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    Sistema da Saúde de notificação de casos de Covid está instável desde outubro

    Fiocruz, secretários e gestores de saúde avaliam que esse fator gera atrasos no SIVEP Gripe e pode deixar análise da pandemia "no escuro"

    Leandro Resendeda CNN , no Rio de Janeiro

    Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e técnicos da saúde ouvidos pela CNN apontaram que um dos principais sistemas de informação de saúde sobre a Covid-19 apresenta instabilidade e falhas há pelo menos dois meses. O SIVEP Gripe (Sistema de Informação de Vigilância da Gripe), mantido pelo Ministério da Saúde, não tem sido atualizado corretamente em todo o Brasil.

    O problema não tem relação com o ataque hacker ao Ministério da Saúde desta sexta-feira (10), mas acende um alerta grave: segundo pesquisadores, o problema na análise e na inserção de dados faz com que o monitoramento da pandemia no Brasil esteja sendo feito “às escuras”.  A CNN questionou o Ministério da Saúde e aguarda retorno.

    O SIVEP Gripe é usado pela vigilância epidemiológica de estados e municípios para reportar casos de infecções respiratórias desde a H1N1, em 2009. Responsável pelo Monitora Covid-19, portal de acompanhamento da pandemia da Fiocruz, o pesquisador Christovam Barcellos afirmou que muitas secretarias de saúde do país estão deixando de reportar sobretudo os casos leves de Covid.

    “Vamos passar algumas semanas ou meses ‘no escuro’. Pode estar havendo um novo aumento de incidência e não estamos observando isso pelos dados”, afirmou.

    Segundo Barcellos, o momento é crucial para que os dados estejam bem atualizados, visto que gestores de todo o país estão olhando para os números para decidir, por exemplo, sobre a manutenção da festa de réveillon.

    “O Brasil está num momento positivo da pandemia, mas é importante olhar para as próximas semanas com a melhor qualidade de dados possível. Há dias em que uma cidade não registra nenhum caso de Covid; no outro, registra 1000. Não é assim que o vírus se comporta”, alertou.

    Técnicos ouvidos pela CNN disseram que reportar casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é possível no SIVEP Gripe, mas o processo é muito lento. Há, por exemplo, uma exigência para que se coloque o número do lote do teste de antígeno a que um paciente é submetido para saber se está ou não com Covid-19.

    Há, ainda, uma reclamação pelo excesso de burocracia no preenchimento de dados, e a avaliação de que o Ministério da Saúde ainda não conseguiu minimizar o impacto, na ponta, das instabilidades do sistema. “Um médico, na ponta, precisa preencher quatro formulários, abastecer vários dados ao mesmo tempo. Com essa instabilidade, o processo demora ainda mais”, declarou, sob reserva, um gestor estadual de saúde.

    Coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, da Fiocruz, afirmou que há uma demora técnica que prejudica a análise da situação do momento da pandemia na hora do preenchimento dos dados.

    “Temos hoje um problema de acompanhamento de vários vírus respiratórios.  Há um ponto de fadiga do sistema. A integração com os dados da vacinação está tornando o trabalho, na ponta, bem mais lento”, afirmou.

    Ataque hacker revela que sistema de armazenamento de dados está obsoleto

    O vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Nésio Trindade, afirmou à CNN que os sistemas de saúde atacados por hackers nesta sexta-feira (10) usam o mesmo padrão há 15 anos e estão obsoletos. “São dados armazenados como em 2004, uma infraestrutura pensada naquela época, que não havia um debate sobre internet das coisas, sobre segurança de dados”, afirmou.

    Segundo ele, o fato de o ConecteSus estar fora do ar levanta suspeitas, sobretudo após o governo anunciar a quarentena de 5 dias ou a apresentação de certificado de vacinação para viajantes que cheguem ao Brasil. “O Ministério da Saúde precisa de uma nova estratégia de dados, isso é fato, mas o ataque feito logo hoje torna tudo muito mais suspeito com relação às críticas que o documento da vacinação recebeu”, afirmou.

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