Alardear um país diferente não vai atrair investidores em Dubai, diz economista
O professor de economia da ESPM Leonardo Trevisan acredita que a estratégia da comitiva brasileira em Dubai não é a melhor para captar investimentos estrangeiros árabes
Em entrevista à CNN, o professor de economia da ESPM Leonardo Trevisan afirmou que o Brasil está tentando vender um país diferente em Dubai para atrair investimentos. “Alardear um Brasil diferente da realidade não vai atrair os investidores árabes. Eles educadamente vão ouvir o que temos a dizer, mas conhecem bem nossos números”, disse.
Para o economista, a comitiva brasileira que foi à Dubai não está com o foco correto para atrair os investimentos ao Brasil. Além de apresentar outro país para os árabes, Trevisan ressaltou que a estratégia para destinar os possíveis recursos não é a mais adequada.
“O ministro Paulo Guedes está oferendo aos investidores árabes a participação nos nossos leilões de petróleo e gás. Basta lembrarmos que há um mês oferecemos 27 regiões de petróleo e nenhuma foi vendida. Estamos oferecendo algo que não tem revelado interesse”, comentou.
No início da visita à Dubai, Bolsonaro afirmou, em entrevista à âncora da CNN Glória Vanique, que os ministros brasileiros e árabes passariam a travar conversas sobre temas de interesse mútuo, como agricultura e inteligência artificial.
“Interesses existem em ambas as partes. Agricultura é muito importante para eles. Inteligência artificial, estamos tratando desse assunto. Defesa – eles têm um interesse no nosso KC 390 –, [no campo] educacional, com alguns acordos assinados também”, disse Bolsonaro. “Estamos começando em Dubai, ao meu entender, com o pé direito”, concluiu.
Segundo o professor, a equipe do ministro deveria procurar explorar melhor os interesses da indústria brasileira e buscar mostrar mais responsabilidade ambiental e sustentável, algo que, em sua visão, atrai mais investimentos.
“Nem o ministro da Economia, nem presidente da República falaram uma palavra para atender os interesses da indústria”, observou. “Temos cadeias de valores já constituídas com o agronegócio, na qual os árabes são nossos fregueses e não nossos investidores”, acrescentou.
Outro ponto que chama a atenção de Leonardo Trevisan é a situação fiscal do Brasil. Ele diz que o imbróglio das últimas semanas causado pelo possível drible no teto de gastos tem preocupado não somente a imprensa brasileira, mas o mundo todo.
“Os jornais de qualquer investidor, o Financial Times e a The Economist, publicaram editorias bastante preocupados com a situação fiscal do Brasil. O quadro fiscal do país interessa para esses investidores porque, se colocarem dinheiro aqui, eles esperam receber de volta”, explicou.
O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta segunda-feira (15), que os ataques sofridos pelo Brasil “não são justos” e pediu que as pessoas procurassem saber mais sobre o país.
“Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato”, declarou o presidente.
Texto publicado por Fabricio Julião