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    Entenda a “conspiração da torta de porco” que ameaça cargo de Boris Johnson

    Festas com dezenas de pessoas durante lockdown na casa oficial causou uma crise que pode custar o cargo do primeiro-ministro britânico

    Richard Allen GreeneLuke McGeeBianca Nobiloda CNN

    Uma grande parcela dos britânicos está furiosa com os relatos de noites de bebedeira nos jardins durante o verão e festas de Natal no seu escritório na Downing Street.

    O endereço, que serve de casa e escritório aos primeiros-ministros do Reino Unido, recebeu reuniões numa época em que o resto do país estava sob um rígido lockdown por causa da Covid-19.

    Os eventos na Downing Street colocaram o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, em uma situação complicada.

    Duas pesquisas feitas na semana passada apontaram que dois terços dos eleitores querem que Johnson se demita.

    Futuro de Johnson como premiê

    É cedo demais para dizer se era de Boris Johnson como premiê acabou

    Um fator que pode funcionar a seu favor é que o processo para se livrar de um primeiro-ministro britânico conservador no poder é bastante complicado.

    Os primeiros-ministros não são eleitos diretamente pelo povo: os britânicos elegem seus representantes locais do parlamento, e o líder do maior partido no parlamento torna-se primeiro-ministro.

    O Reino Unido não precisa fazer outra eleição parlamentar antes de 2024 e, portanto, não há como o eleitor comum arrancar Johnson da Downing Street agora.

    Problema entre os conservadores

    O povo pode não conseguir retirar Johnson do cargo, mas os legisladores conservadores podem.

    Há muitos rumores em Westminster (a região das sedes do poder em Londres) sobre conservadores do baixo clero enviando cartas sobre a perda de confiança no primeiro-ministro para Graham Brady, o presidente do Comitê de 1922, nome dado ao grupo dos membros eleitos do partido.

    Na quarta-feira (19), enquanto Johnson se preparava para a tradicional sessão semanal de perguntas ao primeiro-ministro no parlamento, um deputado conservador pulou para o Partido Trabalhista, ou seja, para a oposição.

    Christian Wakeford tem feito críticas abertas a Johnson nos últimos dias e chamou o escândalo de “embaraçoso” em um tuíte de 12 de janeiro. “Como você defende o indefensável? Você não pode!”, Wakeford postou.

    Processo de retirada

    O Comitê de 1922 é o grupo de base do Partido Conservador no parlamento, ou seja, os legisladores eleitos que não estão no governo como ministros ou secretários. Graham Brady é o presidente de longa data do grupo.

    Segundo as regras do Partido Conservador, se os deputados quiserem se livrar de seu líder, submetem uma carta confidencial de não confiança à Presidência, que as mantém secretas e não revela o número de signatários nem o nome até que uma decisão seja tomada.

    As cartas podem ser canceladas mesmo depois de terem sido entregues, e por isso o número de cartas pode mudar constantemente, aumentando ou diminuindo.

    Quando 15% dos legisladores conservadores apresentaram cartas, é desencadeada a convocação de um voto de confiança entre todos os legisladores conservadores.

    Atualmente, após a deserção de Wakeford, o Partido Conservador conta com 359 deputados, o que significa que são necessárias 54 cartas para abrir uma votação. Depois, são necessários 180 votos contra Johnson para retirá-lo do cargo.

    A predecessora de Johnson, Theresa May, passou por esse processo em 2018: os deputados apresentaram cartas suficientes para abrir uma votação de não confiança, mas May sobreviveu e continuou no cargo.

    Pelo menos no papel, derrotar um voto de não confiança fortalece um primeiro-ministro, já que outra votação do gênero não pode acontecer dentro de 12 meses. Mas, na prática, passar pelo processo, mesmo que o primeiro-ministro vença, tende a ser fatal. May deixou o cargo de primeira-ministra um ano depois de vencer o voto de não confiança.

    Um novo premiê

    Se Boris Johnson for retirado do cargo, o Partido Conservador decidirá o nome de seu sucessor ou sucessora. O ato não provocaria uma nova eleição parlamentar nacional, o que garante que todos os legisladores atuais mantenham seus cargos.

    O atual vice-primeiro-ministro é Dominic Raab, mas isso não significa que ele se torne primeiro-ministro automaticamente se Johnson cair.

    Em vez disso, o Partido Conservador lançaria o seu próprio e complicado processo para escolher um novo líder, com o chanceler, Rishi Sunak, e a secretária de Negócios Estrangeiros, Liz Truss, entre os principais candidatos.

    Cartas enviadas

    Apenas o líder dos conservadores, Graham Brady, sabe quantas cartas estão solicitando a iniciação do processo de retirada de Johnson.

    Parte da razão pela qual Brady tem sido presidente do Comitê de 1922 é sua discrição – ele nunca revela quantas cartas guarda em seu cofre.

    Mas a onda de rumores em Westminster cresceu muito nesta semana. A última notícia dá conta de que, um esforço dos seguidores fiéis de Johnson para reduzir a rebelião entre os novos deputados eleitos em 2019 deu muito errado, levando a uma nova leva de cartas para o Comitê de 1922.

    A chamada “conspiração da torta de porco”

    A imprensa britânica falou bastante sobre as especulações de que a deputada Alicia Kearns, eleita pelo distrito de Rutland e Melton, tenha organizado recentemente uma reunião de apoiadores conservadores descontentes com o cenário atual.

    O distrito da deputada é conhecido por ser o lar da famosa torta de porco Melton Mowbray. É provavelmente apenas uma coincidência estranha que “torta de porco”, ou “pork pie” em inglês, seja uma gíria cockney (oriunda da periferia de Londres) para “mentira” – justamente o que Boris Johnson é acusado frequentemente de fazer.

    * Sarah Dean, Niamh Kennedy e Amy Cassidy contribuíram para esta reportagem

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