Meta de inflação precisa subir para evitar juro muito alto, diz ex-BC
Entre 2005 e 2018, a meta ficou estacionada em 4,5%, sendo cumprida com um resultado bem próximo apenas duas vezes, em 2007 e 2009
Para lidar com choque de alta nos preços e evitar uma queda mais forte na atividade econômica, o Banco Central (BC) terá que ajustar a meta de inflação para cima em 2022 e para alguns anos pela frente.
Esta é a avaliação de Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do BC, um dos autores do modelo de sistema de metas adotado no país em 1999.
A meta de inflação para este ano é de 3,50%, com intervalo de tolerância de 1,5pp para cima ou para baixo. O objetivo cai para 3,25% em 2023, e 3% em 2024, com a mesma banda de acomodação de choques inesperados.
Entre 2005 e 2018, a meta ficou estacionada em 4,5%, sendo cumprida com um resultado bem próximo apenas duas vezes, em 2007 e 2009.
“A redução das metas virou uma armadilha para que o BC possa cumprir seu mandato. Com uma meta cadente, o Copom tem de ser mais duro do que deveria (aumentando juros). Agora, quando há uma explosão como a que estamos vivendo agora, ele terá que ser ainda mais conservador. Uma situação excepcional que justificaria uma revisão das metas”, disse Sérgio Werlang em entrevista exclusiva à CNN.
Werlang vem chamando atenção para o risco de o país conviver com metas de inflação tão baixas, na casa dos 3%, sem ter feito a reforma administrativa, condição fundamental para promover redução contínua dos gastos públicos.
O custo para o crescimento do PIB seguirá sendo alto por causa de uma taxa de juros muito maior para evitar o descontrole dos preços.
“O argumento fiscal também é suficiente. Enquanto não houver equilíbrio consistente das contas públicas, a solução será o país ter mais inflação. Pode começar pelos salários dos servidores, fazendo com que o reajuste do funcionalismo seja feito apenas abaixo da inflação, já que não se pode demitir nem reduzir salários no setor público. Isso já ajudaria muito o Banco Central”, afirmou o ex-diretor do BC.
Sérgio Werlang, um dos autores pelo modelo de metas e responsável pela sua implementação em 1999, sugere que o objetivo de 2022 seja reajustado para 4,5% e para os próximos anos para 4%.
Ele lembra que a medida já foi tomada em 2003 e 2004 depois da crise de 2002, que levou IPCA a 12,5% naquele ano. A meta inicial para 2003 era de 3,25% e foi para 8,5% para evitar que taxa básica tivesse que subir até provocar uma recessão na economia.
“Só vamos ter meta menor depois de fazer a reforma administrativa. Antes disso não dá para ter corte de custos, então não dá para ter inflação tão baixa. Temos que mexer nisso para não virar uma bola de neve. Depois da reforma, aí sim podemos estabelecer 3% como meta de inflação de longo prazo”, argumenta Werlang.
O ex-diretor do BC ressalva que dá para manter as metas como estão antes da aprovação da reforma.
O Copom teria que “escolher um número um pouco acima da meta” e não ser purista com as regras do sistema. A coluna lembrou dos anos sob o mandato de Alexandre Tombini na presidência do BC de Dilma Rousseff, quando o objetivo da autoridade monetária passou a ser, não explicitamente, o chamado “teto da meta”, o indicador superior da banda de tolerância.
“Dá para fazer, mas não é perfeito. O BC chegaria a um número um pouco acima da meta e sobe os juros para garantir esse objetivo”, argumentou.
Perguntei sobre o risco de perda de credibilidade se o BC repetir o erro de reduzir a transparência da política monetária.
“O BC já perdeu um pouco desta credibilidade. Qual é o caminho mais rápido para recuperá-la? Eu não sei a resposta 100% certa, mas parece-me que a mais correta é alterar as metas de inflação e promover menor custo econômico para o país”, concluiu.