Países podem perder até 7% do PIB ao excluir pessoas com deficiências
Relatório do Banco Mundial aponta que na América Latina e no Caribe, 15% das crianças com deficiências não estão matriculadas na escola
A exclusão de pessoas com deficiências do mercado de trabalho e da educação pode representar uma perda de cerca de 3% a 7% do PIB de um país, segundo relatório do Banco Mundial.
O estudo indica que aproximadamente 85 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe têm algum tipo de deficiência, o que representa 14,7% da população, e que uma em cada três famílias dessa região tem pelo menos uma pessoa com algum tipo de deficiência. O levantamento do Banco Mundial mostra também que 15% das crianças com deficiências não estão matriculadas na escola e uma em cada duas pessoas nessa condição não participa do mercado de trabalho.
O relatório “A Inclusão de Pessoas com Deficiências na América Latina e no Caribe: Um Caminho para o Desenvolvimento Sustentável”, divulgado nesta quinta-feira (2), aborda as barreiras físicas e jurídicas enfrentadas pelas pessoas com deficiências e chama a atenção para a necessidade de novos esforços de inclusão desse grupo.
De acordo com o estudo, a prevalência de pessoas com deficiência é maior nas áreas rurais e entre a população que vive em pobreza extrema. O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é celebrado nesta sexta-feira (3).
“As pessoas com deficiências devem ser capazes de participar integralmente da vida pública sem sofrer discriminação ou marginalização nas escolas ou locais de trabalho. Além disso, elas devem conseguir ser incluídas e ter dignidade e oportunidades na vida, assim estar aptas a contribuir para a reconstrução de nossos países”, disse Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a região da América Latina e do Caribe.
O relatório do Banco Mundial contata que a deficiência e a pobreza se retroalimentam. Uma em cada cinco famílias que vivem na pobreza extrema na região tem um membro com alguma deficiência. Além disso, cerca de sete em cada dez famílias cujos membros têm deficiências ficam vulneráveis a cair na pobreza em situações de crise.
O estudo mostra como alguns grupos que já encaram algumas desvantagens são especialmente vulneráveis, incluindo as mulheres, a população rural, as populações indígenas e os afrodescendentes. Segundo aponta o levantamento do Bando Mundial, em países tão diversos quanto o Brasil, a Costa Rica, o Equador, o México e o Uruguai, as pessoas com deficiências são, em média, 24% menos propensas a completar o ensino fundamental.
O número sobe para 30% se esse grupo de pessoas também estão inseridas numa minoria étnico-racial. As desigualdades de gênero também agravam os desequilíbrios. Na maioria dos países da região analisada, a probabilidade de vulnerabilidade aumenta se a família é liderada por uma mulher.
Quando uma família tem uma pessoa com dependência funcional, geralmente são as mulheres que assumem as responsabilidades pelos cuidados não remunerados, segundo revelou o estudo. O valor desse trabalho não remunerado varia de 16% a 25% do PIB.
“Na América Latina e no Caribe, nós temos a enorme tarefa de reconstruir as economias após uma das crises mais devastadoras, causada pela pandemia da Covid-19. Evidências globais comprovam que o crescimento por si só não será suficiente para reduzir as desigualdades existentes,” declarou Jaramillo.
O estudo do Banco Mundial destaca ainda que o número de pessoas com deficiência tende a aumentar no futuro devido ao envelhecimento da população, já que as deficiências tendem a se acumular com a idade. A estimativa é que a população da América Latina e Caribe com idade acima de 60 anos deve aumentar dos atuais 59 milhões para aproximadamente 196 milhões em 2050.
Segundo o relatório, se não houver política de inclusão, a sustentabilidade da recuperação pós-pandemia no longo prazo pode ser prejudicada.
Considerando que as pessoas com deficiências são um grupo diverso, o relatório enfatiza a importância de elaborar políticas ajustadas às condições específicas de cada país e situação. Segundo o levantamento, são necessárias informações, além de objetivos claros e mensuráveis, abordagem e eliminação de estereótipos, e fortalecimento das organizações de pessoas com deficiências.
O relatório conclui que há um grau de extrema vulnerabilidade de grande parte desse grupo e ressalta a crescente visibilidade da exclusão das pessoas com deficiências. Para o Banco Mundial, essa situação representa um desafio significativo para o desenvolvimento sustentável da América Latina e do Caribe