Crise diplomática, pandemia e desafios na economia: o 1º ano do governo Biden
Presidente dos EUA enfrentou obstáculos como a retirada de tropas no Afeganistão e a tensão entre Rússia e Ucrânia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, marcou seu primeiro ano no cargo com um pronunciamento e uma entrevista coletiva da Casa Branca nesta quarta-feira (19). Biden destacou as realizações de seu governo, assim como os desafios que tem pela frente, já que prioridades de sua agenda permanecem paralisadas, como a lei Build Back Better (projeto de lei de gastos de US$ 1,9 trilhão).
Apesar dos obstáculos, o presidente norte-americano disse que o governo será capaz de sancionar “boa parte” de sua agenda.
A vacinação contra a Covid-19, a reabertura da economia e a geração de empregos no país foram destacados pelo presidente norte-americano como “progressos notáveis”.
Dentre as medidas de contenção da variante Ômicron, Biden afirmou que serão disponibilizados 1 bilhão de testes de coronavírus aos cidadãos do país. Biden destacou o avanço na imunização e afirmou que o país está vacinando 9 milhões de pessoas por semana.
Porém, a pandemia e os problemas econômicos gerados pela Covid-19 não foram os único desafios no primeiro ano de gestão de Biden. Os percalços envolvem ainda crises diplomáticas e políticas.
Pedras no caminho de Biden
Rússia e Ucrânia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, previu nesta quarta-feira (19) que a Rússia “vai atacar” a Ucrânia, citando preocupações existenciais do presidente do país, Vladimir Putin, mesmo alertando sobre consequências econômicas significativas caso isso ocorra.
“Não tenho tanta certeza do que ele vai fazer. Meu palpite é que ele vai atacar. Ele tem que fazer alguma coisa”, disse Biden, descrevendo um líder em busca de relevância em um mundo pós-soviético. “Ele está tentando encontrar seu lugar no mundo entre a China e o Ocidente”, acrescentou
Um membro do governo ucraniano disse a Matthew Chance, da CNN, que está “chocado que o presidente dos EUA, Biden, faça distinção entre incursão e invasão”. “Isso dá luz verde a Putin para entrar na Ucrânia a seu bel prazer”, acrescentou o funcionário.
“O presidente Biden foi claro com o presidente russo: se quaisquer forças militares russas cruzarem a fronteira ucraniana, isso é uma invasão renovada, e será recebida com uma resposta rápida, severa e unida dos EUA e nossos aliados”. disse a secretária de imprensa Jen Psaki em um comunicado emitido depois da entrevista coletiva.
Pandemia
O presidente norte-americano admitiu que deveria ter sido feito mais em termos de disponibilidade de testes de Covid-19. “Olha, também estamos aumentando os testes. Deveríamos ter feito mais testes antes? Sim. Mas estamos fazendo mais agora”, disse ele.
Mas em seu discurso, Biden defendeu as vacinas, a dose de reforço, o uso de máscaras e afirmou que não adotará mais lockdown no país, incentivando que as crianças retornem às escolas.
“Estamos em um momento bem melhor que o ano passado, não vamos voltar a ter lockdown, não vamos fechar as escolas, as escolas devem permanecer abertas, com ventilação e higiene nas salas e nos ônibus, com testes sendo administrados nas escolas. Eu motivo que os estados usem os fundos para manter as escolas abertas, a Covid-19 não vai embora imediatamente, mas não vamos desistir”, destacou o presidente.
Exigência de vacinação a trabalhadores
A Suprema Corte dos Estados Unidos bloqueou a exigência de vacina contra a Covid-19, projeto do presidente Joe Biden, além do requisito de teste destinado a grandes empresas, mas permitiu que um mandato de vacina para certos profissionais de saúde entrasse em vigor em todo o país.
Em resposta à decisão, o governo de Joe Biden divulgou uma carta onde afirma que se sua gestão não houvesse estabelecido requisitos de vacinação, o país estaria agora enfrentando um número ainda maior de internações e mortes por Covid-19.
