Israel se prepara para guerra aberta contra o Hezbollah no sul do Líbano
CNN percorre a zona de tensão e ouve múltiplos relatos sobre a quase inevitabilidade de uma escalada do conflito
O governo, os militares e a sociedade de Israel estão se preparando para uma cada vez mais provável guerra aberta contra o grupo militante xiita Hezbollah no sul do Líbano.
Desde o início da guerra com o Hamas, na Faixa de Gaza, o Hezbollah vem trocando ataques de intensidade relativamente baixa com as Forças de Defesa de Israel na zona de fronteira entre os dois países. O grupo libanês diz agir em “solidariedade” aos palestinos.
Mas a guerra pode escalar rapidamente para um conflito aberto, envolvendo grandes bombardeios pela Força Aérea de Israel, uma invasão da região sul do Líbano e um inevitável revide do Hezbollah –com os seus mais de 30 mil mísseis, um arsenal muitas vezes superior, em número e sofisticação, aos armamentos utilizados pelo Hamas nas atrocidades do dia 7 de outubro.
O próprio ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse na semana passada ao enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Amos Hochstein, que os contínuos ataques do Hezbollah vão forçar o seu governo a tomar uma decisão mais drástica sobre uma grande ação militar no sul do Líbano.
Este foi apenas mais um dos repetidos avisos israelenses, que exigem uma retirada total das forças do Hezbollah da região de fronteira, como foi estabelecido pela resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU.
A resolução pôs fim à última guerra entre os dois lados, em 2006, quando o Hezbollah concordou em retirar suas forças para o norte do rio Litani. O grupo xiita, no entanto, nunca cumpriu a determinação. E são justamente as suas forças especiais entre o rio e a fronteira que atacam e ameaçam seguidamente os militares e civis de Israel.
CNN percorre a zona de tensão
Viajando nos últimos dez dias por diversas cidades de Israel, ouvi muitos relatos de representantes do governo, militares, especialistas e da própria sociedade civil sobre a quase inevitabilidade da guerra.
O experiente jornalista Ehud Yaari, do canal 12 de TV, especialista nos conflitos do Oriente Médio, disse que a guerra vai acontecer mais cedo ou mais tarde. “Não é bom lutar naquela região nesta época do ano. Pode demorar semanas ou meses, mas o conflito vai acontecer”, disse.
Nas cidades do norte de Israel a tensão é palpável, assim como o desejo da população local de eliminar os riscos dos ataques do Hezbollah –que forçaram a retirada de cerca de 80 mil civis da região.
O kibutz Kfar Blum, que fica a menos de sete quilômetros da fronteira, está quase totalmente abandonado, mas reservistas do Exército e algumas famílias voltaram depois de cinco meses de guerra.
Lá, um reservista que lutou na guerra de 2006 falou de forma enfática à CNN sobre a “necessidade” de se escalar a guerra e derrotar o Hezbollah.
“Você gostaria que sua família e amigos vivessem num lugar que pode ser atingido a qualquer momento por esses terroristas?”, disse ele indignado.
Um colega dele, também reservista, foi ainda mais determinado.
“O risco do Hezbollah precisa ser eliminado. E será”, disse.
“Meu único arrependimento é não termos terminado o trabalho na guerra de 2006”, disse ele, batendo uma mão contra a outra numa demonstração de irritação contra o grupo xiita.
Menos de duas horas depois da visita, na noite de terça-feira (5), o kibutz foi bombardeado pelo Hezbollah, sem vítimas.
Sarit Zahavi, a presidente e fundadora do centro de pesquisas Alma, um centro de investigação e educação especializado nos desafios de segurança de Israel na sua fronteira norte, disse que uma ação militar contra o Hezbollah é inevitável caso o grupo continue mantendo seus militares na região de fronteira.
“Israel não quer a guerra. Já dissemos isso várias vezes. Mas estamos determinados a fazer com que os ataques de 7 de outubro nunca mais se repitam. Se for necessário enfrentar o Hezbollah para que isso nunca mais aconteça, assim o faremos”, disse ela.
Zahavi diz que, como moradora da região de fronteira, quer que sua família e amigos tenham paz e não precisem ser retirados da área nunca mais.
Representantes das Forças de Defesa de Israel e do governo também afirmaram que a guerra é inevitável, caso o Hezbollah não desarme o sul do Líbano.
O representante de um importante ministério isralense preferiu usar a expressão “opção militar” para se referir às possíveis soluções para a questão.
O Hezbollah, por sua vez, não dá nenhum sinal de que vai atender às demandas israelenses. Seu líder Hassan Nasrallah diz que o grupo vai continuar combatendo os israelenses e que só suspenderá os ataques se um cessar-fogo permanente com o Hamas acontecer.
Israel, no entanto, dá todas as pistas de que vai atuar para neutralizar o risco do Hezbollah. Muito provavelmente, pela força.