Cozimento solar pode ser solução para desmatamento e emissões de carbono
2,6 bilhões de pessoas em todo o mundo cozinham suas refeições diárias em fogueiras, que eliminam poluentes e prejudicam o cultivo das florestas
De cordilheiras europeias frescas e úmidas, florestas da Ásia Central, até a expansão urbana na América do Norte e as paisagens áridas do continente africano, milhões de pessoas estão cozinhando usando apenas os raios do sol como combustível.
Essa magia culinária é conhecida como cozimento solar. Ao invés de queimar uma fonte de combustível, o cozimento solar usa superfícies espelhadas para canalizar e concentrar a luz do sol em um espaço pequeno, cozinhando os alimentos sem produzir emissões de carbono.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2,6 bilhões de pessoas em todo o mundo cozinham suas refeições diárias em fogueiras. Alimentadas com madeira, resíduos de animais, querosene e carvão, essas chamas produzem fumaça altamente poluente e contribuem para o desmatamento, a erosão do solo e, em última instância, a desertificação – mas os fogões solares podem ser uma alternativa.
Fogões solares e florestas em declínio
A Solar Cookers International (SCI) (Cozinheiros Solares Internacionais, em tradução livre) é uma organização sem fins lucrativos que defende a adoção de tecnologias de cozimento térmico solar. A SCI contabiliza mais de 4 milhões de fogões solares em todo o mundo, que as pessoas estão usando para cozinhar e assar sob o sol direto ou através de nuvens claras.
Uma dessas pessoas é Janak Palta McGilligan. A senhora de 73 anos é membro do Conselho Consultivo Global da SCI e diretora do Centro Jimmy McGilligan para o Desenvolvimento Sustentável em Madhya Pradesh, Índia, que ela fundou com seu falecido marido em 2010.
Em um país onde até 81% das comunidades rurais dependem de combustíveis poluentes para cozinhar, Palta McGilligan percebeu que as pessoas estavam sendo prejudicadas ao cozinhar com lenha de ecossistemas em declínio. Sua saúde foi afetada e o ambiente natural ao redor deles corroído. “As meninas não podiam ir à escola porque passavam o dia todo procurando lenha”, acrescenta Palta McGilligan.
Com uma estimativa de 300 dias de sol por ano, a Índia tem uma oportunidade substancial de usar a energia solar térmica.
Palta McGilligan introduziu fogões solares para essas comunidades, com o Jimmy McGilligan Center cobrindo todos os custos de treinamento e 90% do preço dos fogões, tanto para proteger as florestas da degradação, quanto para fornecer oportunidades iguais para as mulheres – que poderão exercer atividades como os estudos e trabalho, a partir de uma maior praticidade na alimentação.
Até o momento, o Centro já treinou mais de 126.000 pessoas em práticas sustentáveis, como cozimento solar e técnicas de cura e desidratação de alimentos, além do uso de energia solar térmica para aquecer ferros para passar roupas.
É uma questão de meio ambiente, mas também é uma questão de igualdade.
Janak Palta McGilligan, diretora do Centro Jimmy McGilligan para o Desenvolvimento Sustentável
Uma solução simples?
Existem muitos tipos de fogões solares: de caixas espelhadas, a sistemas de telhado e fogões de tubo a vácuo – um dispositivo mais complexo que funciona bem em climas mais frios.
Palta McGilligan defende globalmente os benefícios do cozimento solar para a saúde. “Até a saúde econômica é beneficiada”, diz ela. “Todos os combustíveis poluentes são caros, mas o cozimento solar é gratuito – sempre.”
Qualquer pessoa pode usar um fogão solar, o treinamento é simples: “Você tem que aprender a posicionar o fogão solar, como alinhá-lo com o sol. Isso é tudo”, explica Palta McGilligan.
Um forno de caixa solar básico pode ser construído com uma caixa de papelão e espelhos, ou papel alumínio, custando apenas alguns dólares.
Há uma desvantagem óbvia: você não pode cozinhar depois do anoitecer e, embora a comida cozinhe rapidamente em um dia ensolarado, em um dia fechado os fogões solares podem demorar muito mais do que um fogão ou forno convencional, e podem não atingir temperaturas altas o suficiente para cozinhar carne com segurança. Em dias frios ou com vento, alimentos pesados – como pães – podem não cozinhar.
Mas os fogões solares podem ser usados para desidratar e curar alimentos para preservá-los por períodos de tempo, quando há uma forte cobertura de nuvens.
‘Florestas inteiras serão salvas’
De acordo com a ONG internacional SolarAid, em climas ensolarados e áridos, um único fogão solar pode economizar até uma tonelada de lenha por ano.
Isso pode aumentar, com o uso de combustíveis poluentes para cozinhar sendo responsável por mais da metade das emissões globais de carbono negro. O carbono negro é um dos maiores contribuintes para a mudança climática depois do dióxido de carbono, mas só permanece na atmosfera por dias ou semanas. Ao contrário do que pode se pensar, a queima de biomassa de madeira gera maiores emissões de CO2 por unidade de energia do que a queima de combustíveis fósseis.
Além do custo do carbono, o uso de combustíveis de biomassa pode contribuir para o desmatamento de regiões rurais.
“O planeta está em risco”, diz Palta McGilligan. “Na Índia rural, não podemos cultivar árvores com rapidez suficiente para compensar a madeira queimada para cozinhar.”
Ela diz que, junto com o treinamento em métodos de cozimento solar, ela incentiva o plantio e cultivo de vegetação nativa e árvores para começar a neutralizar o impacto ambiental que o cozimento à lenha teve na Índia rural.
“As pessoas nas aldeias estão conectadas às florestas”, disse Palta McGilligan à CNN. “Eles lamentam que as selvas estejam se perdendo, eles estão tristes por não haver árvores. A energia solar térmica é um grande alívio para eles.”
Palta McGilligan observou a recuperação dos ecossistemas como uma ação direta e resultado da introdução do cozimento solar em uma aldeia. “Florestas inteiras serão salvas com o uso de fogões solares”, diz ela.
Texto traduzido. Leia o original em inglês.