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    Mundo precisa se livrar do carvão e substituir energia fóssil para salvar clima

    Líderes mundiais que participam da COP26 vão intensificar seus esforços para criar prazo para o fim do uso do maior contribuinte individual da crise do clima

    Angela DewanAngus WatsonLauren KentPhil Blackda CNN*

    Em uma tranquila manhã de domingo, um estrondo ensurdecedor reverberou pela vila inglesa de Eggborough quando quatro torres gigantes de resfriamento de concreto implodiram e desabaram, transformadas em nuvens de destroços em questão de segundos.

    Momentos após a sua demolição, era difícil imaginar que as estruturas estiveram lá, tão deslocadas como sempre estiveram, erguendo-se 90 metros no céu entre os campos verdes que cercam o rio Aire. A estação de Eggborough é apenas uma das 14 termoelétricas movidas a carvão que o Reino Unido aposentou na última década.

    Em 2012, 40% da energia do Reino Unido veio do carvão. Em 2020, esse volume estava abaixo de 2%. No ano passado, o país passou 67 dias sem usar carvão para gerar energia.

    Na quinta-feira (4), os líderes das questões climáticas nas negociações da COP26 em Glasgow, na Escócia, irão intensificar seus esforços para colocar um prazo final no uso de carvão, o maior contribuinte individual para a crise climática.

    Na reunião do G20 em Roma no fim de semana, os líderes não especificaram como eliminariam o carvão. Será difícil convencer os países em desenvolvimento a se esforçarem mais do que o mundo rico.

    O quadro é bastante animador na Europa Ocidental e até mesmo nos Estados Unidos, onde parece que o combustível fóssil está de fato nas últimas, exceto por alguns bolsões de resistência.

    Bélgica, Áustria e Suécia estão entre um número crescente de países europeus que não usam mais carvão para gerar eletricidade. Nos Estados

    Unidos, que tecnicamente não têm um plano de eliminação do carvão, o combustível caiu drasticamente em favor do gás natural, que emite cerca de metade do dióxido de carbono. Um lento, mas constante aumento da energia eólica também está ajudando a tirar o carvão do mercado.

    Dependência dos EUA na energia de carvão caiu em 20 anos

    O consumo de combustível fóssil tem diminuído nos últimos anos devido ao baixo preço do gás natural e às preocupações com as mudanças climáticas. Mas espera-se que as empresas de energia aumentem a participação da energia gerada a partir do carvão em 22% este ano, em resposta ao aumento dos preços do gás natural.

    Globalmente, as propostas de novas termoelétricas movidas a carvão estão sendo rapidamente canceladas. Um relatório do think tank climático E3G encontrou uma redução de 76% em projetos desde que o Acordo de Paris foi assinado em 2015.

    Mas a tendência é distribuída de forma desigual. As usinas de carvão ainda estão crescendo em grande parte da Ásia e, embora a geração de energia a partir do carvão tecnicamente tenha atingido o pico em 2013, ela basicamente se estabilizou desde então.

    A atual crise energética global, desencadeada por uma recuperação econômica mais rápida do que o esperado em meio à pandemia, deu até um impulso na tendência. Os preços do carvão no mês passado estavam em sua maior alta histórica.

    Para cada Bélgica, Áustria e Suécia, há uma China, Índia e Indonésia onde o carvão ainda é rei. Deixar o carvão apenas na história é um requisito para conter as rápidas mudanças climáticas, mas pode não acontecer tão rapidamente quanto os líderes climáticos ocidentais gostariam.

    Queima de carvão está concentrada no hemisfério norte

    Existem mais de 6.000 termoelétricas movidas a carvão no mundo, mas nas últimas duas décadas, a construção dessas usinas surgiu principalmente no leste e sudeste da Ásia, enquanto os EUA e a Europa terceirizavam a produção de aço e manufatura.

    No entanto, Alok Sharma, o parlamentar britânico que preside a COP26, tem esperança de que isso ainda possa acontecer.

    O G20 concordou em parar de financiar projetos internacionais de carvão até o final do ano. A China assumiu um compromisso semelhante em

    setembro, removendo a maior fonte de financiamento internacional de carvão do planeta.

    “Isso efetivamente acabou com o financiamento público para projetos de carvão no exterior”, disse Sharma à CNN Internacional. “Para cumprir os objetivos do Acordo de Paris, todos os países precisam aumentar sua ambição e agir com urgência para deixar o carvão”.

