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    Fezes de ovelhas revelam que grupo habitava ilhas antes dos vikings

    Nova pesquisa aponta que Ilhas Faroé, no Atlântico Norte, tinham habitantes 350 anos antes da chegada dos vikings

    Ashley Stricklandda CNN

    As isoladas Ilhas Faroé já foram lar de uma população desconhecida em 500 d.C., cerca de 350 anos antes da chegada dos vikings, de acordo com uma nova pesquisa. E a evidência vem de uma fonte incomum: cocô de ovelha.

    As impressionantes Ilhas Faroé são um pequeno arquipélago localizado no Atlântico Norte, a meio caminho entre a Noruega e a Islândia. Os vikings chegaram às ilhas depois de desenvolverem navios para a navegação de longa distância, por volta de 850, antes de se mudarem para a Islândia em 874. Por muito tempo, os pesquisadores acreditaram que eles foram os primeiros habitantes humanos das acidentadas Ilhas Faroé.

    Até este século, a única evidência das primeiras pessoas a pisar nas Ilhas Faroé antes dos vikings provinha de menções em textos medievais. Não há evidências atuais que sugiram que nativos tenham vivido lá.

    Em 2013, os pesquisadores encontraram grãos de cevada queimados sob o chão de uma maloca viking na ilha faroense de Sandoy. Os grãos foram datados entre 300 e 500 anos antes da ocupação nórdica das Ilhas Faroé. A cevada não era nativa das ilhas antes dos humanos que viviam lá.

    A fim de encontrar mais evidências deste grupo de humanos, uma equipe de pesquisa foi formada para conduzir a investigação de um lago na ilha faroense de Eysturoy. Embora nenhuma casa ou evidência arqueológica tenha sido encontrada deste primeiro grupo de exploradores, a equipe decidiu adotar uma abordagem diferente para determinar quando os humanos chegaram às Ilhas Faroé.

    Pistas orgânicas nos sedimentos de um lago

    Especificamente, os cientistas queriam coletar núcleos de sedimentos de lagos.

    “Os lagos são arquivos incríveis de informações ambientais, porque eles acumulam material da paisagem circundante em camadas sequenciais em seus sedimentos”, disse a principal autora do estudo, Lorelei Curtin, pós-doutoranda associada no departamento de geologia e geofísica da Universidade de Wyoming.

    “Cada membro de nossa equipe usa ferramentas diferentes para analisar os sedimentos do lago e, trabalhando juntos, obtemos uma compreensão holística das mudanças no meio ambiente, incluindo os impactos humanos na paisagem”, disse ela.

    Quando chegaram a Eysturoy, os membros da equipe partiram em um pequeno barco em um lago próximo ao vilarejo de Eiði, que já hospedou um assentamento viking.

    Eles jogaram tubos pesados ​​no fundo do lago e coletaram núcleos com 2,7 metros de comprimento – o equivalente a 10.000 anos de história ambiental.

    A análise dos sedimentos do lago revelou a presença repentina de ovelhas domesticadas em grande número, chegando entre 492 e 512. As ovelhas deixam biomarcadores distintos em sua matéria fecal que foram rastreados como DNA nos sedimentos. Os pesquisadores conseguiram usar uma camada de cinzas, da conhecida erupção de um vulcão islandês em 877, para ajudá-los a estabelecer datas.

    Antes da chegada destas ovelhas, não existem vestígios de mamíferos na ilha, o que indicas que as ovelhas devem ter sido trazidas por pessoas que chegaram às Ilhas Faroé. Hoje, elas são um alimento básico da dieta por lá.

    O aparecimento das ovelhas também se alinha com o desaparecimento de plantas lenhosas, como o salgueiro, o zimbro e a bétula.

    “Depois que os humanos chegaram e trouxeram ovelhas com eles, a vegetação mudou”, disse Curtin. “Vemos mais vegetação de grama, o que é consistente com a modificação da paisagem causada pelo pastoreio de animais. Isso é o que vemos nas Ilhas Faroé hoje”.

    O estudo foi publicado nessa quinta-feira (16) na revista “Communications Earth & Environment”. O arqueólogo Kevin Edwards, pesquisador ambiental e professor emérito da Universidade de Aberdeen e co-autor do estudo da cevada de 2013, disse que essa nova pesquisa “produziu evidências convincentes e empolgantes em outra ilha do arquipélago”.

    Além de receber apoio dos faroenses, os pesquisadores foram auxiliados por Símun Arge, arqueólogo do Museu Nacional das Ilhas Faroé. “Símun infelizmente faleceu em fevereiro de 2021 e dedicamos este estudo a ele”, disse Curtin.

    Vida nas Ilhas Faroé

    Localizadas 322 quilômetros a noroeste da Escócia, as Ilhas Faroé exibem penhascos altos e característicos em seu litoral. Elas possuem tempo frequentemente nublado e são constantemente atingidos por ventos fortes. Poucos lugares seriam atraentes para os primeiros exploradores, porque a paisagem é em grande parte tundra.

    Existem alguns lugares planos perto de baías protegidas onde os vikings montaram acampamento. As Ilhas Faroé provavelmente permitiram que os vikings chegassem a lugares como a Islândia e a Groenlândia mais tarde.

    Escritos medievais apoiam a ideia de que monges irlandeses estavam nas Ilhas Faroé por volta de 500, incluindo o navegador irlandês St. Brendan, que era famoso por navegar no Atlântico.

    Agora, o DNA de ovelhas, biomarcadores e escritos estão todos alinhados, disse o co-autor do estudo William D’Andrea, paleoclimatologista do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia.

    Exploradores celtas

    Mas quem, exatamente, foram as primeiras pessoas a chegar nas Ilhas Faroé?

    Os pesquisadores acreditam que eram celtas cruzando o mar vindos da Escócia ou da Irlanda, com base em pistas que, reunidas, sugerem o passado distante dos atuais habitantes da ilha.

    Por exemplo, existem muitos nomes nas Ilhas Faroé que vêm de palavras celtas, e há marcações de túmulos celtas sem data nas ilhas. Estudos de DNA de faroenses têm linhagem celta materna. Embora seja possível que os vikings trouxeram noivas celtas com eles, o nível de ancestralidade celta materna é tão alto que os pesquisadores pensam que os celtas estavam presentes nas ilhas antes dos vikings.

    “Nossos dados não podem realmente dizer quem eram as pessoas que chegaram antes dos vikings com seus rebanhos, no entanto, há algumas evidências que sugerem que os vikings não usavam tecnologia de navegação naquela época”, disse Curtin. “Acho que isso é motivação para uma maior exploração arqueológica nas Ilhas Faroé”.

    Quaisquer que tenham sido os primeiros habitantes das Ilhas Faroé, a travessia do oceano com gado revela os seus avanços – e força de vontade.

    “Acho que muitas vezes subestimamos os primeiros exploradores humanos e sua capacidade de alcançar terras novas e desconhecidas”, disse Curtin. “Não consigo imaginar a coragem e a habilidade necessárias para cruzar o oceano Atlântico Norte. É realmente uma prova do espírito humano de exploração”.

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