Tempestades podem ter até 500 km de profundidade em Júpiter, diz Nasa
Missão Juno descobriu, entre outras novidades, que a Grande Mancha Vermelha tem entre 200 e 500 quilômetros de profundidade
Cientistas revelaram descobertas surpreendentes sobre a Grande Mancha Vermelha de Júpiter e as tempestades ciclônicas sobre os polos do planeta, em uma entrevista coletiva da Nasa na quinta-feira.
A Grande Mancha Vermelha foi considerada uma tempestade em forma de uma “panqueca” plana, de acordo com Scott Bolton, principal investigador da missão Juno da Nasa e diretor da divisão de ciência e engenharia espacial do Southwest Research Institute, em San Antonio.
“Sabíamos que durava muito tempo, mas não sabíamos quão profundo nem como realmente funcionava”, disse Bolton na entrevista coletiva.
Em fevereiro e julho de 2019, a espaçonave Juno da Nasa voou diretamente sobre a Grande Mancha Vermelha, que tem cerca de 16 mil km de largura, para descobrir a que profundidade o vórtice se estende abaixo do topo das nuvens visíveis. Dois artigos publicados quinta-feira (28) na revista Science detalham o que Juno descobriu.
Os cientistas acreditavam que a profundidade da tempestade e a camada climática do planeta seriam restritas a profundidades onde a luz solar pode penetrar ou onde se espera que a água e a amônia se condensem. No entanto, a tempestade não era uma característica meteorológica superficial, descobriram os pesquisadores.
Um radiômetro de micro-ondas em Juno deu aos cientistas uma visão tridimensional do planeta. Eles descobriram que a Grande Mancha Vermelha tem entre 200 e 500 quilômetros de profundidade, estendendo-se muito mais fundo no gigante gasoso do que o esperado.
“A Grande Mancha Vermelha está tão profundamente dentro de Júpiter quanto a Estação Espacial Internacional está bem acima de nossas cabeças”, disse Marzia Parisi, pesquisadora do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em Pasadena, Califórnia.
A Grande Mancha Vermelha está profundamente enraizada, mas a equipe descobriu que ainda é mais rasa do que os jatos zonais que alimentam a tempestade, que se estendem a profundidades que se aproximam de 3 mil km.
Enquanto a tempestade continua, o tamanho do local está diminuindo. Em 1979, tinha o dobro do diâmetro da Terra. Desde então, o local diminuiu em pelo menos um terço.
Ciclones polares persistentes
Cinco anos atrás, os cientistas usaram dados coletados por Juno para capturar fotos e aprender mais sobre os polos de Júpiter.
Juno descobriu que o gigante gasoso tem cinco tempestades ciclônicas no polo sul em forma de pentágono e oito tempestades ciclônicas no polo norte, formando um octógono.
Observando os ciclones cinco anos depois usando seu instrumento de imagem espectral conhecido como Mapeador Auroral Infravermelho Joviano, a Juno ajudou os cientistas a descobrir que as tempestades permaneceram no mesmo local.
Os ciclones polares mostraram padrões de tentativa de movimento em direção aos polos, mas os ciclones no topo de cada polo recuaram. Isso explica por que as tempestades permaneceram no mesmo lugar.
Padrões verticais de circulação do vento
As nuvens de Júpiter estão embutidas nas correntes de jato leste e oeste, que se estendem por 322 km de profundidade, disse Keren Duer, estudante de doutorado do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.
Quando a equipe de pesquisa acompanhou o movimento da amônia, ela revelou que ela viajava em um movimento para cima e para baixo em torno dos jatos, disse ela.
Essas células de circulação em ambos os hemisférios de Júpiter compartilham características semelhantes às células de Ferrel encontradas na Terra, que são os padrões de circulação do vento nas latitudes médias dos hemisférios norte e sul. Essas células têm uma grande influência no clima do nosso planeta, disse Duer.
Júpiter contém oito células Ferrel em cada hemisfério em comparação com a Terra, que tem apenas uma por hemisfério, disse ela. As células da Terra se estendem por 6 milhas da superfície em comparação com as células de Júpiter, que começam no nível das nuvens e se estendem por pelo menos 320 km, ela acrescentou.
“Isso significa que as células em Júpiter são pelo menos 30 vezes mais profundas do que as células terrestres”, disse Duer.
Desde 2016, a espaçonave Juno – tão larga quanto uma quadra de basquete – circulou Júpiter, explorando a atmosfera e mapeando seus campos magnéticos e gravitacionais.
Em janeiro, a Nasa anunciou que estenderia a missão de Juno até setembro de 2025.
Astrônomos monitoram a Grande Mancha Vermelha desde 1830.