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    Inflação menor amplia espaço para corte de juro, mas o BC vai olhar para frente

    Com a economia mais lenta, governo quer estimular a atividade e a pressão sobre a Selic pode crescer

    Fernando Nakagawada CNN , São Paulo

    O espaço para o corte dos juros cresce à medida que a inflação desacelera no Brasil. Os últimos números do IPCA-15 reforçam a leitura de que o efeito do aperto monetário está cada vez mais presente na economia, com a redução do ímpeto da inflação. Agora, resta saber como o Banco Central reagirá.

    Em Brasília, volta-se a ouvir sobre a política monetária do BC. Diante de números incontestáveis de desaceleração da atividade, o Palácio do Planalto corre para tentar estimular a economia. Mas, como não há dinheiro, muita gente volta a lembrar da taxa Selic.

    Há pressão para a continuidade dos cortes e uma ala do governo defende que há, inclusive, espaço para cortes mais ousados. Os números recentes da inflação devem reforçar essa artilharia. A prévia da inflação medida pelo IPCA-15 em janeiro ficou em 0,31% — bem abaixo da previsão de 0,47% dos analistas.

    Olhando apenas para a inflação pelo retrovisor da economia há, de fato, espaço para cortes mais ousados do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas, nessas horas, o BC dirige a política monetária olhando apenas e tão somente pelo para-brisas. Costuma ignorar o retrovisor.

    Inflação benigna, BC cauteloso

    Os economistas do Deutsche Bank reconhecem que o Brasil vive um momento benigno na inflação, mas não apostam em ousadia no BC.

    “Não vemos espaço para aceleração, mas também é muito cedo para falar uma desaceleração do ciclo de cortes”, disseram os analistas do banco alemão em relatório sobre a América Latina enviado aos clientes nesta sexta-feira, 26.

    Para a equipe do banco alemão, ainda que haja “muito espaço” para cortes da taxa Selic, o BC deve seguir o mesmo receituário – com cortes idênticos de 0,50 ponto – porque há dúvidas relacionadas à economia brasileira.

    Nesse para-brisas usado pelo BC para dirigir, o Deutsche Bank lembra que não está muito claro se a recente alta dos preços dos serviços será transitória. Também há preocupação sobre a ociosidade da economia, que tem diminuído sistematicamente em temas como a queda do desemprego. Isso quer dizer que pode surgir pressão inflacionária à frente.

    Há, ainda, a persistência da grande incerteza sobre as contas públicas. O recente episódio do anúncio da nova política industrial fez renascer o temor de uso de recursos públicos para incentivar a economia.

    Se isso acontecer, o dólar e os juros futuros subiriam imediatamente e as perspectivas de inflação, como consequência, apontariam para cima.

    Diante de tantas incertezas domésticas, o provável é que o Copom mantenha o receituário com novos cortes – no plural – de 0,5 ponto nas próximas reuniões.

    É como o conselho dado às crianças: desça a escada devagar. Se correr, pode cair e se machucar.

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