EUA lançarão foguete nesta segunda para tentar 1º pouso lunar desde 1972
ULA Vulcan Centaur tentará colocar o veículo Peregrine na orbita da Terra para que ele chegue ao solo da Lua
Os Estados Unidos lançará um foguete nesta segunda-feira (8) com o primeiro módulo lunar a ser lançado do país desde a última missão Apollo, da Nasa, em 1972.
O sucesso do foguete (na decolagem e ao levar o modelo), desenvolvido pela joint venture entre Lockheed Martin e Boeing chamada United Launch Alliance, é crucial para o futuro da empresa e para seu desejo de diminuir o domínio da SpaceX na indústria de lançamento comercial.
O módulo lunar, construído pela pequena empresa Astrobotic Technology, com sede em Pittsburgh, pode se tornar a primeira espaçonave desenvolvida comercialmente a fazer um pouso suave na Lua.
A Nasa patrocinou o desenvolvimento de uma pequena frota desses módulos lunares de forma privada.
O objetivo é usá-los para dar aos EUA uma presença na Lua em meio a uma nova corrida espacial internacional que começou a esquentar em 2023.
E embora o programa da Nasa não dependa de um único módulo fazendo um pouso bem-sucedido, esta primeira missão robótica pode definir o tom e o ritmo para os esforços da agência espacial.
O módulo lunar robótico da Astrobotic, Peregrine, está programado para ser lançado a bordo do foguete ULA Vulcan Centaur, da Estação da Força Espacial de Cape Canaveral, na Flórida, na madrugada desta segunda-feira (8).
Previsões recentes mostraram cerca de 85% de chance de o tempo estar limpo para a decolagem. Oportunidades de lançamento de backup também estarão disponíveis nos próximos dias.
O caminho à frente
Especialistas da indústria espacial, incluindo o CEO da Astrobotic, John Thornton, compararam as chances de pousar com sucesso qualquer espaçonave na Lua ao lançamento de uma moeda.
“Isso realmente é como uma abordagem de 50-50 chutes a gol – onde é mais sobre o sucesso da indústria, e não sobre qualquer missão específica”, disse Thornton à CNN em uma entrevista por telefone em 2 de janeiro.
Dito isso, acrescentou Thornton, “colocamos tudo o que podemos nesta missão”.
Chegar à Lua é uma tarefa complexa.
Se o lançamento decolar conforme programado na segunda, o Vulcan Centaur impulsionará o módulo lunar a caminho da Lua – colocando-o no que é chamado de órbita de injeção translunar.
Isso envolve uma queima do motor precisamente cronometrada que empurrará a sonda Peregrine para um caminho na órbita da Terra que lhe permitirá sincronizar-se com a Lua a cerca de 384.400 km de distância.
Cerca de uma hora após o lançamento, o módulo Peregrine deve se separar do foguete e traçar seu próprio caminho, usando propulsores a bordo para se posicionar em um curso preciso em direção à lua.
Depois de chegar à Lua, o Peregrine – batizado em homenagem ao falcão, ave que voa mais rápido no mundo – passará algum tempo na órbita lunar antes de tentar pousar em 23 de fevereiro.
O local de pouso é um pedaço da superfície próxima da Lua que se estende por alguns quilômetros, disse Thornton, mas a sonda também testará uma tecnologia que poderia fornecer uma zona de pouso mais precisa em missões futuras.
Os momentos finais antes da espaçonave atingir a superfície lunar serão os mais importante.
Duas tentativas fracassadas de pouso lunar no ano passado, uma por uma empresa sediada no Japão e outra pela Rússia, prenunciaram a dificuldade de manter o controle sobre um veículo enquanto ele tenta pousar.
Nos dois casos, os veículos colidiram com a Lua.
Nova corrida espacial
Esta missão marcará a primeira tentativa de pouso lunar – robótica ou tripulada – para os EUA em cinco décadas.
A missão surge em meio a um impulso internacional renovado para explorar a lua.
Embora tanto a empresa japonesa Ispace como a agência espacial russa Roscosmos tenham falhado nas suas tentativas de aterrissagem lunar no ano passado, o Chandrayaan-3, da Índia, fez uma aterrissagem segura em agosto.
Com esse sucesso, a Índia tornou-se a quarta nação – depois da China, da antiga União Soviética e dos Estados Unidos – a colocar um veículo na Lua.
Até agora, no século 21, apenas a Índia e a China fizeram aterrissagens suaves.
A Agência Aeroespacial de Exploração do Japão poderá completar seu primeiro pouso lunar este mês, usando sua espaçonave “Moon Sniper”, que já está em rota há meses.
