Morar perto de bares e restaurantes fast-food pode ser ruim para o coração
Estudo feito no Reino Unido sugere que a proximidade com esses locais pode estar associada à insuficiência cardíaca
Morar perto de estabelecimentos como pubs, bares e restaurantes fast-food pode ser ruim para a saúde do coração. É o que indica uma nova pesquisa publicada nesta terça-feira (27), no periódico Circulation: Heart Failure, da Associação Americana do Coração.
O estudo sugere que a maior proximidade com esses estabelecimentos pode estar associada a um risco aumentado de desenvolver insuficiência cardíaca. Para Lu Qi, autor sênior da pesquisa, isso pode estar relacionado ao fato de pubs, bares e restaurantes venderem alimentos e bebidas não saudáveis e que têm sido atrelados a doenças cardiovasculares.
A insuficiência cardíaca é uma condição caracterizada pela dificuldade do coração em bombear sangue suficiente para suprir as necessidades do corpo. Os sintomas podem incluir falta de ar durante a atividade física ou ao se deitar, tosse, inchaço dos pés e tornozelos, fadiga, fraqueza, pulso irregular ou rápido e dificuldade para dormir.
Entre os principais fatores de risco para a insuficiência cardíaca estão a hipertensão, diabetes e consumo de álcool, além de condições anteriores, como ataque cardíaco, doença arterial coronariana, cardiopatias e arritmia.
Como o estudo foi feito?
Para realizar o estudo, os pesquisadores utilizaram dados disponíveis no UK Biobank (base com informações de mais de 500 mil adultos do Reino Unido, com idades entre 37 e 73 anos). A partir disso, mediram a exposição dos inscritos no banco a três tipos de estabelecimentos alimentícios: pubs, bares e restaurantes ou cafeterias fast-food.
A exposição foi determinada pela proximidade com esses lugares — viver dentro de um raio de 1 quilômetro deles ou à distância de 15 minutos andando — e pela densidade — número de estabelecimentos de comida pronta para consumo dentro do limite de 1 quilômetro.
Durante o período de acompanhamento de 12 anos, o estudo documentou quase 13 mil casos de insuficiência cardíaca, registrados através de dados eletrônicos nacionais relacionados à saúde.
De acordo com o estudo, a maior proximidade e a densidade de pubs, bares e restaurantes fast-food estavam associados a um risco elevado de insuficiência cardíaca. Os resultados mostraram que:
- Os participantes na maior densidade de pontos de venda de alimentos prontos para consumo tiveram um risco 16% maior de insuficiência cardíaca em comparação com quem não tinham esses estabelecimentos perto de suas casas;
- Aqueles nas áreas com maior densidade de pubs e bares tinham um risco 14% maior de insuficiência cardíaca, enquanto os que estavam nas áreas de densidade maior de lojas fast-food tinham um risco 12% maior;
- Os participantes que viviam mais próximos de pubs e bares (menos de 500 metros) tinham um risco 13% maior de insuficiência cardíaca e os que viviam próximo de lanchonetes, 10% maior.
- O risco de insuficiência cardíaca foi maior entre os participantes sem diploma universitário e entre adultos em áreas urbanas sem acesso a academias e a outras instalações de atividade física.
“Estudos anteriores sugeriram que a exposição a ambientes com alimentos prontos para consumo está associada a riscos de outros distúrbios, como diabetes tipo 2 e obesidade, o que também pode aumentar o risco de insuficiência cardíaca”, afirma Qi, em comunicado à imprensa.
Para os autores, as descobertas indicam a necessidade de melhorar o acesso a estabelecimentos que comercializam alimentos mais saudáveis e a instalações fitness nas áreas urbanas. Além disso, para os investigadores, são necessárias políticas para ajudar na melhor educação de adultos, o que poderia reduzir o risco de insuficiência cardíaca associada a fast-food.
Embora a pesquisa tenha utilizado uma amostra grande, ela pode não representar a população em geral porque a maioria dos participantes eram brancos, mais velhos e viviam no Reino Unido. Além disso, o estudo não descartou outros fatores no ambiente alimentar que possam estar associados a insuficiência cardíaca e não incluiu dados de insegurança nutricional. Por isso, mais estudos são necessários para confirmar as descobertas e incluir comunidades etnicamente diversas.