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    Especialistas apostam em ‘proteção cruzada’ pra vencer nova cepa da gripe

    Chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios da Fiocruz diz que linhagem do vírus H3N2 é a causadora de surtos pelo país

    Pedro Duranda CNN , Rio de Janeiro

    Especialistas ouvidos pela CNN Brasil sugerem que a vacina contra a gripe disponível neste ano pode oferecer uma ‘proteção cruzada’ contra a cepa Darwin, da linhagem H3N2, apontada como a responsável pelos surtos de gripe no país. Cidades como Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo tiveram aumento considerável de casos entre o fim de novembro e a primeira quinzena de dezembro —época considerada atípica para o aumento nos registros da doença.

    A disparada de casos fez com que o governo do Rio de Janeiro deflagrasse uma caça às sobras da vacina com ajuda do Ministério da Saúde. Estoques remanescentes de imunizantes chegaram ao estado vindas de Roraima, Espírito Santo, Minas Gerais e do Instituto Butantan, em São Paulo.

    O problema é que a vacina usada em 2021 não foi projetada para conter justamente essa cepa que está em circulação, chamada de Darwin, entre as quatro mutações eleitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano passado. Todos os anos, o órgão escolhe dois subtipos de Influenza A (um do tipo H1N1 e outro do tipo H3N2) e duas cepas da gripe Influenza B (linhagens Yamagata e Victoria). A cepa Darwin, identificada em amostras coletadas pelas chamadas unidades sentinelas da vigilância da gripe, pertence ao grupo dos vírus H3N2, mas, neste ano, a mutação escolhida para a vacina foi outra, a cepa chamada de Hong Kong.

    Embora a vacina não tenha sido fabricada pensando na cepa que agora circula pelo Brasil e tem causado o surto da gripe, os especialistas apostam que ela pode, sim, oferecer algum nível de proteção. É a chamada ‘proteção cruzada’, quando o imunizante mira um tipo de vírus e acerta outro.

    Brasileira à frente das discussões para formular vacinas contra gripe e participante das reuniões da OMS, Marilda Siqueira tem analisado o chamado ‘matching’ entre a Darwin e a vacina que temos. A pesquisadora fala em redução na “neutralização” do vírus pelos anticorpos gerados pela vacina de 2021, e, justamente por isso, recomenda que os governos locais avaliem priorizar as populações mais suscetíveis para aplicar a vacina. Marilda comanda o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

    “O Darwin/H3N2 é a cepa que está circulando em vários países do hemisfério Norte e que circulou recentemente em alguns países da África, como os do norte e da região central, e em várias regiões da Ásia. Em vários países do hemisfério Norte ele circulou mais ou menos até agosto. Foi detectado em baixo nível de circulação, mas foi detectado esse vírus. Então, agora ele começou a circular aqui no Brasil. Provavelmente vai se disseminar pra outras regiões brasileiras”, analisa a pesquisadora.

    Marilda chama a atenção para a importância de não abrir mão de equipamentos de proteção e medidas sanitárias em meio ao surto de gripe. “A população está há dois anos sem encontrar o vírus, sem fazer reativação dos anticorpos que nos protegem, com baixas coberturas vacinais e com medidas como uso de máscara já muito relaxadas. Então, é o cenário perfeito pra introdução do vírus no país e foi o que aconteceu. E um dos primeiros lugares onde a gente viu isso, dentro do que a nossa Vigilância conseguiu captar, foi aqui no Rio de Janeiro, até porque é uma cidade muito internacional”, comenta.

    O cenário ideal seria antecipar a vacina do ano que vem, já que a OMS definiu que a Darwin será uma das cepas combatidas com a vacina de 2022. Mas o obstáculo para isso é o tempo de produção dos laboratórios. Para a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, a vacina sozinha não vai ajudar a mudar o atual cenário em que o vírus da gripe está se espalhando rapidamente.

    “Eu tenho certeza que a indústria farmacêutica está em peso trabalhando para ter essa vacina mais cedo, mas não depende 100% do ser humano, depende também do vírus e de toda uma sequência da produção de uma nova vacina. O que eu aconselho às autoridades é que reforcem a necessidade da máscara, principalmente nesse momento em que a gente está em flexibilização. A gente precisa conter esse surto porque isso pode não apenas sobrecarregar os serviços de atendimento básico, emergência e hospitais, mas também atrapalhar o dia a dia da população, porque os sintomas são iguais à Covid”, defende a médica.

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