Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Clarissa Oliveira
    Blog

    Clarissa Oliveira

    Viveu seis anos em Brasília. Foi repórter, editora, colunista e diretora em grandes redações, como Folha, Estadão, iG, Band e Veja

    Medo da prisão, estratégia jurídica e jogo eleitoral: a origem do ato bolsonarista do dia 25

    Segundo aliados, ex-presidente estava convencido de que seria detido e enxergou jogo de ganha-ganha com manifestação

    Nos dias que sucederam a Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, Jair Bolsonaro não escondia de seus aliados mais próximos o sentimento diante da busca e apreensão conduzida em sua casa em Angra dos Reis (RJ).

    “Ele de fato ficou com medo. Medo de ser preso. Ele achava que a Polícia Federal bateria na porta dele para levá-lo à delegacia”, contou à CNN um aliado próximo do ex-presidente, que acompanhou de perto os primeiros momentos após a ação da PF.

    A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro manteve um tom diferente do marido nos dias seguintes à operação. Estava muito irritada, segundo os relatos. Michelle demonstrava muita raiva e falava em retaliação. Chegou a cerrar os punhos e se exaltar em uma das conversas sobre o assunto.

    Passado o susto, o discurso de Bolsonaro mudou e ele passou a negar que tivesse de fato medo de ser preso.

    E, diante da aproximação da data da manifestação, o combinado com sua equipe foi uma subida de tom. Seria uma forma de mobilizar a militância. E, então, Bolsonaro disparou à rádio CBN Recife: “Qual é o próximo passo? Me executar na prisão?”

    Mas foi aquele medo da prisão dos primeiros dias após a ação da PF que, segundo seus aliados, o levou a idealizar a manifestação que ocorrerá na Avenida Paulista no próximo domingo (25).

    Quando o assunto foi levantado pela primeira vez, alguns integrantes do time próximo do ex-presidente estavam céticos diante da ideia. Houve quem achasse melhor não provocar o Supremo Tribunal Federal (STF).

    Mas Bolsonaro não precisou se esforçar muito para convencer os aliados. Ele argumentou que não tinha nada a perder.

    Disse que, se de fato a PF o prendesse antes do ato, ele seria imediatamente transformado em mártir. Se acabasse preso depois, a manifestação lhe daria um palco para exaltar a tese da perseguição política, validando toda a estratégia jurídica que vem adotando desde que começou a ser investigado.

    De quebra, a manifestação seria uma óbvia oportunidade de atiçar a polarização com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), linha central de seu plano político-eleitoral.

    Mas nem os bolsonaristas mais entusiasmados previam que Lula lhe daria mais munição para tanto. Ao comparar a contraofensiva israelense na Faixa de Gaza ao assassinato de judeus sob Adolf Hitler, o petista rendeu a Bolsonaro mais um assunto para inflamar o discurso na Paulista.

    Ao descreverem a fala de Lula como um “tiro no pé”, aliados do ex-presidente usaram até mesmo a pandemia de Covid-19 para resumir o sentimento: “Se nós soubermos aproveitar bem essa oportunidade, será quase como se a vacina de Covid tivesse matado Bolsonaro”.