Inflação menor amplia espaço para corte de juro, mas o BC vai olhar para frente
Com a economia mais lenta, governo quer estimular a atividade e a pressão sobre a Selic pode crescer
O espaço para o corte dos juros cresce à medida que a inflação desacelera no Brasil. Os últimos números do IPCA-15 reforçam a leitura de que o efeito do aperto monetário está cada vez mais presente na economia, com a redução do ímpeto da inflação. Agora, resta saber como o Banco Central reagirá.
Em Brasília, volta-se a ouvir sobre a política monetária do BC. Diante de números incontestáveis de desaceleração da atividade, o Palácio do Planalto corre para tentar estimular a economia. Mas, como não há dinheiro, muita gente volta a lembrar da taxa Selic.
Há pressão para a continuidade dos cortes e uma ala do governo defende que há, inclusive, espaço para cortes mais ousados. Os números recentes da inflação devem reforçar essa artilharia. A prévia da inflação medida pelo IPCA-15 em janeiro ficou em 0,31% — bem abaixo da previsão de 0,47% dos analistas.
Olhando apenas para a inflação pelo retrovisor da economia há, de fato, espaço para cortes mais ousados do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas, nessas horas, o BC dirige a política monetária olhando apenas e tão somente pelo para-brisas. Costuma ignorar o retrovisor.
Inflação benigna, BC cauteloso
Os economistas do Deutsche Bank reconhecem que o Brasil vive um momento benigno na inflação, mas não apostam em ousadia no BC.
“Não vemos espaço para aceleração, mas também é muito cedo para falar uma desaceleração do ciclo de cortes”, disseram os analistas do banco alemão em relatório sobre a América Latina enviado aos clientes nesta sexta-feira, 26.
Para a equipe do banco alemão, ainda que haja “muito espaço” para cortes da taxa Selic, o BC deve seguir o mesmo receituário – com cortes idênticos de 0,50 ponto – porque há dúvidas relacionadas à economia brasileira.
Nesse para-brisas usado pelo BC para dirigir, o Deutsche Bank lembra que não está muito claro se a recente alta dos preços dos serviços será transitória. Também há preocupação sobre a ociosidade da economia, que tem diminuído sistematicamente em temas como a queda do desemprego. Isso quer dizer que pode surgir pressão inflacionária à frente.
Há, ainda, a persistência da grande incerteza sobre as contas públicas. O recente episódio do anúncio da nova política industrial fez renascer o temor de uso de recursos públicos para incentivar a economia.
Se isso acontecer, o dólar e os juros futuros subiriam imediatamente e as perspectivas de inflação, como consequência, apontariam para cima.
Diante de tantas incertezas domésticas, o provável é que o Copom mantenha o receituário com novos cortes – no plural – de 0,5 ponto nas próximas reuniões.
É como o conselho dado às crianças: desça a escada devagar. Se correr, pode cair e se machucar.