Entenda como a eleição em Taiwan pode ampliar conflito com a China
Pequim continua ameaçando a ilha e promete “esmagar qualquer plano de independência”
Taiwan realiza suas cruciais eleições presidenciais e legislativas neste sábado (13), em meio a ameaças cada vez mais diretas da China.
O Ministério da Defesa chinês disse na sexta-feira (12) que está preparado para “esmagar qualquer plano de independência” da ilha, em uma clara tentativa de influenciar os resultados eleitorais.
O governo chinês nunca reconheceu Taiwan e deixa cada vez mais escancarado que tem planos para anexar a ilha, que considera parte inseparável de seu território.
O presidente Xi Jinping, por exemplo, disse no fim de 2023 que “é inevitável” que Taiwan volte a fazer parte da China.
O líder comunista também se recusa a afastar a possibilidade de uso da força militar para subjugar a ilha, que formou um governo independente de Pequim em 1949, logo depois da derrota nacionalista para as forças comunistas de Mao Tse Tung na guerra civil do país.
Por isso, o governo chinês trabalha abertamente contra o candidato do Partido Progressista Democrático (PPD) Lai Ching-te, o atual vice-presidente do país e líder das pesquisas de intenção de voto.
Também conhecido como William Lai, o político é odiado pelo governo chinês por sua defesa da independência total do país.
Tanto que porta-vozes de Pequim disseram abertamente, às vésperas da votação, que os eleitores em Taiwan deveriam fazer a “escolha certa” e que uma vitória de Lai seria um “grave perigo” para as relações com a China.
Lai evitou provocar ainda mais a China durante a campanha, afirmando que Taiwan já é independente de fato e que, portanto, não precisa fazer mais declarações nesse sentido. Essa é a mesma linha adotada pela atual presidente, também do PPD, Tsai Ing-wen, no poder há 8 anos.
No entanto, Lai defendeu uma aproximação mais profunda da ilha com os Estados Unidos e outros países ocidentais, como forma de dissuadir a China de qualquer aventura militar.
Uma linha oposta foi defendida pelo principal oponente de Lai, o candidato do Kuomitang, o Partido Nacionalista, Hou Yu-ih.
O nacionalista defende mais diálogo e uma aproximação comercial maior com a China continental, com o argumento de que laços mais sólidos ajudariam a diminuir as tensões e eliminar o risco de um conflito militar.
Este tipo de discurso agrada muito mais a Pequim, apesar de os nacionalistas, à época liderados por Chiang Kai Shek, terem sido os adversários históricos dos comunistas nos tempos na guerra civil. Ao fugir para Taiwan, Kai Shek declarou a separação da ilha do país e criou um regime militar autoritário que persistiu até 1996.
Hou aparece em segundo nas pesquisas de intenção de voto, seguido pelo terceiro candidato considerado competitivo: Ko Wen-je, do Partido do Povo de Taiwan (PPT).
Ex-presidente da câmara de Taipé, Ko fundou o PPT para tentar derrubar a influência dos dois outros partidos.
Ele tentou focar sua campanha mais em questões econômicas do que nas relações com a China –um tema também muito importante para o eleitorado devido ao aumento do custo de vida e o alto desemprego entre os mais jovens.
Papel dos Estados Unidos
Além da China, os Estados Unidos também acompanham com grande atenção a disputa eleitoral na Ásia.
Washington não reconhece formalmente a independência de Taiwan, mas os dois governos têm um grande e profundo relacionamento comercial e de cooperação militar. O governo americano também sempre se comprometeu a defender Taiwan em caso de qualquer agressão chinesa.
A China, por seu lado, advertiu os Estados Unidos a não alimentar as tensões na região e não se envolver na disputa eleitoral de Taiwan de qualquer forma.
Para ampliar a pressão sobre Taiwan, a China vem aumentando muito os exercícios militares em torno da ilha.
Os militares chineses também não respeitam mais a simbólica linha mediana que separa o continente do território no estreito de Taiwan, com seus caças cruzando a teórica “fronteira” quase diariamente.
O resultado da eleição, em especial uma vitória de Lai, pode aprofundar ainda mais as tensões na região.