Monte, em 1597, que teria usado a sala como laboratório alquímico, segundo perícia encomendada por um tribunal e divulgada pelo ministério.
A pintura tem um valor estimado de mais de 310 milhões de euros (cerca de R$ 1,9 bilhão), de acordo com Alessandro Zuccari, professor de história da arte moderna da Universidade Sapienza de Roma.
Zuccari, que foi chamado pelo tribunal para estimar a obra de arte dentro da propriedade, concluiu em sua avaliação que a pintura de Caravaggio é “de preço inestimável, sendo o único mural de um dos maiores pintores da era moderna”.
A mansão também tem afrescos do pintor barroco Giovanni Francesco Barbieri, conhecido como Guercino, que trabalhou na villa entre 1621 e 1623. Entre as obras de Guercino estão o afresco da Aurora, a deusa romana do amanhecer, que foi pintado para o sobrinho de Papa Gregório XV, Alessandro Ludovisi.
Se a propriedade atrair um interessado no leilão de abril, por lei, o governo italiano pode igualar o lance vencedor e tomar posse da propriedade. Para a historiadora de arte Elizabeth Lev, essa seria a solução ideal.
“Não há nada que eu gostaria mais do que vê-la nas mãos do Estado italiano, para que possamos continuar a apreciá-la”, disse ela à CNN. “Elas [as obras] precisam muito de restauração, mas mesmo assim, há obras tremendas de uma sala para outra. Você está olhando para obras-primas […] e exemplares absolutamente únicos na história da arte”.
*Ben Wedeman e Jacqui Palumbo contribuíram com esta reportagem.