Especialista vê prejuízo à imagem do Santos com ida de Robinho ao CT e foto com jogador
Fernando Fleury, PhD em Comportamento de Consumo, analisa a presença de ex-jogador nas dependências do clube
Qual é o prejuízo para a imagem de um clube de futebol quando tem sua imagem associada a um condenado por estupro?
Quando Robinho, condenado por agressão sexual em estupro coletivo na Itália, comparece a um churrasco no Centro de Treinamento do Santos Futebol Clube, e um jogador do elenco atual publica uma foto com ele, com o escudo do clube ao fundo, o clube está sendo exposto de alguma forma?
Durante o CNN Brasil Novo Dia desta quarta-feira, 28 de fevereiro, perguntei ao presidente do Santos, Marcelo Teixeira, se ele via prejuízo à imagem do clube. Ele reforçou que não houve convite oficial da instituição para que Robinho participasse de um churrasco comemorativo. “Ele (Robinho) foi ao CT com seu filho para exames médicos e o Léo (ex-jogador e diretor das categorias de base do Santos) levou para cumprimentar algumas pessoas”, argumentou.
Sobre a foto feita por Pedrinho com Robinho, o dirigente afirmou: “Não vejo nenhum prejuízo à imagem do clube, que deve separar um ídolo esportivo de sua vida pessoal”.
Fernando A. Fleury, PhD em Comportamento de Consumo e CEO da Armatore Market + Science, pensa diferente: “Ter uma pessoa condenada nas dependências do clube, mesmo que seja um ídolo — e aí fica uma questão: será que ele ainda é um ídolo? — mancha a imagem do clube”.
Fleury acrescenta que a presença de Robinho é prejudicial ao próprio filho, que joga nas categorias de base do Santos, e com quem ele foi ao CT. “Além de ser comparado com o pai na questão do futebol, será cobrado na questão comportamental. Essa exposição não é boa para o garoto, e é péssima para o clube”.
Um aspecto ressaltado pelo especialista é a postura adotada pelo Barcelona como instituição no caso de Daniel Alves, condenado por agressão sexual na Espanha. “Daniel Alves foi excluído da lista das 102 lendas do Barcelona após o veredito de que estuprou uma mulher”.
No Brasil, o Bahia retirou a imagem de Daniel Alves do museu do clube, inaugurado em 2022.
Robinho foi condenado a pena de nove anos de prisão pela Justiça italiana por crime de estupro coletivo. A sentença foi proferida pela mais alta corte da Itália e não cabe mais recurso. Antes de o julgamento ser concluído, o atleta retornou para o Brasil.
Existe um tratado de extradição entre Brasil e Itália, mas a Constituição Brasileira não permite a extradição do brasileiro nato (artigo quinto, inciso 51). Como considera que há risco de fuga, a Justiça brasileira pediu que Robinho entregasse seu passaporte, o que ele fez. Existe um mandado de prisão expedido contra ele pela Interpol que abrange mais de cem países onde ele pode ser preso.
A Itália pediu ao Brasil a homologação da sentença proferida em seu território. O Ministério Público Federal já se manifestou favorável, mas a competência para a decisão é do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O julgamento da questão ainda não foi pautado pelo STJ. A lei que permite a homologação é a Lei da Migração, de 2017 (posterior à condenação definitiva de Robinho na Itália), em seu artigo 100.
A defesa de Robinho argumenta que se a lei é posterior à condenação ela não pode retroagir para “prejudicar” o réu. A discussão envolve interpretações das leis por especialistas. Uma delas prevê o uso do princípio da personalidade ativa. O processo teria que ser reaberto no Brasil, dentro das diretrizes das leis brasileiras. O crime pelo qual Robinho foi condenado na Itália prescreve somente em 2033.