Centrão está ganhando, para a tristeza de Lula e de Bolsonaro
Cenário político é o melhor possível para os partidos que fazem jogo duplo na dinâmica de forças no Congresso
As articulações ocorridas nos bastidores no decorrer dos últimos dias evidenciam um movimento para lá de esperado: o Centrão se reposicionou politicamente.
Está mais forte. Ganhou terreno no Congresso – sua principal seara política – e demonstra um poder de fogo maior frente às forças em torno das quais orbita.
É uma notícia ruim tanto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
- Do lado governista, o grupo avança na esteira de uma articulação política que dá evidentes sinais de desgaste.
- No caso da oposição, o combustível principal são as investigações que cercam o ex-presidente.
É um cenário perfeito para legendas como o PP e Republicanos, partidos que aderiram ao governo Lula sem nunca terem tirado um pé da canoa bolsonarista. Interessa também a siglas como União Brasil e PSD.
Tem até quem fale em candidatura presidencial do Centrão em 2026. Mas, em geral, a tese custa a convencer. Porque o jogo dessa turma sempre teve o Legislativo como base.
Mas o fato é que líderes que integram esses e outros partidos de centro ganham projeção e exibem um poder crescente nas negociações do Congresso. Arthur Lira (PP-AL), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Davi Alcolumbre (União-AP). Só para citar alguns exemplos.
Do lado de Lula, a crise de articulação política atingiu um patamar sem precedentes, na avaliação de quem participa ativamente das conversas entre o Executivo e a base aliada. Prova disso, disse ao blog um importante líder do Centrão, é que Arthur Lira “colocou pressão e levou para casa tudo o que pediu”:
- Retirada da medida provisória da reoneração da folha,
- abandono da ideia de acabar o Perse (programa de incentivo ao setor de eventos),
- acenos para a bancada evangélica,
- recomposição de emendas parlamentares.
“Aqui para nós, chegamos no ponto em que o presidente precisar chamar um convescote com parlamentares para acalmar minimamente os ânimos”, diz um outro líder diretamente envolvido nas negociações, em referência aos happy hours organizados recentemente por Lula para receber deputados e senadores. Os encontros, aliás, também foram sugestão de Lira.
Não se trata de atacar a equipe de articulação política do governo, ressaltam essas mesmas fontes. Lula está absolutamente satisfeito com o trabalho do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. E também com a ajuda do chefe da Casa Civil, Rui Costa, nas conversas com o Congresso.
O problema, avaliam aliados do presidente, está na força do governo na relação frente à Câmara e o Senado. Falta capital político, admitem.
Mas, assim como Lula, Bolsonaro também sente na pele o fortalecimento do Centrão. Empenhado em preservar seu capital político, o ex-presidente assiste impaciente à movimentação de alguns dos partidos que já lhe prometeram fidelidade no passado. Afinal, PP e o Republicanos eram duas pernas do tal tripé de sua campanha de reeleição. E agora jogam em parte com o governo Lula.
Bolsonaro, segundo aliados, entende que precisa manter sua força política, mesmo impedido de disputar eleições. E é em parte por isso que ele se empenha em reivindicar o crédito pela eleição daqueles que chegaram às urnas pela sua mão. Quer que aqueles que chegaram ao poder com a sua ajuda retribuam o favor.
É o caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo. Bolsonaro cobra constantemente o aliado por provas de fidelidade. E o faz porque sabe que tem gente querendo puxar o governador em outra direção.
Pelo menos no discurso, Tarcísio prometeu casar de papel passado e aderir ao PL. Mas, no Republicanos, ainda tem muita gente duvidando que ele vá de fato se filiar ao partido do ex-presidente.
O motivo: pode ser mais interessante para Tarcísio escolher outro caminho lá na frente. “Eu vi a promessa. Quero ver cumprir”, ironiza um colega de partido do governador.