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    Danos à Amazônia podem se tornar irreversíveis até 2050, alerta estudo

    Colapso da floresta pode acelerar o aquecimento global e mudar o regime de chuvas no planeta

    Guilherme Gamada CNN*

    Um estudo publicado nesta quarta-feira (14) alerta que a Amazônia pode atingir um ponto de não retorno até 2050, ou seja, a floresta está no início de colapso parcial ou total. A degradação da vegetação pode acelerar o aquecimento global, segundo os cientistas. O artigo, liderado por pesquisadores brasileiros, é capa da revista Nature.

    A estimativa dos pesquisadores é que, até a metade do século, um montante de 10% a 47% da floresta esteja exposto a ameaças consideradas graves que podem levar a transições no ecossistema.

    O aumento das temperaturas, as secas extremas, o desmatamento e incêndios florestais podem ter impacto no clima: redução das chuvas na região e aumento do risco de um colapso em larga escala.

    “O ponto de não retorno é um ponto a partir do qual o sistema se retroalimenta numa aceleração de perda de florestas, e perdemos o controle”, explica um dos líderes do estudo internacional, Bernardo Flores, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho foi realizado em parceira com a pesquisadora Marina Hirota.

    Com base em revisões de artigos e modelagens estatísticas, os cientistas apontam os principais fatores de estresse na Amazônia e determinam quais seriam os limites críticos para cada um deles que, se ultrapassados, podem levar ao colapso do bioma. São eles:

    • O aumento na temperatura média global acima de 1,5ºC
    • Volume de chuvas abaixo de 1.800 mm
    • Duração da estação seca superior a cinco meses
    • Desmatamento superior a 10% da cobertura original da floresta, somada à falta de restauração de pelo menos 5% do bioma.

    Os cientistas afirmam que, nas últimas décadas, a Amazônia começou a enfrentar uma “pressão sem precedentes”, resultado de alterações climáticas e de uso do solo. Essas ações enfraquecem os mecanismos de feedback que garantem a chamada “resiliência” da floresta.

    As árvores na floresta amazônica diariamente transportam grandes volumes de água do solo para a atmosfera, o que eleva a umidade atmosférica e contribui para o aumento das chuvas. Essa relação fortalece a resiliência que está enfraquecendo, e sendo substituída por mecanismos que aumentam o risco de uma “transição crítica” — a perda florestal irreversível.

    Mapa mostra mudança na temperatura média da estação seca em 2050.
    Mapa mostra mudança na temperatura média da estação seca em 2050. / Reprodução: Revista Nature

    O alerta global para a perda da floresta está ligado a grandes quantidades de carbono que seriam emitidas na atmosfera — o que pode acelerar o aquecimento do planeta. A pesquisa aponta que a perda de florestas em grandes regiões da Amazônia acaba por reduzir a circulação da umidade atmosférica.

    As consequências do impacto no regime de chuvas atingem desde as regiões próximas no continente até outras partes do mundo, como a Ásia e a Antártida.

    “É necessário frear o desmatamento e a emissão de gases efeito estufa”

    Para impedir a degradação da floresta, o estudo destaca três tipos principais de trajetórias, as quais incluem regiões de florestas degradadas, savanas de areia branca e áreas não-florestais degradadas – o que aumenta o risco de espalhar incêndios.

    “Em alguns casos, a floresta pode se recuperar, mas permanece presa em estado degradado, dominada por plantas oportunistas, como cipós ou bambus. Em outros casos, a floresta não se recupera mais e persiste presa em estado de vegetação aberta e com incêndios recorrentes”, explica Flores.

    Os cientistas acreditam na combinação entre esforços locais para acabar com o desmatamento e expandir a restauração da floresta e esforços globais para parar a emissão de gases de efeito estufa, para mitigar assim os impactos das mudanças climáticas.

    A pesquisa foi desenvolvida ao longo de três anos com financiamento do Instituto Serrapilheira. Entre os 24 autores do artigo, 14 são do Brasil.

    *Sob supervisão de Bruno Laforé

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