Faltou planejamento para mudar registro de casos de Covid, diz epidemiologista
Wanderson de Oliveira classifica como 'burocracia desnecessária' mudanças feitas em registro de novos casos
As mudanças feitas pelo Ministério da Saúde para registro de novos casos de Covid-19 deveriam ter sido planejadas e implantadas em outro momento, defende o epidemiologista e ex-secretário Nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, em entrevista à CNN neste domingo (3).
“No dia 8 de setembro foi feita uma alteração no sistema incluindo que, para encerrar um caso, é preciso registrar o número do lote e o fabricante do teste. Isso torna a notificação muito demorada, lenta e até inviabiliza que o profissional consiga fazer a notificação. Eu acho que é uma burocracia desnecessária no estágio que estamos da pandemia. É lamentável fazer isso neste momento”, afirma.
Ele diz que a mudança deveria ter sido conversada. “Alguns estados foram mais afetados que outros. Faltou diálogo, faltou um treinamento prévio e um planejamento para que a implementação se desse mais algumas semanas adiante”, afirmou.
“Agora estamos monitorando o impacto da variante Delta. Quando a gente faz uma alteração no sistema ou na forma de consolidação, acaba-se perdendo a linha de base, de comparação ao longo do tempo. Isso gera insegurança, gera desconfiança. Tenho absoluta convicção que não era essa intenção do ministério”, avalia.
Segundo o epidemiologista, o novo método não deve alterar o número de óbitos. “Não há possibilidade, pois o sistema é outro.”
Oliveira sustenta ainda que é necessário manter os cuidados. “Não podemos baixar a guarda. Estamos começando a virar o jogo contra a Covid […]. Já passou do momento de monitorarmos os casos não pela data de notificação, mas pela data de início dos sintomas. Esse intervalo de 15, 21 até 30 dias pode complicar muito a qualidade da nossa percepção de mudança, e os estados podem correr o risco de demorar muito a tomar medidas de restrição para controlar uma nova onda”.
O epidemiologista avalia que a Covid-19 pode deixar de ser uma ameaça no ano que vem, mas que o vírus continuará circulando.
“A pandemia enquanto pandemia vai acabar muito em breve, espero que no início ou meados do próximo ano. No enquanto, o coronavírus vai continuar circulando entre nós […]. Ainda estamos num patamar muito elevado, é incompatível com o convívio que estamos vendo”.