    Houve algum movimento nesse sentido. O governo do Reino Unido irá anunciar na quinta-feira (4) que 18 novos países (incluindo grandes usuários de carvão como Polônia e Vietnã) e dezenas de organizações se comprometeram a parar de construir novas usinas a carvão e eliminar o combustível fóssil até 2030 para as nações desenvolvidas e 2040 para o mundo em desenvolvimento.

    Apesar de todo esse progresso, uma verdadeira transição global do carvão só acontecerá quando a China decidir.

    China consome mais carvão do que o resto do mundo

    Foi na China que o mundo viu a primeira mina de carvão em grande escala como os conhecemos, há cerca de 3.000 anos, e a China provavelmente será o país que selará o destino do carvão.

    A China consome mais carvão do que o resto do mundo combinado. Ela precisa do carvão não só para manter as luzes acesas para 1,4 bilhão de pessoas, como também para produzir grandes quantidades de mercadorias para exportação e itens da indústria pesada (como aço, cimento e produtos químicos) usados em todo o mundo.

    Embora a China tenha prometido parar de financiar projetos de carvão no exterior, ainda está construindo termelétricas e abrindo minas em um ritmo acelerado.

    A China tem mais de 1.200 usinas movidas a carvão em operação e tem planos de construir mais 150, de acordo com o Global Energy Monitor (GEM), que monitora a infraestrutura de combustíveis fósseis e o financiamento em todo o mundo. Só em 2019, a China abriu 102 minas, como mostram os dados do GEM.

    “A escala do que a China vem construindo nas últimas duas décadas é extraordinária. Ela responde agora por metade da energia mundial advinda do carvão”, afirmou a diretora do programa de carvão do GEM, Christine Shearer, à CNN.

    “Houve muito progresso na redução do aumento de projetos das usinas a carvão e na estabilização da demanda de energia a carvão globalmente, mas isso precisa acontecer muitíssimo mais rápido se quisermos manter as metas climáticas vivas”.

    Carvão / Reprodução

    Cientistas dizem que o mundo precisa reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa nesta década e chegar a emissões líquidas zero (net zero) até meados do século para ter qualquer chance de conter o aquecimento global a um nível que evite uma catástrofe.

    “Para chegar às emissões líquidas zero em 2050, é preciso ter de fato um setor de energia com zero carbono uma década antes”, disse Shearer. “Assim o mundo não deveria usar carvão depois de 2040”.

    O enviado da China para o clima, Xie Zhenhua, disse em Glasgow na terça-feira (2) que a meta de seu país era controlar estritamente o consumo de carvão entre agora e 2025 e reduzi-lo gradualmente até algum ponto antes de 2030. O governo chinês também disse recentemente que os combustíveis fósseis representariam apenas 20% de sua matriz energética até 2060, quando planeja ser neutro em carbono. Líderes globais do clima, incluindo Sharma e o enviado para assuntos climáticos dos EUA, John Kerry, pressionaram a China a agir ainda mais rápido e com mais ambição.

    A China diz que está cumprindo sua parte e, como nação em desenvolvimento, não se deve esperar que tenha os mesmos objetivos que o mundo desenvolvido.

    “Nos últimos 200 anos, os países desenvolvidos, em processo de industrialização, têm emitido gases de efeito estufa na atmosfera e têm uma responsabilidade histórica incontornável pela mudança climática global”, declarou o Ministério das Relações Exteriores da China à CNN em um comunicado.

    “A China sempre fez o que diz ao responder às mudanças climáticas. Implementaremos totalmente nossos compromissos e trabalharemos duro para fazer melhor dentro de nossas capacidades”.

    Carvão continua sendo uma importante fonte de energia na China

    A dependência da China do carvão caiu desde os anos 2000. No entanto, em 2020, o país produziu mais energia a carvão como porcentagem de sua produção de energia (60%) do que a média global (28%).

    Uma crise energética global com a China no centro não ajudou em nada os problemas atuais. Há apenas um ano, as autoridades federais de Pequim estavam pedindo aos líderes de províncias do país que produzissem menos carvão, em parte para ajudar a China a cumprir suas metas

    climáticas. Mas, no mês passado, o governo encomendou o projeto de mais de 70 minas na província da Mongólia Interior para adicionar 1 bilhão de toneladas de carvão à sua produção. Apenas algumas semanas atrás, o governo disse a cada operador de mina no país para produzir o máximo de carvão possível.