A Nasa espera recuperar rapidamente o atraso com o uso dos módulos de pouso robóticos desenvolvidos comercialmente que patrocinou.
Além da Peregrine, a agência espacial tem contratos com as empresas Firefly Aerospace e Intuitive Machines, sediadas no Texas. Este último poderá lançar seu módulo lunar em meados de fevereiro.
Esses contratos, todos parte do programa Commercial Lunar Payload Services da Nasa, visam reduzir drasticamente o custo de construção de um módulo lunar – especialmente em comparação com o esforço multibilionário necessário para criar o módulo de pouso da era Apollo.
A Peregrine e as outras sondas foram projetadas para serem muito mais baratas, com a Nasa concordando em pagar às empresas parceiras apenas um único contrato, com preço fixo.
O contrato da Astrobotic para esta missão, por exemplo, totalizou US$ 108 milhões (aproximadamente R$ 527 milhões), mais do que o prometido inicialmente pela Nasa.
Funcionários da agência disseram que o contrato foi renegociado em meio à pandemia.
“Esta é uma das muitas missões relativamente baratas que serão enviadas à superfície da Lua para tentar quebrar o paradigma e tentar chegar a um novo preço”, disse Thornton à CNN.
Outras missões lunares robóticas podem decolar no final de 2024, incluindo um veículo do tamanho de um carrinho de golfe a bordo de um módulo lunar diferente para a Astrobotic, chamado Griffin.
Este veículo espacial examinará o polo sul lunar em busca de gelo e água – uma busca que foi uma característica fundamental da corrida espacial do século 21.
O gelo de água poderia ser usado para sustentar colônias de futuros astronautas ou convertido em combustível de foguete para missões mais profundas no espaço.
Uma pedra angular dos esforços lunares da Nasa será preparar o caminho para o retorno de seres humanos à superfície da Lua no âmbito do programa Artemis.
A Nasa pretende enviar astronautas em uma missão para voar até a Lua já no final de 2024.
A ciência de Peregrine
Nesta missão atual, a sonda Peregrine está se dirigindo para uma região lunar chamada Sinus Viscositatis, também conhecida como “Baía da Aderência”.
Ela transportará dez cargas científicas, cinco das quais são experimentos patrocinados pela Nasa.
Eles incluem dois instrumentos que irão monitorar o ambiente de radiação, “ajudando a nos preparar melhor para enviar missões tripuladas de volta à Lua”, disse Paul Niles, cientista do projeto da Nasa.
Outros instrumentos enviados pela agência espacial irão analisar a composição do solo lunar, em busca de moléculas de água e hidroxila. A Nasa também estudará a atmosfera da lua.
Thornton disse que o veículo Peregrine operará por cerca de dez dias na superfície da Lua até que a região mergulhe na noite lunar, um período em que estará muito frio para os instrumentos operarem.
O obstáculo mais difícil de superar durante a jornada da Astrobotic, observou ele, foi convencer as pessoas de que uma empresa sediada em Pittsburgh e com menos de 300 pessoas era capaz de criar um módulo lunar.
“Tivemos muitas pessoas que duvidaram de nós e riram de nós ao longo do caminho”, disse ele.
Mas Thornton está esperançoso de que o sucesso levará a uma economia lunar florescente, ajudando a Nasa a atingir os seus objetivos e, ao mesmo tempo, inspirando o setor comercial a buscar possibilidades na Lua.
Restos humanos e lembranças
Embora a Nasa seja o principal financiador da missão, a agência espacial é apenas um cliente envolvido.
Também a bordo do Peregrine estarão experimentos científicos e cargas comerciais de outras nações, incluindo Alemanha, México e Reino Unido.
A Astrobotic fez parceria com a empresa de transporte alemã DHL, por exemplo, para levar pequenas lembranças ao espaço, incluindo “fotografias e romances para trabalhos de estudantes e um pedaço do Monte Everest”.
Notavelmente, Peregrine também transportará restos mortais humanos em nome de duas empresas comerciais de enterros espaciais – Elysium Space e Celestis.
O movimento gerou oposição e crítica da Navajo Nation, o maior grupo de indígenas dos Estados Unidos.
O grupo afirma que permitir que os restos mortais pousem na superfície lunar seria uma afronta a muitas culturas indígenas, que consideram a Lua sagrada.
A Celestis se ofereceu para levar cinzas à Lua por preços a partir de US$ 13.000 (aproximadamente R$ 63.000), como informa o site da empresa.
Thornton, o CEO da Astrobotic, disse à CNN que a tentativa de pouso será o culminar de 16 anos de trabalho dos funcionários da empresa.