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    BC cita commodities e crise hídrica para justificar estouro da meta de inflação

    IPCA fechou o ano de 2021 a 10,06%, superando o teto estabelecido de 5,25%

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business em São Paulo

    O Banco Central enviou uma carta, nesta terça-feira (11), ao Conselho Monetário Nacional (CMN) após a divulgação de que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o índice oficial de inflação do país, encerrou 2021 a 10,06%, resultado bem acima do teto da meta de 5,25%.

    Assinada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelo procurador-geral do BC, Cristiano Cozer, o documento elenca a pressão sobre o preço das commodities, a bandeira de energia elétrica de escassez hídrica e os gargalos nas cadeias produtivas globais como os principais responsáveis para a inflação ter encerrado o ano passado em dois dígitos.

    “As pressões sobre os preços de commodities e nas cadeias produtivas globais refletem as mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens e impulsionada por políticas expansionistas”, diz o texto.

    “De fato, a aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes”, acrescentou a entidade.

    Campos Neto também apontou os principais “vilões” para a inflação ter encerrado 2021 tão acima do estipulado.

    O presidente do BC mostrou que os preços de gasolina, gás de botijão e energia elétrica residencial subiram 47,49%, 36,99% e 21,21%, respectivamente. Somados, eles representam 3,72 pontos percentuais da inflação de 10,06%.

    O preço do etanol subiu 62,24%, acima dos demais combustíveis, refletindo também a quebra na safra de cana-de-açúcar. Esse aumento contribuiu 0,41 ponto percentual para a variação do IPCA.

    Abaixo dos combustíveis, os componentes que mais alavancaram a inflação foram os bens industriais (e 2,75 p.p.) e de alimentação no domicílio (1,25 p.p.), e a alta dos preços de serviços de 4,75%, que contribuíram 1,72 p.p. para o índice negativo.

    “O principal fator para o desvio de 6,31 p.p. da inflação em relação à meta adveio da inflação importada, com contribuição de 4,38 p.p., cerca de 69% do desvio”, afirmou Campos Neto.

    Segundo o comunicado, a crise nas cadeias produtivas globais tiveram forte impacto na inflação mundial, e não somente na que assola o Brasil.

    “As cadeias produtivas globais apresentaram importantes gargalos ao longo de 2021, como esgotamentos de estoques de insumos, escassez de semicondutores e aumentos de prazos de entrega e de preços dos fretes internacionais”, diz a carta.

    “Pelo lado da demanda, as mudanças significativas no padrão de consumo causaram aumento da procura por bens industriais. Ao mesmo tempo, a oferta não reagiu tempestivamente em ritmo suficiente para atender à nova demanda”, acrescenta.

    Atualmente, a Taxa Selic está a 9,25% ao ano, após elevações progressivas do Copom para frear a inflação em 2022. As projeções para este ano rondam a casa dos 5%, com pequenas variações para cima ou para baixo, mas ainda superior à meta de 2022 do governo, de 3,5%, e rondando o teto, de 5%.

    Vale ressaltar que o CMN, órgão ao qual a carta do BC foi endereçada, é quem define as metas de inflação e tem como chefe o ministro da Economia, Paulo Guedes.

    O conselho é composto ainda pelo presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto) e pelo secretário Especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Pedro Colnago Junior.

    *Havia uma informação incorreta no primeiro parágrafo desse texto, com 3,75% como teto da meta de inflação. Esse é o centro da meta de 2021. O teto é de 5,25%.