    Olhando para a atividade na Mongólia Interior, é difícil imaginar a China cumprindo até mesmo suas promessas atuais. Mais de 300 usinas de carvão e 100 minas estão espalhadas ao longo desta província, que se estende por 2.400 quilômetros até a Rússia, em paisagens mutáveis de estepes de pastagens, deserto, florestas e pântanos.

    COP26 | 03/11/2021
    / UN Climate Change/Kiara Worth

    No entanto, a província também tem um enorme potencial de energias renováveis, parte do qual está explorando.

    Nas dunas de areia do deserto de Kubuqi, fica uma gigantesca fazenda solar do tamanho de quase 200 campos de futebol, com painéis cuidadosamente dispostos de forma que, se você os observar de um avião, formam a imagem de um cavalo a galope. Lentamente, um projeto de reflorestamento está trazendo plantas, grama e agricultura de volta a este deserto, antes repleto de vida que foi perdida pelo uso excessivo da terra.

    Li Danqing, uma ativista do clima e energia do Greenpeace em Pequim, disse que as províncias de mineração de carvão na China não eram diferentes das de qualquer outro país que lutou para se livrar do carvão – e que a questão tem muito a ver com empregos. Segundo ela, algumas das fábricas construídas na Mongólia Interior nem são necessárias para atender à demanda.

    “Há uma pressão enorme para garantir o sustento das pessoas nessas províncias de mineração de carvão. Portanto, isso é uma coisa que ainda precisa ser resolvida, que é como encontrar novas indústrias para os moradores”, explicou Li à CNN.

    “As energias renováveis são uma opção muito boa porque a Mongólia Interior não só tem reservas de carvão muito grandes, mas também seus recursos eólicos e solares são muito abundantes. Portanto, a Mongólia Interior poderia realmente ser um modelo para essas províncias de mineração de carvão para levar a uma economia de baixo carbono”.

    Na COP26, o presidente da conferência, o britânico Sharma, esperava que o mundo em desenvolvimento e emergente, incluindo grandes usuários de carvão como China, Índia e Indonésia, acabasse com o uso do combustível fóssil em 2040. Embora uma data final para o carvão na Ásia não esteja à vista, há algum movimento nessa direção.

    Após o anúncio de que EUA, Reino Unido e UE ajudariam a África do Sul a financiar a transição do carvão, o ministro das Finanças da Indonésia, Sri Mulyani Indrawati, disse que seu país estava procurando um acordo semelhante. A Indonésia é o sétimo maior usuário de carvão do mundo e depende muito dele para obter energia. O país é o segundo maior exportador de carvão por volume.

    A expectativa é que os países desenvolvidos, que já se industrializaram e mais contribuíram para a crise climática, começassem primeiro, até 2030.

    Mas eles estão longe disso ainda.

    Austrália aprova novas minas

    A delegação da Austrália foi às negociações da COP26 em Glasgow com os planos climáticos mais fracos de todas as nações desenvolvidas do G20. O país não tem uma data final clara para o carvão e seu governo disse que planeja manter a mineração e exportar o combustível fóssil bem além de 2030.

    A Austrália ganha mais dinheiro do que qualquer outra nação exportando carvão de suas cerca de 100 minas e tem a maior proporção de carvão em sua matriz energética de todas as nações desenvolvidas do G20, com 54%, de acordo com o clima e a energia do think tank Ember.

    Enquanto países como a China demandarem enormes volumes de carvão, o governo da Austrália deixou claro que continuará fornecendo a eles. A Austrália fatura cerca de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 277 bilhões) anualmente em exportações de carvão e o setor emprega diretamente cerca de 50 mil australianos, segundo dados do governo. O país aprovou três novas minas recentemente no espaço de um mês.

    A verdadeira vantagem para o governo australiano é que todo o carvão que exporta não é contabilizado nos níveis oficiais de emissões de gases de efeito estufa do país. As regras da ONU dizem que as emissões de um país são baseadas nos combustíveis fósseis que eles queimam, não nos que desenterram e vendem no exterior.

    COP26 / ADRIAN DENNIS/AFP/Getty Images

    “Nosso carvão é o melhor do mundo. As pessoas querem isso. Os países precisam disso. O interesse próprio estará em primeiro lugar todas as vezes”, afirmou Joel Fitzgibbon, que representa a região de Hunter na Austrália no parlamento federal desde 1996.

