É preciso transparência sobre necessidade de racionamento, diz professor
Professor da USP afirmou que, sem passar a informação, os gestores públicos criam uma "tensão social em torno da falta de água"
O professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP Pedro Jacobi afirmou, neste domingo (3), em entrevista à CNN, que os gestores públicos precisam se comunicar com transparência com a população sobre os desdobramentos da crise hídrica.
A escassez de energia elétrica gera preocupação em meio a um processo de retomada da economia, que ocorre junto ao avanço da vacinação contra a Covid-19. Segundo o professor, por vivermos em um país desigual, as camadas sociais acabam sendo afetadas de diferentes maneiras pela questão.
Um ponto muito concreto é a necessidade das autoridades serem muito transparentes. De fazer a população ver exatamente o que está acontecendo, não escamotear a verdade no sentido de que, se tem que haver racionamento, tem que explicitar esse racionamento
Pedro Jacobi, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP
Jacobi disse ainda que é importante que os gestores explicitem, também, a chance de acontecer um apagão descontrolado. Segundo ele, a falta de esclarecimento provoca uma desorganização na sociedade e uma “tensão social em torno da falta de água.”
Na análise de Pedro Jacobi, as soluções para conter os problemas de desperdício de água devem partir da inventividade e da criatividade da gestão pública, além de mais investimento.
“Sempre cito o caso da cidade de Nova York e a sua capacidade de armazenamento de água”, afirmou.
Para ele, será preciso que o Brasil investigue novas formas de obtenção de água. “A dessalinização, por exemplo, talvez seja um caminho. Não temos outra saída.”
Jacobi complementa sua fala explicando que “não adianta colocar sempre a responsabilidade no consumidor, no usuário”, visto que é papel das autoridades encontrarem estes caminhos. “Essa situação de escassez hídrica tem aumentando nos últimos anos e vai estar claramente imbricada na nossa realidade.”
Alternativas
A crise é agravada pelas mudanças climáticas, mas também pela necessidade da descarbonização, afirmou o professor. Por conta das grandes emissões, por exemplo, a China vive situações análogas em relação ao abastecimento de energia.
Enquanto isso, a Europa enfrenta uma disparada nos preços do gás natural por conta da dependência do gás russo. “Essa é a realidade, estamos dentro de um século no qual as mudanças climáticas estão batendo na nossa porta”, afirmou Jacobi.
O processo de descarbonização significa a gradativa substituição de fontes tradicionais de energia para fontes renováveis e menos poluentes, como é o caso da energia eólica, solar e outras que vêm sendo estudadas, como a energia que provém do aproveitamento das ondas oceânicas.
“Nós temos que olhar isso como uma transição, ou seja, vamos conviver ainda com bastante tempo do uso do petróleo, mas o grande problema destes usos das energias fósseis são as emissões. E as emissões estão provocando justamente esse desequilíbrio biofísico.”
(*sob supervisão por Elis Franco)