Ex-funcionário do BC da China acusado de aceitar subornos admite “grande erro”
Programa da emissora estatal do país revela diversos escândalos e investigações
Fan Yifei, um ex-funcionário do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), admitiu num documentário da emissora estatal CCTV ter cometido um “grande erro”. O programa alega que Fan aceitou subornos desde o início do seu mandato.
Um dos altos funcionários do banco central chinês de 2015 a 2022, ele foi acusado de suborno em setembro de 2023.
As novas revelações sobre Fan surgiram um dia depois de o líder chinês Xi Jinping ter prometido ir atrás de “moscas e formigas” como parte de uma campanha anticorrupção com as indústrias de finanças, energia e infraestrutura na mira.
O programa da CCTV, que foi ao ar na terça-feira (9) como parte de uma série de quatro partes, detalhou a extensão dos supostos crimes de Fan enquanto ele era vice-governador.
O documentário descreveu como Fan recebeu pagamentos “extraordinariamente massivos” de executivos de várias empresas em troca de favores, após assumir a segunda posição mais alta do PBoC.
“Eu queria possuir grande poder e, ao mesmo tempo, ser rico”, disse Fan no documentário. “Cometi um grande erro.”
Segundo a CCTV, Fan aceitou pagamentos de empresários por meio da empresa de investimentos de seu irmão. Em troca, ele supostamente facilitou a garantia de empréstimos e contratos.
Ele também teria aceitado presentes, como ingressos para shows e convites para jogos de golfe, de outras pessoas que tentavam se aproximar dele.
O programa não especificou quanto dinheiro Fan aceitou no total.
Qian Long, membro da Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCDI), o principal órgão de fiscalização anticorrupção da China, disse à emissora estatal que Fan se envolveu em “inúmeros novos tipos de corrupção invisíveis e mutantes”.
Qian disse que o ex-banqueiro central “usou as regras dos mercados financeiros como cobertura para implementar transações de poder por dinheiro”.
Fan foi colocado sob investigação pelas autoridades chinesas em novembro de 2022, o que o levou a deixar o banco, segundo a agência de notícias oficial Xinhua. Ele foi expulso do Partido Comunista em junho de 2023.
Em uma declaração conjunta, a CCDI e a Comissão Nacional de Supervisão disseram que Fan participou de banquetes luxuosos e de viagens “em violação dos regulamentos por muito tempo”.
Ele ajudou a conseguir empregos para pessoas, incluindo parentes que conseguiam obter salários sem realmente trabalhar, disseram as agências governamentais.
Durante o ano passado, a CCDI embarcou numa repressão abrangente ao setor financeiro que atraiu alguns dos maiores nomes do país, incluindo Liu Liange, antigo presidente do Banco da China; e Wang Bin, antigo chefe da China Life Insurance. Ambas as empresas são de propriedade estatal.
No início deste mês, outro antigo líder empresarial na China foi afastado do Partido Comunista, mostrando como a campanha continuava no novo ano.
Tang Shuangning, ex-presidente e chefe do partido do China Everbright Group, foi expulso depois que uma investigação descobriu que ele havia aceitado fundos e presentes ilegalmente, incluindo abundantes quantidades de propriedades, segundo as autoridades.
Tang foi presidente de 2007 a 2017 da China Everbright, um dos maiores e mais antigos conglomerados financeiros estatais do país.
Também, na quinta-feira, Wang Yongsheng, ex-vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da China, controlado pelo Estado, foi detido sob suspeita de suborno, de acordo com um relatório da Xinhua publicado no site da CCDI.
O jornal estatal chinês China Daily informou na semana passada que Wang havia sido expulso do partido após uma investigação que supostamente descobriu que ele possuía ações ilegalmente de empresas não listadas, entre outras violações.
Além do caso de Fan, o documentário da CCTV expôs corrupção em um grupo estatal de investimento em energia e nos mais altos níveis do esporte chinês.
Foi alegado que Li Tie, ex-técnico da equipe nacional de futebol masculino, recebeu milhões de dólares em subornos em troca da seleção de jogadores de um determinado clube de futebol, entre outros crimes.
Li deixou seu cargo em dezembro de 2021, antes de ser investigado pelas autoridades em 2022. Ele foi indiciado por suspeita de suborno em agosto de 2023, segundo a Xinhua.
O documentário causou um rebuliço desde sua transmissão. Na quinta-feira, era um dos principais tópicos de tendência no Weibo, a plataforma de rede social chinesa semelhante ao Twitter, com 150 milhões de visualizações.
Matéria traduzida do inglês: Leia a reportagem original aqui