De bicicleta ou a pé: alta dos combustíveis faz consumidor buscar alternativas
Aumentou percentual daqueles que estão deixando de usar o carro ou a moto para economizar com o deslocamento
Após um ano e quatro meses de subidas consecutivas, o valor do combustível acumula um aumento de 57,33% desde maio do ano passado, dois meses após o começo da pandemia, segundo monitoramento da ValeCard.
Soma-se a inflação de outros itens do dia a dia, como alimentos, esses aumentos estão pesando cada vez mais no orçamento, levando as pessoas a buscarem alternativas para economizar quando precisa se deslocar.
Um levantamento feito em setembro deste ano pela WebMotors Autoinsights com 3.868 usuários de moto e carro aponta que 31% deles alteraram a forma de se locomover motivados pelo aumento dos combustíveis.
Para os motociclistas, a principal alternativa é a bicicleta, com 33% deles tendo migrado para este modal no último ano, enquanto 17% dos proprietários de carro fizeram essa alteração no transporte. A adesão à caminhada foi citada por 17% dos motoqueiros e 22% dos motoristas.
Outra pesquisa divulgada em setembro, ‘Viver em São Paulo’, feita pela rede Nossa São Paulo em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) reforça a tendência. Com dados apenas da capital paulista, a pesquisa identificou que, em um ano, aqueles que apontam a alta do combustível como principal motivo para reduzirem o uso de veículo próprio passou de 4% em 2020 para 35% em 2021.
Já a mobilidade a pé, que em 2019 era usada por 6% dos paulistanos, em 2020 passou a ser a escolha de 15%. E, agora em 2021, passou para 20%, identificou a mais recente edição da pesquisa ‘Viver em São Paulo’. “Isso devido ao aumento dos custos”, afirmou Jorge Abrahão, coordenador geral da rede Nossa São Paulo.
A vez das bikes
O mercado de bicicletas tem sido um termômetro dessa mudança. Dados levantados pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas) a pedido do CNN Brasil Business, mostram que em 2020 o segmento registrou 50% de aumento nas vendas em comparação ao ano de 2019.
E o crescimento se manteve no primeiro semestre de 2021: o país registrou 34,17% de aumento nas vendas das bicicletas em comparação ao mesmo período do ano passado.
Há motivações variadas pelas quais as bicicletas passaram a ser mais usadas e compradas, mas, para o professor de finanças empresariais no Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais) de São Paulo, Paulo Azevedo, o principal está no preço do combustível, que tem afetado diretamente o poder aquisitivo dos consumidores.
“Isso [preço do combustível] eleva o custo de vida e tem sido colocado na balança nesses últimos meses, e aí surge essa mudança na forma de locomoção. É uma variação de fatores, que tem levado as pessoas a buscarem formas de fazer o salário durar o mês todo”, disse o professor.
Na Tembici, empresa de bicicletas compartilhadas, a receita com usuários cresceu mais de 50% comparada ao período pré-pandemia. Segundo cálculos da empresa, a diferença de custo entre o uso da bicicleta e outros modais a combustível, pode ser até a 90% a menos, sendo o automóvel o mais custoso.
Ainda de acordo com estudo da Tembici, em 2021, 12 milhões de deslocamentos no país foram realizados com bicicletas. Já entre janeiro e agosto, o número de viagens feitas pelo aplicativo E-bike cresceu 66% em relação ao mesmo período de 2020. A empresa avalia que esse crescimento foi impulsionado, além da pandemia, pela alta dos combustíveis.
Para Marcus Quintella, professor e diretor da FGV Transportes (Fundação Getúlio Vargas), é natural que usuários de transportes automotores movidos a combustível migrem para a bicicleta ou busquem outros meios de locomoção em meio ao aumento da gasolina e do diesel.
“O uso da bike está em forte tendência no Brasil, seja por lazer, sustentabilidade, necessidade ou emergência. Mas vale ressaltar que como transporte principal ou em massa, há questões de infraestrutura e até de condições físicas dos usuários que impedem que isso aconteça”, diz Quintella.