Guedes defende uso de ações da Petrobras para ajudar vulneráveis; entenda
Ministro também sugeriu levar a empresa ao Novo Mercado, segmento da Bolsa com níveis mais exigentes de governança
O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu que o governo possa vender ações da Petrobras em momento de valorização dos papéis para distribuir parte dos ganhos à população mais vulnerável.
“Quando o preço do combustível sobe, os mais frágeis estão com dificuldades. E que tal se eu vender um pouco das ações da Petrobras e der para eles esses recursos?”, disse o ministro em entrevista coletiva em Washington na noite de quarta-feira (13), acrescentando que não faz sentido o país ficar mais rico e os brasileiros, mais pobres.
A ideia do ministro é vender as ações da Petrobras, privatizar a companhia e, com esse valor arrecadado, fazer medidas de política social como subsidia o preço do gás, explica Priscila Yazbek, analista de economia da CNN Brasil.
“É um argumento que pega bem coma população, claro que deve ter resistência de uma parte dos brasileiros, que têm uma visão que a Petrobras é nossa, o petróleo é nosso”, diz.
“Os economistas estão falando que isso não vai acontecer, mais uma vez o governo vai falando sobre um assunto, seria talvez mais uma cortina de fumaça, para que o governo mostre que está tentando fazer alguma coisa para conter o aumento dos preços”, afirma Yazbek.
Segundo ela, o motivo da dificuldade em aprovar essa ideia seria a resistência no Congresso e a falta de tempo hábil para aprová-lo antes das eleições em 2022, com o foco do governo no momento em ampliar benefícios sociais, o que “deve ocupar boa parte da energia do governo”.
Guedes também disse ser favorável à privatização de todas as estatais, mas que, no caso da Petrobras, uma alternativa pode ser levar a empresa ao Novo Mercado, segmento com níveis mais exigentes de governança em que as empresas só podem emitir ações ordinárias (com direito a voto).
“[O Novo Mercado] é um segmento de empresas na bolsa que são negociadas com parâmetros mais altos de governança corporativa, mais transparência, com isso as ações se valorizariam, por isso o ministro fala de levar as ações [da Petrobras] para o Novo Mercado, vender por um preço maior e conseguir fazer mais políticas sociais”, explica Yasbek.
O governo poderia manter o controle da estatal por meio de uma golden share, mas a mudança geraria um valor adicional de R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões para a empresa, disse Guedes.
“E pode subir mais ainda se eu falar que eu vou privatizar, abrir mão do controle”, afirmou a analista, defendendo que a Petrobras seja transformada em uma “corporation”, em modelo semelhante ao aprovado para a Eletrobras.
Para a analista, “a bola da vez é falar sobre privatização da Petrobras”, que faria parte de um novo argumento do governo para justificar as sucessivas altas nos preços dos combustíveis em 2021.
“Falar que há um problema na Petrobras, que ela tem um monopólio, e é por isso que os preços estão altos. Quando a gente sabe que os preços estão altos porque o petróleo está subindo lá fora, já subiu mais de 50%, e o preço dos combustíveis aqui têm que se basear no preço lá fora”, afirma.
Yasbek lembra que o presidente da Câmara, Arthur Lira, também falou sobre a possibilidade de privatização da Petrobras em entrevista à CNN Rádio, o que parece indicar um alinhamento entre o Executivo e o Legislativo quanto ao tema.
Guedes, que está em Washington para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, disse que, em reunião com o secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) na quarta, reforçou pedido de apoio para a adesão do Brasil à entidade.
Segundo o ministro, o Brasil já satisfez 100 quesitos de um total de 247 exigidos pela OCDE de seus membros e já apresentou pedido para o reconhecimento de outros 60, o que deixaria o país “na frente de praticamente todos os candidatos”.
*Com informações da Reuters