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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Empreendedor, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019

    Qual faculdade fazer em tempos de IA generativa?

    Essa é a pergunta que muitos jovens e, principalmente, muitos pais de jovens têm se feito cada vez mais; e a resposta ainda é um tanto quanto nebulosa

    Eu nem me animo tanto a falar nas minhas palestras sobre ferramentas específicas de inteligência artificial. E o motivo é muito simples: se eu fizer isso, a palestra que eu fiz na semana passada já não vale mais pra essa semana, dada a quantidade de ferramentas novas que tem saído o tempo todo no mercado. A gente, claramente, está vivendo uma nova revolução industrial, e isso está deixando muita gente cada vez mais perdida e quase desesperada quanto ao futuro das profissões.

    Eu não tenho medo do que vem acontecendo, muito pelo contrário. Confesso que eu fico um pouco ansioso, com um pouquinho de FOMO, que é o tal do “fear of missing out“, um termo em inglês que a galera usa quando tem esse receio de estar sempre perdendo alguma coisa, de estar sempre desatualizada. Nos dias de hoje me espanta quem não sente pelo menos um pouco disso.

    Mas, quando a gente foca em algumas dessas IAs, e pelo menos lê a respeito para entender com uma visão mais global o movimento que vem acontecendo, fica mais fácil olhar para o futuro com um olhar mais otimista (ou menos pessimista).

    É por isso que eu prefiro falar sempre sobre o conceito desse movimento, e não necessariamente sobre as plataformas em si. Primeiro, a gente tem que entender de uma vez por todas que inteligência artificial, de maneira geral, não é uma coisa nova.

    Os primeiros estudos que começaram a falar disso em termos tecnológicos são dos anos 40 e 50… sim, coisa de 80 anos atrás. Foi quando pesquisadores gringos deram os primeiros passos para construir as primeiras redes neurais, sistemas que ensinavam as máquinas (que, mais tarde, virariam os computadores de hoje) a solucionar problemas usando a mesma lógica de “raciocínio” do cérebro humano. E durante muito tempo o conceito de IA foi esse… resolver problemas.

    O que a gente tem visto agora é bem diferente. Recentemente, a inteligência artificial ganhou uma palavra que muda totalmente o jogo: a IA agora é “generativa“. Isso quer dizer que ela já está mais que madura nessa história de usar as redes neurais para aprender a cruzar informações, e não mais só resolver problemas dentro de padrões pré-programados, mas “criar” muitas vezes para além daquilo que foi pedido inicialmente.

    Estão cada vez mais surpreendentes, em termos de detalhes “criativos”, os resultados de vídeos feitos a partir de comandos simples de texto. Isso é assustador, mas é compreensível.

    Quem acha que esse tipo de resultado vai tomar a vaga de trabalho de um criador de vídeos digitais está certo em partes: isso só vai acontecer com quem não se atualizar minimamente.

    Pensa comigo. Um criador de vídeos digitais que demoraria dias para produzir um vídeo de poucos segundos agora consegue fazer isso em minutos ou segundos com uma plataforma moderna. Se ele aprendeu lá atrás a fazer esses vídeos do jeito mais raiz, ele, melhor do que ninguém, vai saber refinar o resultado que uma IA trouxer.

    Se ele aprende essa lógica e domina as novas ferramentas com o conhecimento prévio que já tem, isso tudo vai fazer o trabalho dele escalar exponencialmente. Se antes ele levava dias para entregar um vídeo finalizado, agora ele vai entregar vários vídeos finalizados em um dia. Mas, pra isso, ele tem que entender bem essa lógica, em vez de querer brigar com ela.

    Outra coisa, para a IA, vale muito aquela máxima de que “nada se cria, tudo se copia”. Todos os resultados que essas plataformas trazem são a média do que está na internet, do que elas aprenderam com o que viram. É sempre a média. Ou seja, usar o trabalho das novas IAs como fim, e não como meio, é o mesmo que se contentar com o que é mediano. O que essas ferramentas trazem pode ser surpreendente agora que tudo isso é novidade. Mas, logo, logo, quando absolutamente todo mundo tiver usando, esse tipo de entrega vai ser a coisa mais comum do mundo.

    A partir daí, se destaca quem sai da curva, e é a inteligência natural do ser humano que consegue esse tipo de sinapse. É por isso que eu usei agora há pouco os termos “criar” e “criativos” entre aspas quando se fala em inteligência artificial, porque essa barreira da criatividade real ainda existe.

    Mão robótica representando a inteligência artificial
    Aprender a lógica e dominar as novas ferramentas de IA pode ser trunfo no mercado de trabalho / Pexels

    Diante de todo esse cenário, eu te pergunto: vale a pena escolher um curso universitário ou uma profissão que vai ensinar algo que uma ferramenta consegue fazer em segundos? Ou faz mais sentido estudar conceitos, carreiras mais generalistas para deixar o específico para tecnologia?

    Um exemplo muito claro é a gigantesca demanda por programadores que a gente tem visto no mundo todo com a necessidade de criação de tantos apps, tantos sistemas. O Google diz que só o Brasil vai precisar de mais de meio milhão desses profissionais até o ano que vem.

    O jovem que vê isso hoje pode decidir entrar em uma faculdade de programação para se aproveitar dessa demanda. Mas quem entende minimamente o conceito de tudo que está rolando se questiona se, daqui a quatro anos, no momento da formatura desse jovem, as IAs já não vão estar fazendo esse trabalho com o pé nas costas. Eu acredito que sim!

    O momento é complexo, não sei se eu iria querer ser um jovem de 17 anos tendo que decidir meu futuro profissional nesse contexto. Mas se eu fosse, eu estaria MUITO esperto no que vem acontecendo. E tentaria escolher algo que me fizesse dominar a arte de comandar IAs para escalar os meus resultados. Juntar-se a elas não é uma opção… é o único caminho tanto pra quem quer entrar no mercado quanto pra quem já está nele.