Pacote europeu ajudará Ucrânia a resistir pelos próximos meses, avalia especialista à CNN
Além de acordos da União Europeia, cinco países europeus e Canadá têm pacto de segurança com Kiev pelos próximos 10 anos
À medida que a Ucrânia entra no terceiro ano de guerra, os recursos de seus aliados se mostram essenciais para manter a defesa contra a Rússia.
“Países da Europa, da Otan [aliança militar ocidental] e da própria Comissão Europeia têm se mobilizado para ajudar, pois entendem que o avanço da Rússia sobre a Ucrânia apresenta uma ameaça existencial à Europa”, avalia à CNN Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador em Harvard.
No sábado (24), dia que marcou o segundo aniversário do conflito, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou acordos bilaterais com a Itália e o Canadá.
Os dois países se juntam à Dinamarca, ao Reino Unido, Alemanha e França em pacto de segurança com Kiev pelos próximos 10 anos.
O gabinete do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeu, informou que o país fornecerá já em 2024 mais de 3 bilhões de dólares canadenses (US$ 2,05 bilhões) à Ucrânia.
Na véspera, o Reino Unido também anunciou um pacote de 245 milhões de libras (US$ 286,73 bilhões) em munições para os ucranianos.
“Os pacotes aprovados até o momento devem ajudar a Ucrânia a resistir pelos próximos meses”, afirma Brustolin.
No começo de fevereiro, a União Europeia havia aprovado financiamento de 50 bilhões de euros (US$ 54,17 bilhões) para a Ucrânia; enquanto, no dia 13 de fevereiro, o Senado dos Estados Unidos aprovou US$ 60 bilhões em recursos.
“Mas, para tanto, é necessário que os equipamentos e a munição sejam entregues com urgência”, adverte o especialista.
Neste domingo (25), o ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, disse que metade de toda a ajuda militar prometida à Ucrânia chega tarde demais à frente de batalha. “Se o que está alocado não chegar a tempo, perdemos pessoal, perdemos territórios”, pontua o ministro.
Obstáculos para a Ucrânia
No ano passado, a Ucrânia havia lançado uma contra-ofensiva para expulsar as forças russas do país. Entretanto, a ação acabou em revés para os ucranianos, à medida que a Rússia conseguiu avançar e conquistar novos territórios.
O prejuízo é elevado para a Ucrânia. Neste domingo, Zelensky afirmou que 31 mil soldados morreram no conflito.
Com a queda do fluxo dos recursos, impactada principalmente pelo pacote norte-americano travado no Congresso, a situação vem se tornando delicada para a Ucrânia. As autoridades do país chegaram a criticar o movimento de seus aliados, ao afirmar que o apoio é uma questão de sobrevivência para os ucranianos.
Apesar da aprovação no Senado, a Câmara dos Representantes dos EUA deve barrar a proposta ou alterar o modelo de financiamento. Majoritariamente composta por republicanos, a instância do Legislativo é contra a medida para preservar o orçamento do país.
O ex-presidente e pré-candidato à Casa Branca Donald Trump tem dito que o montante deveria ser um empréstimo, e não uma doação.
Além da quantidade de recursos, a maneira como eles são disponibilizados é importante para a sustentação da Ucrânia.
“Recentemente a Otan liberou a Ucrânia para atacar alvos militares em território russo com equipamentos doados, mas a Alemanha ainda bloqueia a entrega dos mísseis Taurus, que seriam importantes uma vez que têm alcance de 500 km”, explica Brustolin.
“Além disso, a entrega dos F-16 prometidos à Ucrânia precisa ser agilizada. A Ucrânia também precisa convocar mais reservistas e irá precisar da ajuda dos aliados para treiná-los. Isso posto, caso o pacote dos EUA seja aprovado, é evidente que a Ucrânia terá muito mais condições de se defender”, adicionou.
Adaptação na guerra
Caso os novos aportes não sejam realizados, Vitelio pontua que a Ucrânia terá que adaptar sua maneira de lutar.
“A Ucrânia precisará adaptar sua estratégia, adotando táticas de guerrilha para continuar resistindo”, diz o especialista.
A estratégia já foi vitoriosa no passado, por exemplo, nas guerras do Afeganistão e do Vietnã, ressalta Vitelio. Respectivamente, a União Soviética e os Estados Unidos invadiram os países que dão nome aos conflitos e tiveram de enfrentar grupos financiados pelos seus adversários em um território ao qual estavam pouco adaptados.
Ambas as ocasiões foram muito custosas às potências, que tiveram de abandonar o campo de batalha e assumir a derrota para não ampliar as perdas.
*Sob supervisão de Tiago Tortella, da CNN