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    Em 9 anos, Brasil cai de 3º a 10º em ranking de preferência de investimentos de CEOs

    Pesquisa anual da PwC mostra que apenas 4% dos CEOs globais consideram o Brasil um mercado estratégico em 2022

    Lucas Janone*, da CNN

    Somente 4% dos CEOs globais enxergam o Brasil como um dos mercados com o maior potencial de retorno econômico em 2022.

    A informação faz parte da pesquisa anual produzida pela consultoria PwC, divulgada nesta terça-feira (18), que contou com a participação de 4,4 mil executivos de grandes companhias espalhados por 89 países.

    Segundo o levantamento, o Brasil despencou no ranking de importância dos investidores estrangeiros ao longo dos últimos anos. Em 2013, o país ocupava a terceira posição entre os mercados mais cobiçados pelos CEOs globais. Já em 2022, o Brasil caiu para o décimo lugar entre os países com maior potencial de retorno financeiro na visão das companhias, sendo ultrapassado por Austrália e Canadá.

    Os principais mercados para os CEOs são os Estados Unidos, com 41% da intenção de investimentos por parte de empresas, e China com 27%. Em terceiro lugar aparece a Alemanha, principal economia da Europa, com uma intenção de 18% por parte dos executivos, destaca a pesquisa.

    A instabilidade macroeconômica aparece como a maior preocupação para as companhias que pretendem investir no mercado brasileiro. Sete em cada dez executivos temem uma insegurança econômica dentro do país, aponta o levantamento da PwC. Logo em seguida, os riscos cibernéticos surgem como a segunda maior ameaça no Brasil, visto com preocupação por 50% dos CEOs. A desigualdade social também preocupa ‘muito’ os investidores do país, de acordo com o estudo.

    O pesquisador e economista do Ibmec, Thiago Moraes, afirma que investir no Brasil está barato, atualmente, em função da desvalorização do Real, frente ao dólar. No entanto, segundo ele, as incertezas do país superam os benefícios cambiais.

    “Essa pesquisa mostra a importância que os fatores políticos e institucionais têm sobre a economia. Nós estamos em um período que a gente poderia ter uma conjuntura diferente, mas não é o que de fato acontece. Ninguém duvida que o Brasil tenha uma quantidade gigantesca de oportunidades. Mas vemos claramente que acontece uma deterioração da imagem externa do Brasil nos últimos anos. Mesmo com o Brasil estando barato, mesmo com todas essas oportunidades, a situação não é boa”, disse o economista Thiago Moraes.

    Fusões e aquisições

    Um dos setores que se mostram mais confiantes com uma retomada forte é o de private equity.

    Não é para menos: as fusões e aquisições bateram recorde em 2021 no mundo, com US$ 5,63 trilhões em volumes de negócios, de acordo com dados da consultoria Dealogic, alta de 63%.

    No Brasil, segundo levantamento realizado pela consultoria Duff & Phelps, houve crescimento de 52% entre janeiro e novembro.

    Não por acaso, a gestora Neo tem planos para dobrar o tamanho do seu fundo para aquisições de participações empresas.

    Se, hoje, a gestora possui R$ 500 milhões para o braço de private equity, Marcelo Cabral, presidente da Neo, acredita que pode chegar a R$ 1 bilhão captados até o fim do ano diante das oportunidades de mercado.

    Mas ele admite que tem sentido o estrangeiro muito receoso com o país. “Os investimentos na área foram bem, mas, dada a desvalorização cambial, os retornos não foram tão atraentes em relação ao risco quando você compara oportunidades em outros locais do mundo”, afirma Cabral.

    “Porém, pela nossa experiência, trata-se de algo cíclico.”

    Essa é uma opinião similar a que tem Marco Stefanini, presidente e fundador do Grupo Stefanini, um dos maiores da área de tecnologia do país. De acordo com o empresário, é um fato de que existe uma depreciação do Brasil nos últimos anos na visão do executivo estrangeiro, mas que ele acredita ser exagerada.

    “Eu penso da seguinte forma: o Brasil não era tão bom quanto falavam no começo da década de 2010 e não é tão ruim quanto falam hoje”, diz ele. “Precisamos tomar cuidado para relativizar essas análises, pois elas têm uma intensidade acima da realidade, tanto para cima quanto para baixo.”

    ESG

    Stefanini, contudo, também defende que o país faça um trabalho mais cuidadoso na questão ambiental. De fato, as causas ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) já estão norteando investimentos no mundo inteiro.

    E, segundo a pesquisa com presidentes feita pela PwC, cerca de 75% dos executivos afirmam que as métricas de negócios estão mais integradas com as estratégias de longo prazo das companhias.

    Porém, a história tem dois lados. Ao mesmo tempo que muitos profissionais sabem da importância, apenas 27% das empresas no país assumiram um compromisso de zerar as emissões de carbono ou aderiram a programas net zero.

    Para se ver o copo meio cheio, é um valor 5 pontos porcentuais acima da média global.

    “Por isso é uma notícia boa e ruim ao mesmo tempo. A ruim é que havia a expectativa de que o número fosse maior, mas a parte positiva é que existe um número crescente de empresas aderindo a essas causas”, diz Castro, da PwC.

    Uma delas foi a varejista Amaro. Em agosto do ano passado, a empresa decidiu neutralizar toda a sua emissão de CO2, estimada em 15 mil toneladas anuais, ainda em 2021.

    Mais do que isso, a empresa também criou uma espécie de guia para que outras empresas conheçam o tamanho da sua pegada de carbono e medidas para diminuir ou compensar o impacto.

    “Vivemos na empresa dois grandes movimentos que nos impulsionaram no tema: nosso time, formado, em sua maioria, pelas gerações Y e Z e nossas consumidoras, que são ativistas e atentos às causas ambientais”, diz Dominique Oliver, presidente da Amaro.

    Segundo uma pesquisa feita pela própria companhia, 64% das suas clientes afirmaram que gostariam de comprar de maneira mais sustentável.

    *Com Estadão Conteúdo

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