Indústria elogia plano e avalia que R$ 300 bilhões ainda são “insuficientes”
Empresários destacam que valor é abaixo do empregado por outros países e pontuam que responsabilidade fiscal não pode ser esquecida
Dirigentes da indústria elogiaram o plano lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira (22), em solenidade no Palácio do Planalto, mas se alternaram entre avaliações de que os R$ 300 bilhões para políticas industriais ainda são “insuficientes” para competir com o restante do mundo e advertências de que a responsabilidade fiscal não pode ser esquecida.
“É um valor insuficiente, mas um belo ponto de partida”, afirmou o diretor de desenvolvimento industrial e economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, em referência às novas linhas de financiamento prometidas pelo governo. Elas vão somar R$ 300 bilhões.
Lucchesi lembrou que os Estados Unidos destinam US$ 1,9 trilhão (R$ 9,4 trilhões) para políticas industriais e a União Europeia tem cerca de € 2 trilhões (R$ 10,8 trilhões) reservados para essa finalidade.
“Ainda temos pouco, precisamos fazer mais, mas é um bom começo”.
O executivo criticou a “visão preconceituosa” sobre políticas voltadas ao setor e enfatizou que o Brasil foi o país que mais perdeu complexidade industrial nos últimos 40 anos. Para ele, há “falsa celeuma” nas queixas de economistas sobre medidas de apoio à indústria pelo Estado.
“Todos os países avançados do mundo prestam apoio à exportação, fazem exigências de conteúdo local e oferecem margem de preferência a fornecedores nacionais em compras públicas”, disse Lucchesi.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio Lima Leite, avaliou o plano como “fundamental” para a recuperação da indústria como um todo.
Segundo ele, a nova política industrial anunciada pelo governo Lula ajudará montadoras instaladas no Brasil a barganhar mais investimentos em expansão de suas unidades por aqui.
“Quando estamos trabalhando com as nossas matrizes para trazer mais investimentos ao Brasil, ajuda muito ter uma sinalização e um plano bem estruturado do governo, como é o caso”, afirmou Leite.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, também fez uma avaliação positiva do plano e manifestou tranquilidade com as exigências de conteúdo local em projetos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em tese, a preferência por fornecedores nacionais, ainda que com preços superiores, pode afetar o valor global de grandes obras.
Correia acredita que não haverá “forçação de barra” pelo governo no uso do mecanismo. “Se bem utilizado, é uma boa estratégia”, comentou.
Para o presidente da CBIC, trata-se apenas de um pontapé inicial da nova política industrial. “A implementação sempre poderá requerer condições de rumo. Não está nem tudo certo, nem tudo errado. Ajustes ao longo do tempo serão sempre necessários”.
Correia elogiou os instrumentos divulgados no plano — como subsídios, apoio à exportação de serviços de engenharia e linhas de financiamento. Ele só fez a ressalva de que é preciso ter responsabilidade fiscal na condução da economia para preservar os ganhos conquistados até agora.