Baixa cobertura vacinal contra poliomielite no Brasil preocupa especialistas
Cerca de 60% do público alvo está imunizado contra a doença; índice abaixo dos 95% preconizados pela OMS
Considerada erradicada das Américas em 1994, a poliomielite voltou ao radar de especialistas. Isso porque a taxa de cobertura vacinal no Brasil segue em queda. Atualmente, está em cerca de 60% do público alvo: crianças até cinco anos. A taxa está bem abaixo do nível considerado ideal pela Organização Mundial de Saúde (OMS): 95%.
Solange Dourado de Andrade, pediatra, infectologista e coordenadora do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais do Amazonas (CRIE-AM), defendeu, em artigo divulgado com exclusividade para a CNN, que a “ampla cobertura vacinal segue sendo fundamental para manter o perigo dessa doença afastada, especialmente no período pós-Covid”.
Para a médica, a ausência da poliomielite no país, onde o último caso diagnosticado foi em 1989, “pode levar a uma falsa sensação ou equívoco de que a doença não representa mais algum risco de infecção, assim como outras doenças imunopreveníveis”.
No artigo, Solange aponta que, se não houver ampliação da cobertura vacinal, a tendência é que haja o retorno da doença, como ocorreu com o sarampo em 2018.
“Nesse momento, não podemos correr risco de ver o retorno de doenças tão graves quanto à pólio, que conta com vacinas eficazes para preveni-la. Temos vivenciado queda nas coberturas vacinais após o ano de 2015. É primordial que se reúnam todos os esforços necessários para sensibilizar a população sobre a necessidade de manter o calendário vacinal atualizado”, afirmou a pesquisadora.
Esse alerta já havia sido feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no início do ano. A entidade atribuiu a baixa cobertura vacinal contra a pólio e outras doenças imunopreviníveis, como o Sarampo, à campanha de desinformação sobre a importância da vacina, além dos impactos diretos das restrições de circulação causadas pela pandemia da Covid-19.
Alerta da OMS
A OMS também fez um alerta em relação ao risco do aumento do número de casos da doença no mundo e citou os casos da Nigéria, do Paquistão e Afeganistão, onde isto aconteceu. A agência da Organização das Nações Unidas para a Saúde apontou que os números da poliomielite aumentaram nos últimos três anos e alertou que esse crescimento faz com que todos os países sofram o risco de reintrodução da pólio.
Para o pediatra e membro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Gabriel Oselka, enquanto houver casos ativos de poliomielite no mundo, a possibilidade de reintrodução existe e, por isso, há a extrema necessidade de coberturas vacinais elevadas no Brasil. Ele se mostrou preocupado com a volta à normalidade nos países, com o retorno da circulação sem restrições, e disse que a expectativa mundial de erradicação da doença não aconteceu como previsto.
“Embora não tenhamos casos no país desde 1989, na medida que nossas coberturas vacinais eram sistematicamente elevadas, havia uma grande tranquilidade sobre o que poderia acontecer aqui, mesmo com a persistência de casos em alguns lugares no mundo. Havia uma expectativa real de que talvez nos anos 2000 a doença estaria erradicada no mundo todo, mas isso infelizmente não aconteceu e a doença segue em circulação em alguns lugares do mundo”, afirmou.
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS no continente, a maioria das infecções não produz sintomas. No entanto, entre 5% e 10% dos infectados podem apresentar quadro semelhante ao provocado por uma gripe comum. E, um a cada 200 contaminados pode apresentar paralisia permanente nos braços ou nas pernas, o que pode evoluir para a morte, na mesma proporção, em decorrência do comprometimento dos músculos respiratórios
Os alertas, que têm sido recorrentes nos últimos dois anos são reforçados às vésperas do Dia Mundial de Combate à Poliomielite, que é celebrado em 24 de novembro, mostram a importância da vacinação contra o avanço de doenças infecciosas.