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    Clarissa Oliveira
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    Clarissa Oliveira

    Viveu seis anos em Brasília. Foi repórter, editora, colunista e diretora em grandes redações, como Folha, Estadão, iG, Band e Veja

    Lira conseguiu o que queria de Lula e a próxima fatura está aberta

    Trégua entre Executivo e Câmara foi selada, mas governo agora terá de lidar com os desdobramentos dessa negociação

    A relação entre o governo federal e a Câmara dos Deputados está pacificada. Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encarregou de atender aos últimos de muitos pleitos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

    Era uma lista extensa, colocada sobre a mesa na véspera do Carnaval em clima de “vai ou racha”.

    Somente desde a volta do feriadão, Lula e sua equipe de articulação política:

    • engoliram a seco a ideia de um cronograma de execução de emendas parlamentares,
    • retiraram de tramitação a medida provisória da reoneração da folha de pagamentos,
    • recuaram da ideia de extinguir de uma vez só o Perse – programa de incentivo ao setor de eventos,
    • e prometeram não impor obstáculos ao aumento das isenções a templos religiosos.

    Lira está feliz. Anda para lá de bem-humorado, segundo pessoas próximas a ele. Não é por menos.

    Afinal, ele avalia que o governo tem dado sinais de que está disposto a mudar a forma como se relaciona com o Congresso.

    Sem contar que Lira ainda conseguiu algumas cerejas em cima do bolo. Obteve, por exemplo, a garantia de que Lula vai parar de meter o bedelho na sucessão pela presidência da Câmara.

    Foi assim que aliados do presidente da Câmara leram a notícia de que os dois se comprometeram a apoiar um nome em comum para comandar a Casa na próxima legislatura.

    Outro movimento que foi visto como um agrado explícito do Planalto a Lira foi o fato de Renan Calheiros (MDB-AL) ter ficado fora da relatoria da CPI da Braskem.

    Os grupos de Lira e Renan são adversários na política alagoana. E a crise envolvendo a companhia serve há tempos de combustível para a briga eleitoral no Estado. A relatoria de uma CPI que demandou tanto esforço do clã Calheiros para sair do papel não é pouca coisa.

    Seja como for, caberá agora a Lula lidar com os desdobramentos de toda essa negociação.

    Os senadores, que assistiram à distância a tantos afagos à Câmara, tendem a esperar tratamento semelhante. Afinal, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), vinha jogando junto com o Planalto.

    Lula também sabe que não haverá alinhamento automático da base de Lira aos interesses do Planalto. Vai ser necessário negociar mais. Sim, Arthur Lira, na visão do Palácio do Planalto, tem sua própria base.

    Carrega consigo os votos de muitos parlamentares nos mais variados partidos. E tem, sozinho, poder de decidir o rumo de votações. E seu passe agora está valorizado.

    Como disse o próprio Lira nas conversas reservadas após a reunião que teve lá atrás com Lula: “A relação está zerada”.

    E uma fonte próxima ao presidente da Câmara explica: “Zerado quer dizer que não tem crédito. Tudo o que vier daqui para frente entra numa conta nova”.