    Fitzgibbon é membro do Partido Trabalhista, de oposição, mas ele também acredita que o carvão tem um futuro de décadas no país e pode até continuar a ser extraído e usado sem comprometer a promessa da Austrália de chegar a emissões líquidas zero em 2050 – posição na qual o país não emitiria mais gases de efeito estufa do que remove.

    Tim Baxter, pesquisador sênior do Australian Climate Council, que é independente do governo, discorda da avaliação de Fitzgibbon: “A posição está em desacordo com o conselho de todas as autoridades sérias no assunto, incluindo a historicamente conservadora Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que declarou em seu caminho Net

    Zero 2050 em maio deste ano que atingir as emissões líquidas zero requer que nenhum novo carvão, petróleo ou projetos de gás de qualquer tipo sejam desenvolvidos em qualquer lugar do mundo a partir de agora”, disse Baxter à CNN.

    Cerca de 12 mil pessoas na base eleitoral de Fitzgibbon estão diretamente empregadas na indústria do carvão, ganhando salários médios de 100 mil dólares australianos (cerca de R$ 416 mil) por ano.

    “Acho que os benefícios da indústria superam em muito qualquer efeito negativo que ela tenha sobre a comunidade local”, contou Fitzgibbon.

    O exuberante Hunter Valley australiano parece um dos últimos lugares na Terra que deveria ter uma mina de carvão. Esta parte do país é conhecida por seus famosos vinhos e atrai turistas de todo o mundo. Nos fins de semana, fica lotada de residentes de Sydney, que fazem a viagem de duas horas ao norte para escapar da cidade e desfrutar dos vinhedos, restaurantes e fazendas da região que vendem produtos orgânicos.

    O Hunter, como os australianos chamam a região, também está na linha de frente da crise climática. A região foi arrasada pelos incêndios florestais do Black Summer (Verão Negro) de 2019-2020, um evento que os cientistas ligaram às mudanças climáticas.

    Mas, na visão de Fitzgibbon, a Austrália está fazendo ao mundo um favor climático ao exportar carvão.

    “Se parássemos de enviar carvão mineral para a Ásia amanhã, ele seria substituído por algo menos eficiente e aumentaria, não subtrairia das emissões globais”, pontuou.

    Pode haver alguma verdade nisso. Diferentes tipos de carvão podem emitir diferentes quantidades de dióxido de carbono. Mas os cientistas do clima dizem que o mundo precisa acabar totalmente com seu uso, e não há sentido em discutir qual tipo de carvão é “mais limpo” do que outro.

    A ideia de que os benefícios da indústria do carvão superam as desvantagens nessa região também é discutível. Partes da pequena cidade de Bulga, em Hunter, estão sendo engolidas por sua mina de car

    se transformou em uma espécie de cidade fantasma. Yancoal, a empresa chinesa que agora é dona da mina Mount Thorley-Warkworth nessa parte da Austrália, comprou as propriedades que suas operações invadiram, até mesmo o café local.

    “Fomos expulsos pelo carvão”, contou Robert McLaughlin, ex-morador de Bulga. Ele está pelo menos grato por ter vendido sua casa para Yancoal em 2019, fazer as malas e se mudar para outra cidade. “Ficamos arrasados quando partimos. Sentimos que estávamos abandonando nossos amigos”.

    Em um comunicado enviado à CNN, a Yancoal disse que suas operações têm total aprovação do governo e que ela honrou suas obrigações com aqueles de quem comprou terrenos.

    “Não se trata de dano à comunidade”, disse a empresa, acrescentando que comprou o posto de gasolina e a taverna locais e os alugou para preservar os serviços da vila.

    Mas nem todos conseguiram se mudar. Nos arredores de Bulga, as árvores que separam a casa do morador John Krey da mina permanecem carbonizadas quase dois anos após os incêndios do Verão Negro.

    Só este ano, ele recebeu quase 100 mensagens de texto da Agência de Proteção Ambiental do estado de New South Wales, alertando-o de que os níveis de PM10 (que estão ligados à asma, doenças pulmonares e câncer) atingiram patamares inseguros.

    Yancoal reconhece que poeira, qualidade do ar, ruído e iluminação das minas são as principais preocupações em Bulga, mas disse que está tomando as medidas necessárias para reduzir a poluição e que as reclamações relacionadas à qualidade do ar estão diminuindo.

    O morador Krey passou anos fazendo campanha contra a expansão das minas a céu aberto em Hunter Valley, mas agora ele sente que é uma causa perdida.

