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    Balaclava: por que um acessório do exército do século 19 dominou as redes sociais

    Gorro que cobre parte do rosto e pescoço era usado por soldados durante a Guerra da Crimeia; acessório virou tendência no fim de 2021

    Leah Dolanda CNN

    Dê uma olhada no Instagram, TikTok ou Pinterest de usuários do hemisfério norte neste inverno e você verá milhares de jovens rostos emoldurados dentro do que parece uma meia de malha grande demais. A balaclava, às vezes chamada de máscara de esqui ou gorro de ninja, tornou-se um item de vestuário obrigatório, entrando na corrida para reivindicar seu posto entre as tendências de moda de 2021.

    Normalmente feito de lã, mohair ou algum tipo de fio têxtil, o gorro tem abertura do tamanho do rosto ou apenas dos olhos. No TikTok, no momento em que este artigo foi escrito, havia 102,6 milhões de vídeos com a hashtag “#balaclava, enquanto outras 248 mil pessoas no Instagram postaram sobre o acessório incomum.

     

     

     

    “Os recentes designs de balaclava, de nomes como Stella McCartney até os que estão à venda na Zara, estão alimentando a demanda de todas as idades”, disse Jessica Payne, chefe de moda do Pinterest. Ela observou que as pesquisas por balaclavas aumentaram 230% desde o início de novembro.

    Em Paris, fashionistas adotaram o balaclava como acessório indispensável neste inverno / Getty Images

    O acessório se tornou um queridinho do inverno, em parte por causa de sua conveniência em um mundo que exige máscara. “Acho que (a tendência é) 90% devido ao fato de que as pessoas estão mais confortáveis agora com parte do rosto coberta”, comentou um usuário do TikTok. “Essa tendência se encaixa muito bem na pandemia”, concordou outro.

    Mas as balaclavas também foram um dos pilares da passarela este ano, desde a máscara quadriculada alucinatória do falecido Virgil Abloh, até o toque vanguardista de Givenchy, com chifres de diabo tricotados.

    Os fashionistas mais atentos também podem se lembrar do acessório do desfile de Miu Miu, na semana de moda de Paris em março passado, onde ela apareceu junto com vestidos justos e botas de neve contra o papel de parede das montanhas Dolomitas da Itália.

    As balaclavas também apareceram em coleções recentes de Moschino, Balmain, Marine Serre e Raf Simmons antes de alcançarem marcas como Urban Outfitters e Weekday.

    Mas nem todas as reinvenções da máscara de esqui foram bem-sucedidas. Em 2019, a Gucci retirou seu polêmico “suéter balaclava” e emitiu um pedido de desculpas, após críticas afirmarem que o design nas cores preto e vermelho assemelhava a uma blackface (prática de pintar o rosto de preto para imitar a cor da pele de uma pessoa negra).

    Desfile da coleção masculina da Louis Vuitton durante a Paris Fashion Week, em junho / Getty Images

    Estilo pós-soviétivo

    Então, de onde veio a balaclava e como ela cativou a imaginação de alguns dos maiores designers da indústria?

    Historicamente, a balaclava é frequentemente associada às táticas de guerra do que a tendências de passarela. Essas máscaras levam o nome da cidade portuária ucraniana de Balaclava, cenário de uma batalha em 1854, durante a Guerra da Crimeia, onde tropas britânicas e irlandesas foram enviadas para lutar contra soldados russos em condições de congelamento.

    A disposição durante a guerra estava baixa, até porque o exército do Reino Unido chegou com nada além de seu uniforme de verão surrado. Quando a notícia dessa escandalosa falta de equipamentos chegou no Reino Unido, as mulheres britânicas começaram a tricotar gorros que cobriam todo o rosto de seus homens para despachá-los ao quartel.

    Desde então, o gorro tricotado se tornou um símbolo da milícia do Leste Europeu, depois de ser usado por manifestantes separatistas pró-Rússia para evitar serem reconhecidos. Para muitos, esses gorros são considerados uma marca de comportamento ameaçador e anticonformista, mas nos últimos anos, foram feitas conexões mais extravagantes facilmente encontradas, com versões em multicoloridas e tricotadas em formato de orelhas de coelho.

    Mas a balaclava é apenas um exemplo de inspiração de moda recentemente tirada do bloco leste. Em 2017, a jovem designer russa Gosha Rubchinskiy foi considerada um dos nomes mais empolgantes da moda masculina por seus designs reimaginarem a cultura jovem pós-soviética: conjuntos de treino minimalistas e esparsos com nada além de grandes logotipos de marcas dos anos 90 (pense em FILA e Kappa) e frases cirílicas.

    De acordo com Rachel Tashjian, crítica de moda da GQ, a bolha da balaclava provavelmente começou por volta dessa época, em 2018, graças à grife de streetwear de luxo Vetements, co-fundada pela designer georgiana Demna Gvasalia (conhecida como Demna), que também lidera a direção criativa da Balenciaga – no Met Gala neste outono, Demna vestiu Kim Kardashian West com um body preto e uma máscara que cobria o rosto todo também preta. Na época, a Vetements lançou uma coleção de acessórios com balaclavas militantes e lenços de seda floridos enrolados em bonés de beisebol.

    Era “o estilo do leste europeu com um atraso de 20 anos”, disse Tashjian por e-mail. “A atitude da coleção era em partes ameaçadora e outras parecidas com a de uma vovó, como um resultado da reconstrução das roupas de mercado de pulgas de outros tempos tornando-se algo novo”.

    Demna Gvasalia e Kim Kardashian surgiram no Met Gala, em setembro, com seus rostos totalmente escondidos / WireImage

    Não há como negar que estamos experimentando um ressurgimento da apreciação do estilo eslavo, com pesquisas pela frase “estética russa” alcançando o pico no Pinterest, no Reino Unido, apenas na semana de 7 de dezembro.

    A nostalgia da cultura pós-soviética também cresceu nas redes sociais nos últimos dois anos. A hashtag #sovietaesthetic tem 4,7 milhões de visualizações no TikTok, repleta de vídeos de jovens adolescentes romantizando a arquitetura brutalista e imaginando um ambiente melancólico de vida após a queda da URSS.

    Muitos dos vídeos foram marcados pelo trio de synth-pop bielorrusso Molchat Doma, que em 2020 alcançou a fama quando sua música se tornou viral no aplicativo da noite para o dia.

    Quanto ao gorro de malha volumoso que atualmente mantém como refém o seu feed do Instagram, ele pode ainda permanecer num futuro próximo. De acordo com a influenciadora e antecipadora de tendências do TikTok, Mandy Lee, ele atende a vários requisitos, desde a “tendência acessível” do faça você mesmo tricotando, até parecer “apocalíptico” ou “glamoroso”, dependendo de como é estilizado, disse ela em um vídeo no aplicativo. Também é altamente funcional com um gorro e cachecol de inverno, acrescentou ela, o que pode ajudar a estender a vida útil dele.

    “Normalmente, tendências que servem a um propósito acabam durando mais”, comentou ela, acrescentando: “A balaclava me deixa muito animada”.

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