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    Rita Wu
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    Rita Wu

    Arquiteta e designer apaixonada por tecnologias. Interdisciplinar por natureza e indisciplinar por opção, é palestrante, maker e mãe do doguinho Ovo

    Odysseus chega à Lua e sinaliza novos rumos da corrida espacial

    Corrida agora é liderada pela iniciativa privada, que vê na exploração espacial uma mina de ouro. E de quem será tudo isso?

    A última quinta-feira (22) foi um dia histórico. Pra quem acompanha a “nova corrida espacial” quem vem sendo travada entre vários países, como China, Índia e Japão, e também entre os principais bilionários do mundo, sabe que o feito é importante. 

    Durante à noite, pudemos acompanhar a chegada do primeiro módulo lunar robótico privado a alunissar, marcando, assim, o retorno dos Estados Unidos ao solo lunar após mais de 50 anos, quando a corrida espacial era disputada por pelos governos dos Estados Unidos e da União Soviética e não por empresas e seus fundadores, apesar de terem os países de pano de fundo. (Vou falar dessa nova disputa mais adiante.)

    Resumindo, o que aconteceu foi o seguinte: o Módulo IM-1, conhecido como Odysseus, que foi lançado no dia 15 de fevereiro a bordo de um foguete Falcon 9, da SpaceX, a partir do Centro Espacial Kennedy da Nasa, na Flórida (EUA), chegou “suavemente” na Lua. E sabemos o quanto isso não é fácil, afinal estamos acompanhando operações até menos complexas do que essa, sem o sucesso obtido por essa missão. Inclusive, no mês passado, a missão da Astrobotic Technology, outra empresa parceira da Nasa, cancelou, logo no início, sua tentativa de pousar na Lua.

    A missão IM-1 tem como principal objetivo enviar equipamentos para recolher material que forneça dados sobre a Lua, principalmente a análise do comportamento da poeira lunar, que podem atrapalhar ao obstruir e arranhar os equipamentos. Essa missão também faz parte da iniciativa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da Nasa, que integra o programa Artemis, que já foi iniciado e que pretende retomar as viagens tripuladas à Lua nos próximos anos, mas com operações totalmente privadas.

    A sonda é projeto da Intuitive Machines, empresa estadunidense de exploração espacial com sede em Houston, no Texas (EUA). A organização foi fundada em 2013 por Stephen Altemus, Kam Ghaffarian e Tim Crain, nomes importantes da área. Desde então, a empresa iniciou um extenso programa lunar.

    Tensão na hora do pouso

    Seis dias depois da partida, na quarta-feira (21), a Odysseus fez uma inserção bem-sucedida na órbita lunar e lá permaneceu, a uma altitude de cerca de 90 quilômetros, até encontrarem as coordenadas corretas para a descida estratégica perto do polo sul lunar.

    O processo de pouso foi cheio de contratempos. Pra quem estava acompanhando tudo ao vivo (eu!), não ficou claro, até os últimos minutos de transmissão, se a parte mais tensa da missão tinha dado certo. Mudanças de última hora ocorreram, como a utilização forçada de um instrumento da Nasa, já que a ferramenta da empresa, um sistema de navegação a laser, não funcionou, o que provocou uma volta extra ao redor da Lua para realizar os ajustes necessários.

    Finalmente, Odysseus encerrou uma emocionante descida, que durou cerca de 73 minutos. E, apesar de ter conseguido confirmar o pouso, a Nasa afirmou que as condições da alunissagem ainda não estavam claras, devido a um problema na comunicação provocado pelo fraco sinal de rádio. Por isso, só duas horas depois é que a Intuitive Machines compartilhou que a espaçonave estava “em pé e começando a enviar dados”.

    Mas por que a Lua?

    Esse pouso, considerado histórico, ocorreu mais de 50 anos depois do último pouso realizado pelos EUA, em 1972, com a Apollo 17. De lá pra cá, a Nasa interrompeu suas missões tripuladas para a Lua em razão do alto custo

    Isso ajuda a entender o contexto atual. Como já tinha chamado a atenção, essa é a primeira missão totalmente operada pelo setor privado. Mesmo que ainda sem tripulação, é um marco importante nessa virada da exploração espacial, que agora é comercial. Apesar de terem tido o apoio da Nasa (que é o grande cliente dessas missões, já que comprou espaço no Odysseus para seis instrumentos científicos), essa nova etapa revela uma série de interesses, no qual a Lua é um trampolim para a tão sonhada chegada à Marte.

    E o local de pouso escolhido, a cerca de 300 quilômetros do polo sul, tem tudo a ver com esse contexto. E apesar de trazer desafios significativos, já que é cercado por obstáculos, como pedras, colinas e crateras, é o ponto mais próximo do polo sul, que pode conter água congelada. E onde tem água, provavelmente tem ou pode ter tido vida, e possibilita vida futura, já que é um recurso que pode ser convertido em água potável para astronautas ou combustível de foguetes para missões a caminho de Marte. A Lua tem posição estratégica para ser um “pit stop” para essas missões mais longas, além de servir como base para os astronautas viverem e para testarem tecnologias.

    Disputa acirrada e a economia do espaço

    Os EUA estão ansiosos faz tempo para recuperar sua presença na Lua, já que a Nasa visa realizar essas missões científicas-robóticas para aprender mais sobre o ambiente lunar enquanto se prepara para levar astronautas à Lua novamente em 2026.

    E quem está construindo e operacionalizando tudo são empresas privadas, o que já gerou uma série de discussões. Em meio a isso temos as principais fortunas envolvidas nessa nova corrida espacial. E não é difícil de entender porque o espaço é um negócio tão central. O interesse dos bilionários no setor aeroespacial passa por liderar o controle do espaço, mas também por se apropriar de uma série de tecnologias que são essenciais para que tudo aconteça, e que aqui na Terra se tornam verdadeiros impérios, como as tecnologias da informação e da comunicação, novos materiais, energias limpas, robótica avançada, alimentos, biotecnologia, nanomateriais, eletroeletrônica avançada, mecânica fina, entre outros setores.

    E não é de agora que a exploração espacial (e exploração é um nome bem pertinente mesmo) é uma das indústrias mais poderosas do planeta e que tem um potencial ainda nada explorado. E todo esse potencial pede regulamentação. Vocês já devem ter visto o lixo espacial na órbita da terra. Imaginem como estará com milhares de satélites de empresas, como a Starlink, os perigos de colisão que podem gerar e até mesmo a superlotação da órbita.

    E a mineração de asteroides e planetas? Quem será o dono disso tudo? Quem chegar primeiro?

    Os avanços científicos e tecnológicos alcançados quando conseguimos sair da Terra são praticamente incomparáveis. E isso é incrível, além de ser encantador. Estudar o Universo é um dos maiores presentes para nossa vida, mas sabemos que quando se trata de dinheiro e poder, tudo muda.