Vítimas do incêndio em Nova York morreram por inalação de fumaça, diz legista
Dezessete pessoas faleceram após um prédio residencial no distrito do Bronx ter pegado fogo no último domingo
De acordo com o Gabinete do Médico Legista-Chefe da Cidade de Nova York (OCME), todas as 17 vítimas do incêndio em um prédio de apartamentos no Bronx no último domingo (9) morreram por inalação de fumaça.
A forma da morte foi determinada como “acidente” para todos eles, disse a diretora de relações públicas do Gabinete, Julie Bolcer.
As investigações descobriram que um aquecedor elétrico provocou um incêndio em um apartamento duplex, fazendo com que todo o prédio de 19 andares fosse tomado pela fumaça. Os bombeiros disseram que a fumaça conseguiu se espalhar porque a porta daquele apartamento e a porta da escada para o 15º andar foram deixadas abertas, embora as portas deveriam fechar automaticamente.
Alguns moradores do prédio que sobreviveram ao incêndio puderam retornar aos apartamentos do último andar, disse o Gerenciamento de Emergências da Cidade de Nova York (NYCEM) à CNN nesta terça-feira (11).
“Alguns moradores agora podem voltar aos apartamentos que ficam nos andares superiores”, disse a porta-voz Ines Bebea. “O processo está em andamento e evoluindo.”
As autoridades não divulgaram um cronograma de quando ou quantas pessoas entrarão novamente no prédio, já que a administração do edifício está notificando os moradores individualmente e “não está com pressa em levar as pessoas de volta para seus apartamentos”, disse Bebea.
Os registros do Departamento de Edifícios da cidade de Nova York mostram que, até esta terça-feira (11), o prédio está listado com uma Ordem de Desocupação Parcial após uma inspeção de estabilidade estrutural ter sido realizada na segunda-feira (10).
O retorno de alguns moradores ocorre no momento em que as autoridades buscam soluções de longo prazo para garantir que uma tragédia semelhante nunca mais aconteça.
“Os dois valores que mais importam para todos nós são nossa família e nossos lares, e perder ambos numa única tragédia é aterrorizante e traumático de uma forma que poucos de nós podem imaginar”, disse o deputado Ritchie Torres, que representa a área onde o incêndio ocorreu, à CNN.
Oito crianças estavam entre as 17 vítimas do incêndio de domingo. Um levantamento da CNN com os hospitais locais mostra que pelo menos oito pacientes ainda estão hospitalizados, enquanto pelo menos 25 pessoas foram tratadas e liberadas.
Problemas com alarmes de fumaça e portas
No momento, as portas do prédio e os relatórios sobre os alarmes de fumaça com defeito são o foco da investigação.
As condições da estrutura também serão um ponto importante para uma força-tarefa de líderes federais, estaduais e locais que dizem estar focados em políticas e leis que possam evitar mais tragédias.
Torres anunciou a força-tarefa na segunda-feira ao lado da presidente do distrito do Bronx, Vanessa Gibson, e dos membros do conselho municipal Oswald Feliz e Pierina Sanchez.
“Existem problemas subjacentes que enfrentamos diariamente com alarmes de incêndio, sistemas de chuveiros hidráulicos, saídas de emergência, aquecimento, água quente e outras necessidades básicas que todos os moradores e inquilinos da cidade de Nova York devem ter”, disse Gibson.
O foco em uma nova legislação é parte de um plano de quatro frentes dos líderes, que também inclui garantir moradia permanente para aqueles cujas unidades foram destruídas, para que os deslocados possam retornar às suas unidades o mais rápido possível e fornecer todos os serviços necessários para os afetados.
Além de analisar as leis de Nova York que exigem portas de fechamento automático, Torres disse que o grupo também investigará se os atuais requisitos mínimos de aquecimento são suficientes. O aquecimento do prédio do Bronx parecia estar funcionando, disse Torres, mas os moradores ainda sentiam a necessidade de usar aquecedores elétricos em seus apartamentos para se aquecer.
Construído em 1972, o edifício foi financiado pelo governo federal, então pode ter sido construído fora do código de incêndio da cidade de Nova York, disse o porta-voz dos bombeiros Daniel Nigro no domingo, acrescentando que é improvável que isso tenha sido um fator determinante na causa do incêndio.
Em uma entrevista coletiva na segunda-feira, representantes do Sindicato dos Bombeiros de Nova York confirmaram que o prédio não era obrigado a aderir aos códigos de incêndio da cidade.