“Estou desapontado que a Suprema Corte tenha optado por bloquear os requisitos de bom senso para salvar vidas para funcionários de grandes empresas, que foram fundamentados diretamente na ciência e na lei”, divulgou em carta aberta.
Lei Build Back Better
Biden sinalizou que está disposto a quebrar o Build Back Better Act e aprovar seções da lei separadamente. “Acho que podemos dividir o pacote, obter o máximo que pudermos agora, voltar e lutar pelo resto mais tarde”, disse o presidente.
O pacote econômico foi paralisado no mês passado por falta de acordo no Congresso.
O Build Back Better deve expandir drasticamente o alcance dos serviços sociais para os americanos, como o acesso aos cuidados de saúde, e prestar ajuda a famílias e crianças. Além disso, será utilizado para financiar medidas de mitigação da crise climática.
Trump
Em seu pronunciamento, o presidente Joe Biden lamentou o controle de seu antecessor sobre o Partido Republicano, já que sua ampla agenda e as prioridades de reforma eleitoral permanecem paralisadas no Congresso.
Sem citar o ex-presidente, Biden criticou as ameaças de Donald Trump de apoiar oponentes de políticos que assumem posições que o republicano discorda.
“Você já pensou que um homem fora do cargo poderia intimidar um partido inteiro onde eles não estão dispostos a votar contra o que ele acha que deveria ser votado, por medo de ser derrotado nas primárias?”, Biden perguntou retoricamente durante a entrevista desta quarta-feira.
Ataque ao Capitólio
Biden ainda não havia assumido a presidência, mas a contestação a sua vitória gerou a maior crise da democracia do país. No dia 6 de janeiro de 2021, centenas de manifestantes invadiram o Capitólio dos Estados Unidos em um motim que justificava, erroneamente, uma fraude na eleição que derrotou o ex-presidente Donald Trump.
Um comitê do Congresso dos EUA ainda investiga os acontecimentos daquele dia. Diversas testemunhas afirmam que Trump instigou seus apoiadores a atacar o Capitólio.
Pelo menos dois manifestantes e três policiais morreram nos dias seguintes ao ataque. Nos meses seguintes, outros quatro agentes de segurança que defenderam o Capitólio se suicidaram. Outros 140 policiais ficaram feridos.
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Inflação
Biden reconheceu que os americanos estão lutando com o alto custo de vida e colocou seu peso nos esforços do Federal Reserve (Banco Central do país) para combater a inflação.
“O trabalho crítico de garantir que os preços elevados não se tornem arraigados cabe ao Federal Reserve, que tem um mandato duplo: pleno emprego e preços estáveis”, disse Biden.
Biden também detalhou esforços de seu governo para combater a inflação, com a desobstrução das cadeias de suprimentos e o combate à concorrência desleal no mercado.
Crise no Afeganistão
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Sob pressão, o presidente Joe Biden cumpriu o prazo para retirar todas as tropas americanas do Afeganistão, 20 anos depois da invasão a Cabul e da deposição do governo do Talibã da época por proteger os perpetradores dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Porém, o governo e o exército afegão desapareceram quando o Talibã entrou na capital, em 15 de agosto – o que marcou a volta do grupo ao poder e causou pânico em decorrência de suas visões estritas sobre a colaboração com o Ocidente e direitos humanos.
Sob um acordo com os Estados Unidos, o Talibã disse que permitiria que estrangeiros e afegãos saíssem do país.
A crise desencadeada no Afeganistão com a retirada das tropas norte-americanas do país impactou a popularidade de Joe Biden, conforme avaliou na época a coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, Fernanda Magnotta.
“Não seria possível deixar o Afeganistão sem caos”, disse Biden em entrevista à rede ABC.
A CNN teve acesso à informação de que um grupo de diplomatas avisou, em julho, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, de que a situação no Afeganistão poderia sair do controle rapidamente.
*Com informações de Chris Cillizza, da CNN