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    Legado do Barbatuques é celebrado no mês em que seu fundador faria 50 anos

    Livro, live e show neste fim de semana lembram da vida e obra de Fernando Barba, que morreu em fevereiro deste ano

    Alexandre Matiascolaboração para a CNN

    No mar de más notícias de 2021, uma que pegou fãs de música de surpresa foi a sobre a morte de Fernando Barba, no último mês de fevereiro. Conhecido por seu carisma e por ser uma das pessoas mais queridas da cena instrumental brasileira, o fundador do grupo de percussão corporal Barbatuques completaria 50 anos em dezembro, o que motivou homenagens à sua obra neste mês.

    A primeira delas é a edição em inglês de sua autobiografia “A Vida Começava Lá – Uma História de Repercussão Corporal”, que escreveu com sua irmã Renata Ferraz Torres e ganha versão em e-book chamada “Sound from the start: a body percussion story”.

    Outra destas homenagens é a live que o grupo Barbatuques faz neste sábado (4) em seu canal no YouTube (youtube.com//barbatuques/), transmitida a partir do estúdio 185, em São Paulo, às 19h30.

    Mas a grande apresentação acontece no domingo (5), no teatro do Sesc Pompeia, na capital paulista, onde o baterista e produtor Bruno Buarque, ex-integrante dos Barbatuques, celebra a obra de Barba a partir das 18h com instrumentos convencionais.

    O show também reúne músicos que trabalharam com Fernando, como o também barbatuque André Hosoi, na guitarra, e a vocalista Anelis Assumpção, e será transmitido gratuitamente pelos canais digitais no Sesc (youtube.com/sescsp e instagram.com/sescaovivo).

    “Esse show é antes de tudo uma homenagem a um amigo. Um tributo a um mestre”, explica o baterista, que também trabalhou com Criolo, Céu, João Donato, Anelis Assumpção, BaianaSystem, Karina Buhr, entre outros nomes da música brasileira.

    “O grande público conheceu o Barba através do corpo e poucos sabem que ele era exímio instrumentista, daqueles gênios mesmo. Tocava com maestria violão, guitarra, piano, flauta e percussão. Era lindo e impressionante ao mesmo tempo. Por isso quis justamente mostrar como suas músicas e sua obra soam com banda.”

    Para essa apresentação, ele reuniu o guitarrista e cofundador do Barbatuques André Hosoi, o baixista Marcelo Cabral, o trombonista Edy Trombone, o pianista Daniel Ayres e a bailarina Regina Santos, além de Anelis Assumpção que canta as duas únicas canções do show com vocais.

    Além da importância da homenagem, é também o primeiro show que o baterista e produtor assina com seu nome.

    O guitarrista Hosoi lembra como conheceu o amigo. “Creio que foi por volta de 1986 a primeira vez que eu o vi, na sala de espera da Travessia Escola de Música, onde estudávamos guitarra. Mas o vi tocando flauta, sem parar. Éramos adolescentes, nascidos no mesmo ano, 1971, e logo que escutei o som que saía da flauta, ainda que rudimentar, porém com muita fluência, percebi que ali naquele menino magrelo havia algo de muito especial. Passei a chegar mais cedo para dar uma olhada na aula de prática de grupo que ele fazia e daí finalmente o vi tocando guitarra. Era impressionante. Tudo sempre muito natural, era mágico.”

    Baterista e produtor Bruno Buarque, ex-integrante dos Barbatuques / Miguel Salvatore/Divulgação

    A potência do corpo

    Os dois estudaram música e dividiram teto na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), quando Barba começou a fazer seu grupo, depois de um tempo brincando com músicas tocadas com o corpo.

    “Foi quando o Barba teve a ideia de começar a organizar os sons e planejar uma aula de percussão corporal, algo até então inédito, que eu saiba. Chamou atenção da imprensa, de músicos e de profissionais de outras áreas. Foi daí que saiu o grupo Barbatuques.”