“Temos que deixar claro na lei federal que empreendimentos federais, empreendimentos regulamentados e subsidiados pelo governo federal, devem estar sujeitos a códigos de incêndio locais, códigos de habitação e de construção. Todo americano deve ter acesso a moradias seguras e acessíveis, incluindo moradias protegidas contra incêndios”, afirmou Torres à CNN.
Sobreviventes lutaram contra coluna de fumaça
Moradores do prédio de 120 apartamentos disseram que os alarmes de incêndio no prédio geralmente falhavam, então, quando soaram no domingo de manhã, Daisy Mitchell disse à CNN que “não se importou”.
No entanto, o marido de Mitchell começou a sentir cheiro de queimado em sua unidade no décimo andar, e então encontraram uma coluna de fumaça quando saíram do apartamento para ver o que estava acontecendo.
“Fui para as escadas, abri a porta, e a fumaça me jogou para dentro de casa”, acrescentou. “Se eu tivesse ficado lá por mais três segundos, eu teria morrido também.”
Karen Dejesus mora no mesmo andar do primeiro apartamento que pegou fogo e disse que as chamas invadiram a sua residência.
“Eu conseguia ver as chamas, eu conseguia ver a fumaça e tudo estava entrando no meu apartamento”, disse Dejesus.
Dejesus disse que os bombeiros arrombaram a porta de seu apartamento para resgatá-la, junto com sua neta e seu filho. Eles tiveram que pular por uma janela para escapar das chamas.
Ela também relatou que os alarmes de incêndio no prédio frequentemente disparavam sem que realmente houvesse fogo no local.
“Muitos de nós estávamos acostumados a ouvir o alarme de incêndio disparar, então era como algo natural para nós”, disse ela. “Só quando eu realmente vi a fumaça entrando pela porta que percebi que era um incêndio real e ouvi pessoas gritando socorro, socorro, socorro.”
Mamadou Wague, outro morador do prédio, disse que foi acordado no domingo de manhã pelo som de seus filhos gritando: “Fogo! Fogo!”
Wague mora no terceiro andar do prédio com seus oito filhos, que têm entre 6 meses a 18 anos de idade.
Sua família não conseguiu fugir do prédio porque havia muita fumaça, disse ele. Aterrorizados, eles esperaram no apartamento de um vizinho, colocando toalhas molhadas embaixo das portas, até que os bombeiros chegaram 15 a 30 minutos depois para escoltá-los pelas escadas.
Wague, um motorista de Uber do Mali que imigrou para os Estados Unidos em 2000, disse que o fogo queimou todos os pertences de sua família.
“Tudo se foi no meu apartamento”, disse ele. “Tudo se foi.”
A Cruz Vermelha forneceu alojamento de emergência para 22 famílias, acolhendo 56 adultos e 25 crianças, disse o grupo em um comunicado.
“Preocupado e devastado”
As autoridades ainda não divulgaram os nomes daqueles que morreram, mas as pessoas que ainda não tiveram notícias de seus entes queridos já esperam pelo pior.
Yusupha Jawara contou à CNN que está tentando falar com seu irmão e cunhada desde que soube do incêndio, mas eles não estão atendendo aos telefones.
“Estou totalmente preocupado e devastado. Não só eu, mas toda a nossa comunidade e a família em geral. Todo mundo está preocupado. Não sabemos o que aconteceu… Essa é a coisa mais difícil, não saber de nada”, disse Jawara.
Nfamar Kebe afirmou que pelo menos um de seus parentes morreu no incêndio, e que o filho de 2 anos de seu sobrinho está hospitalizado lutando por sua vida.
Mas Kebe, que veio da Guiné para os Estados Unidos há 35 anos, disse que o prédio abriga muitos imigrantes da África Ocidental que se tornaram parte de sua família.
“Somos uma comunidade”, diz ele. “Quando nos encontramos aqui, somos a mesma família.”
Muitos dos que estavam no prédio eram imigrantes muçulmanos vindos da República da Gâmbia, país da África Ocidental. O embaixador do país disse à CNN que o prédio foi um lar amado por muitos desses imigrantes ao longo dos anos.
“Acredito que muitos gambianos que vieram para cá ficaram naquele prédio antes de se mudarem para qualquer outro lugar”, disse o embaixador Dawda Docka Fadera. “Ele foi uma espécie de primeiro ponto da escala. É um edifício ao qual os gambianos têm muito apego”, concluiu.