Análise: Lula cede em 2024 para aumentar chance de reeleição em 2026
Para este ano, PT tem duas prioridades: uma vitória em pelo menos três capitais e um acordo com MDB e PSD
“O PT deve entregar os anéis agora para não perder os dedos lá na frente”. A definição é feita por um experiente dirigente da legenda sobre o cenário eleitoral deste ano.
Pela primeira vez em sua trajetória, o partido avalia não lançar candidaturas próprias nos quatro maiores colégios eleitorais municipais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.
Além disso, a projeção de um baixo número de candidatos petistas em capitais demonstra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) compreendeu a necessidade de ceder agora para tentar manter a máquina federal no futuro.
Neste ano, o PT projeta 15 candidaturas próprias em capitais. Entre elas, aparecem Porto Alegre, Fortaleza, Maceió e Cuiabá.
Desde o início dos anos 1990, o partido não lançava um número tão baixo de candidaturas próprias em capitais estaduais.
Em 2020, por exemplo, mesmo em meio ao desgaste da Operação Lava Jato, a sigla encabeçou 21 candidaturas. Não se elegeu, no entanto, em nenhuma capital. Em 2012, foram 17 candidatos. Quatro foram eleitos.
Para este ano, a legenda traça duas prioridades: garantir uma vitória em pelo menos três capitais e tentar firmar um acordo em médio prazo com MDB e PSD.
Em conversas reservadas, Lula deixa claro que, assim como em 2022, o cenário presidencial para 2026 será difícil. E que apenas uma nova frente ampla poderá garantir a sua reeleição.
O plano é, portanto, ceder a PSD e MDB em redutos eleitorais importantes para tentar amarrar na sua candidatura à reeleição as duas siglas, nem que seja em âmbito estadual, já que ambas ficaram neutras no segundo turno da eleição presidencial de 2022.
Com esse objetivo, o PT acena com apoio ao PSD, por exemplo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. O partido de esquerda considera embarcar em candidaturas próprias do MDB em Salvador e Rio Branco.
Pelo apoio do PSD em 2026, Lula já acenou também com disposição em endossar candidaturas da legenda para as disputas aos governos do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, e de Minas Gerais, com Rodrigo Pacheco.
E sinalizou com simpatia em retomar a chapa PT e MDB para a disputa presidencial. Isso, claro, se o atual vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB, decidir ser candidato ao Senado por São Paulo.
No Palácio do Planalto, assessores do governo reconhecem que o cenário para o partido é difícil neste ano e passaram a repetir uma frase do presidente.
A declaração, em forma de desabafo, foi feita em junho, em meio às dificuldades do governo, e se tornou uma espécie de lema da sigla para as eleições deste ano: “É preciso conversar até com quem não gosta da gente.”