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    Análise: Por que chamar embaixador de Israel de volta foi considerada melhor saída para o Itamaraty

    Liderança do Ministério das Relações Exteriores avalia que silêncio mostraria uma fraqueza da diplomacia brasileira e arruinaria a sua credibilidade

    Américo Martinsda CNN , em Londres

    O Itamaraty agiu para manter a credibilidade da sua própria política externa ao chamar de volta o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, em meio à crise diplomática com o país do Oriente Médio.

    Dentre todas as opções possíveis à diplomacia brasileira, esta foi considerada a melhor para mostrar que o Itamaraty realmente banca com ações as posições verbalizadas pelo governo no setor das relações exteriores.

    Obviamente, a crise em si – provocada desnecessariamente pela desastrada e infeliz declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, associando a figura nefasta do ditador nazista Adolf Hitler à guerra em Gaza – já desgasta parte dessa diplomacia, pelo menos em algumas capitais do mundo.

    Mas qualquer outro movimento que não a convocação de Meyer seria ainda pior, na avaliação da liderança do Ministério das Relações Exteriores.

    Mostraria uma fraqueza da diplomacia brasileira e arruinaria a sua credibilidade – exatamente quando o Brasil preside o G-20 e na véspera de uma reunião com os chanceleres do bloco em pleno Rio de Janeiro.

    Afinal, se o presidente da República e o seu governo acreditam que está em curso uma tentativa de genocídio contra o povo palestino, então o Itamaraty tem que bancar essa posição e denunciar o governo israelense – como Lula fez em todas as oportunidades que teve durante a viagem à África.

    Na avaliação do Ministério das Relações Exteriores, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu “tentou silenciar uma voz crítica ao que as Forças de Defesa de Israel estão fazendo na Faixa de Gaza”, num conflito que já deixou cerca de 30 mil mortos e mais de 170 mil feridos – em sua grande maioria mulheres e crianças.

    Além disso, a avaliação de altas fontes do ministério é a de que o atual governo de Israel “humilhou um país amigo e o embaixador deste país amigo ao fazer um show mambembe” ao forçar Meyer a acompanhar o ministro local das Relações Exteriores numa reunião pública no Museu do Holocausto.

    Pior ainda, o ministro Israel Katz fez questão de dar uma entrevista, em hebraico, ao lado do embaixador brasileiro, na qual afirmou que Lula era “persona non-grata” em Israel.

    O constrangimento foi grande e o Itamaraty avalia que essa é uma forma deliberada de agir do governo de Netanyahu para, através deste tipo de “bullying”, silenciar os críticos dentro e fora do seu país.

    O Itamaraty diz que agora trabalha para acalmar a situação e que espera que as relações se normalizem com o decorrer do tempo.

    Mas um experiente embaixador brasileiro também alerta: “nestes tempos de lacração e comunicação digital, basta um tuíte desastrado para tudo recomeçar”.

    E, nesta quinta-feira, o ministro Katz voltou à baila exatamente dessa forma: marcando o presidente Lula no X, o antigo Twitter, e dizendo: “Milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas”.

    A crise pode aumentar ainda mais. Mas o Itamaraty diz que não vai recuar.

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