    “Temos carvão suficiente aqui para satisfazer qualquer que seja a demanda e, ainda assim, estamos aprovando a abertura de mais minas”, disse Krey de sua varanda, com vista para o cinza do Monte Thorley.

    “Acho que o mundo vai forçar a Austrália a fazer a coisa certa”, disse ele, referindo-se à COP26, a cúpula do clima.

    “Mas é tarde demais para nós aqui”.

    As fronteiras finais

    Dados da IEA mostram que o carvão ainda é a fonte de eletricidade mais amplamente usada, e por uma margem enorme. Em 2019, o último ano antes de a pandemia atingir o mundo, cerca de 63% da geração de eletricidade mundial veio de carvão, gás e petróleo. O carvão foi responsável por quase 10 milhões de gigawatts-hora de energia – cerca de 160% a mais do que a energia derivada da segunda maior fonte, o gás natural (outro combustível fóssil), que gerou pouco mais de 6 milhões de GWh. A energia hidrelétrica veio a seguir (cerca de 4 milhões de GWh). A eólica gerou 1 milhão de GWh e a energia solar apenas 680 mil GWh.

    “Não gosto de ser pessimista, mas é importante ser factual. E o consumo de carvão está pelo menos perto de um recorde histórico”, disse Carlos Fernández Alvarez, analista sênior de energia da IEA, à CNN.

    “Quero ser otimista, mas teremos que ver como a tecnologia evolui. Estamos ganhando eficiência, reduzindo o custo de cada tecnologia útil”.

    Ele acrescentou que o investimento em energias renováveis estava aumentando e a capacidade estava crescendo, mas é preciso se mexer muito mais rápido para cumprir um cronograma de eliminação gradual do carvão até 2040 globalmente.

    “Não podemos eliminar o carvão se não pudermos substituí-lo; caso contrário, estamos falando sobre falta de energia, e isso é pobreza”, disse Alvarez. “Portanto, os líderes precisam buscar energia limpa, para acelerar os investimentos e ajudar o mundo em desenvolvimento a fazer uma transição verde”.

    Além da eletricidade, no entanto, existem alguns setores da indústria pesada onde o carvão é, no momento, quase impossível de ser substituído. A siderurgia e a produção de cimento, por exemplo, são feitas a partir da queima do coque ou carvão coqueificável, que possui um teor de carbono muito alto, e ainda não pode ser substituído por energias como solar e eólica. As emissões da fabricação de aço e da produção de cimento apenas na China são maiores do que as emissões totais de CO2 da União Europeia, segundo dados da IEA.

    O hidrogênio verde (produzido pela eletrólise da água por meio de energia renovável) pode ser uma alternativa, mas ainda não está amplamente disponível. Um acordo sobre aço verde em Glasgow reconhece seu potencial e tem como objetivo dar início a um rápido investimento global na fonte de energia e nas máquinas necessárias para produzi-lo.

    Na Áustria, perto da cidade de Graz, a empresa de energia Verbund está fazendo experiências com hidrogênio verde em sua usina de gás natural. A empresa é um símbolo da rápida transição energética da Áustria e do que é possível: ela fica no mesmo terreno que sediou a última usina termoelétrica do país, que fechou suas portas no ano passado.

    A principal função da usina de gás é estabilizar a rede elétrica nacional, mas a Verbund espera que sua usina possa aumentar sua participação de fonte renovável em sua matriz energética. A Áustria pretende operar totalmente com energias renováveis, pelo menos para eletricidade, até 2030.

    A ideia é que, em dias de vento ou de sol, o excesso de eletricidade renovável pode ser aproveitado aqui para produzir gás hidrogênio verde, que pode então ser armazenado ou transportado para uso posterior. Quando o tempo está nublado ou quando as turbinas não estão girando tão bem, o hidrogênio pode ser convertido de volta em eletricidade por meio de uma reação química limpa.

    “A mudança climática é uma realidade, então temos que fazer um grande movimento em direção às energias renováveis”, disse Michael Strugl, presidente-executivo da Verbund.

    “Não temos todas as respostas”, disse Strugl. “Temos que fazer pesquisas, temos que colocar grandes esforços na inovação também. Mas o que sabemos é que precisamos dessa estratégia de emissão zero para salvar o planeta”.

    Martha Zhou e Natalie Thomas, da CNN, contribuíram para esta reportagem.

    (Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês).

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