    “Acompanhei todo o processo da gravação do primeiro CD, tocando e ajudando na produção”, prossegue o guitarrista, que produziu o segundo disco do grupo ao lado de Barba e de Bruno, e a partir daí começou a fazer viagens para o resto do Brasil e para o exterior. Hoje o músico coordena o Núcleo Barbatuques, que realiza atividades no campo do entretenimento e educação.

    “Barbatuques é a melhor representação de que a mais alta e preciosa tecnologia é o orgânico”, emenda Bruno.

    A resolução máxima da tecnologia ainda é e sempre será o orgânico. Depois de dar a volta completa nas inovações e nos desafios, a gente volta pro mais básico e potente de tudo, que são nossos corpos e mentes

    Bruno Buarque

    “O Barbatuques já se configura na história da música mundial, representando nosso país”, prossegue Hosoi, listando diferentes músicos com quem o grupo já dividiu o palco, como Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos, Emicida e Alok.

    “Tivemos a honra de representar o país em uma série de eventos internacionais, passamos por mais de 30 países, em Copas do Mundo, Olimpíadas, eventos culturais, feiras Internacionais diversas, trilhas de cinema…”

    Ele também antecipa o que o grupo fará na live deste sábado: “Tocaremos as músicas do Barba, deixando dessa vez, de lado, as composições de outros integrantes, algumas mais conhecidas pelo público, como o ‘Baião Destemperado’, outras, nem tanto, mas foram faixas escolhidas de todos os álbuns, incluindo algumas peças que não fazíamos há anos tais como o ‘Mangue a Manga’ e ‘Cheiro Verde’, duas maravilhas de composições”.

    Bruno Buarque e convidados para o tributo a Fernando Barba, fundador do Barbatuques / Divulgação

    Gravações interrompidas

    Já Bruno, no show de domingo, puxará uma das músicas do disco que vinha produzindo com Barba, que seria lançado este ano

    “Durante o período que moramos juntos, Barba e eu sempre tocávamos na sala durante horas a fio e recebíamos amigos para rodas de som que iam noite adentro. Ele sempre quis fazer um disco de suas composições tocadas com banda e também um disco em que tocaria todos os instrumentos. Ele me convidou para produzir esses discos e marcamos de começar a gravar e ir vendo o que saía, fazendo sessões no meu estúdio, Minduca.”

    O disco, no entanto, não saiu do papel pelos problemas de saúde de Fernando. “Infelizmente, quando começamos de fato, ele já estava com o tumor na cabeça, e isso começou a atrapalhar muito nossas sessões, a ponto de termos que interrompê-las para ele fazer a cirurgia. No show, tocaremos uma música que ele tinha gravado aqui, e contaremos com ele tocando com a gente virtualmente, através do sampler MPC.”

    “O Barba já estava afastado dos ensaios antes da pandemia, devido às sequelas de sua cirurgia na cabeça, mas nos encontrávamos e passávamos a tarde conversando e tocando”, lembra Hosoi, que ao lembrar da morte do amigo, reforça a necessidade que o grupo teve em continuar o trabalho.

    “Sempre soubemos que tínhamos a missão de continuar levando a música orgânica corporal adiante. Mais do que um grupo de música, somos um legado de uma ideia maravilhosa, democrática e potente que é a música corporal. Através dela todos, mesmo, podem fazer música.”

    A morte de Barba fez Bruno lembrar de uma frase de um colaborador do grupo, André Magalhães, que falava que “toda vida é completa”.

    Bruno Buarque e convidados: Tributo a Fernando Barba

    Domingo (5), às 18h

    Teatro do Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93 – Água Branca. São Paulo)

    Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia entrada prevista por Lei e comerciários matriculados no Sesc)

    Transmissão online e gratuita pelos canais Youtube do Sesc SP (youtube.com/sescsp) e pelo Instagram do Sesc ao Vivo (instagram.com/sescaovivo)

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