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    Mari Palma
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    Mari Palma

    Sou jornalista, com pós em moda, neurociência e comportamento. Também sou embaixadora da Marvel, fã de Friends e Beatles, 4 vezes tia e mãe de cachorro

    BBB e a rodinha dos homens: um clássico de quase toda edição

    Dessa vez, a conversa foi sobre o corpo da Yasmin Brunet: “já foi melhor”, eles acham -- e eles não têm que achar nada

    Olha eu aqui de novo falando sobre machismo! Eu juro que não queria que fosse desse jeito, mas o mundo não anda ajudando muito, não. Eu tinha até começado a preparar um texto super legal sobre as férias com meus sobrinhos, mas infelizmente a polêmica do BBB apareceu e não tem como ignorar.

    Caso você não tenha acompanhado, explico rapidinho: um dos participantes, o cantor Rodriguinho (dos Travessos, aquele “sorria que eu estou te filmando” lembra?) aparentemente tem uma autoestima bastante elevada e resolveu falar sobre o corpo da Yasmin Brunet, que também está nessa edição.

    Ele disse que ela “já foi melhor” e que, aos 35 anos, está “mais velha, largou a mão”. Não satisfeito, ele incorporou o papel de fiscal da alimentação alheia e continuou “hoje, ela comeu dois pacotes de bolacha com requeijão inteiros”.

    O Rodriguinho. Sim, esse aqui da foto. Falando sobre o corpo dessa mulher também na foto.
    Yasmin Brunet e Rodriguinho participam do BBB24

    Yasmin Brunet e Rodriguinho participam do BBB24 / Reprodução/Globo

     

     

     

     

    Antes de continuar, só queria dizer que quando as pessoas falam sobre machismo, isso não significa um ataque a TODOS OS HOMENS DO PLANETA. Como diz Tracy Figg, “nem todo homem, mas sempre um homem”.

    Sim, existem homens aliados. Mas existem homens que não querem, de jeito nenhum, perder o poder que ganharam dentro de uma sociedade extremamente desigual que os privilegiou por tanto tempo. Eles não querem ouvir. O que eles querem é continuar falando o que vier na cabeça, doa a quem doer.

    E foi isso que o Rodriguinho fez – se sentiu poderoso e no direito de julgar o corpo de uma mulher. Chamar de velha. Outra coisa que me preocupou bastante foi o tanto de gente que não entendeu qual foi o problema nisso. “Ah, mas ele só deu a opinião dele”. Uma opinião que ninguém pediu. Fazer isso só contribui pra perpetuar aquele padrão de beleza inalcançável que a gente vem combatendo incansavelmente há tanto tempo. Se o corpo da Yasmin não é bonito, o que ele diria sobre outras mulheres consideradas fora desse padrão? O que me faz pensar: será que a revolta seria a mesma caso a crítica fosse em relação ao corpo de uma mulher gorda?

    A briga tem que ser pela liberdade de todas nós. Todas nós que somos vítimas, em maior ou menor grau, dessa realidade machista que não nos permite ser nada além de um estereótipo. Como bem diz a personagem da America Ferrera em Barbie: “você tem que ser magra, mas não muito magra. (…) Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens, que é uma loucura, mas se apontar isso, é acusada de reclamar. Você deve permanecer bonita para os homens, mas não tão bonita a ponto de seduzi-los demais ou de ameaçar outras mulheres porque deveria fazer parte da irmandade. (…) Você nunca deve envelhecer, nunca deve ser rude, nunca se exibir, nunca ser egoísta, nunca cair, nunca falhar, nunca mostrar medo, nunca sair da linha.”

    É difícil demais existir assim. Cansa. Eu, por exemplo, queria ter escrito um texto sobre outro assunto. Mas não consigo e não posso mais ficar quieta em situações assim. Porque não é só pela Yasmin – é por mim, por você que está lendo e por todas as mulheres que querem viver em paz, completas e complexas como somos, comendo o pacote inteiro de bolacha com requeijão, se for o caso.