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    Museu na Dinamarca expõe quadros vazios após artista ficar com dinheiro da obra

    Museu de Arte Moderna Kunsten emprestou 534.000 coroas dinamarquesas para Jens Haaning, que entregou telas em branco e nota apresentando seu trabalho: ‘Pegue o dinheiro e corra’

    Jacqui Palumboda CNN

    Quando uma exposição sobre o futuro do trabalho foi inaugurada em um museu de arte na Dinamarca, na sexta-feira (24), os visitantes deveriam ter visto dois grandes quadros cheios de notas de coroas dinamarquesas no valor total de R$ 456 mil.

    As peças deveriam ser reproduções de duas obras do artista Jens Haaning, que anteriormente usava dinheiro emoldurado para representar os salários médios anuais de um austríaco e de um dinamarquês – em euros e coroas dinamarquesas, respectivamente.

    Mas quando o Museu de Arte Moderna Kunsten, em Aalborg, recebeu as obras de arte recriadas antes da exposição, a equipe da galeria fez uma descoberta surpreendente: as molduras estavam vazias.

    Em vez de ser obra de ladrões, o dinheiro emprestado estava faltando graças ao próprio Haaning, que afirma estar com o dinheiro – em nome da arte.

    “Decidi fazer um novo trabalho para a exposição, em vez de mostrar as duas obras de 14 e 11 anos, respectivamente”, disse Haaning ao museu por e-mail, cujo texto agora é exibido ao lado das molduras vazias.

    Quadros em branco entregues pelo artista Jens Haaning a museu dinamarquês
    Quadros em branco entregues pelo artista Jens Haaning a museu dinamarquês / Museu de Arte Moderna Kunsten, em Aalborg

    “O trabalho é baseado em/responde tanto ao conceito de sua exposição quanto aos trabalhos que planejamos mostrar originalmente.”

    A “nova peça conceitual”, que Haaning intitulou “Take the Money and Run” (Pegue o dinheiro e corra, em tradução livre), está agora no centro de uma disputa entre museu e artista sobre trabalho, obrigações contratuais e valor do trabalho – todos temas adequados para a exposição.

    “Eu vi, do meu ponto de vista artístico, que poderia criar uma peça muito melhor para eles do que eles poderiam imaginar”, disse Haaning à CNN por telefone.

    “Não vejo que roubei dinheiro. Eu criei uma obra de arte, que é talvez 10 ou 100 vezes melhor do que o que havíamos planejado. Qual é o problema?”, acrescentou.

    Disputa contratual

    Além de emprestar 534.000 coroas dinamarquesas a Haaning para as obras de arte cheias de dinheiro, o Museu Kunsten concordou em pagar mais 10.000 coroas (R$ 8,5 mil) por seu trabalho, além de cobrir custos com emolduramento e entrega.

    Mas o artista disse que o projeto ainda o deixaria no prejuízo, devido aos custos do estúdio e salários da equipe.

    Novas obras deveriam ser versões atualizadas de trabalhos feitos em 2007 e 2010; na foto, o quadro 'Salário médio anual de um austríaco', de 2007
    Novas obras deveriam ser versões atualizadas de trabalhos feitos em 2007 e 2010; na foto, o quadro ‘Salário médio anual de um austríaco’, de 2007 / Jens Ziehe/Cortesia Sabsay Gallery

    “Normalmente, me encontro em uma posição melhor quando faço uma exposição no exterior”, disse ele. “Sou dinamarquês e é um museu dinamarquês e eles esperam que eu invista porque talvez, um dia, comprem alguma coisa.”

    O diretor do Museu, Lasse Andersson, afirmou que o museu manteve sua parte do acordo. “É muito importante para nós porque sempre fomos conhecidos por honrar contratos e também pagar aos artistas uma taxa razoável”, disse ele por telefone.

    Haaning disse que não tem planos de devolver o dinheiro e “não está preocupado” com as possíveis consequências.

    Andersson disse que o artista tem até janeiro, quando termina a exposição, para pagar o empréstimo. Após esse período, o museu vai considerar uma ação judicial.

    Por enquanto, o museu está exibindo “Take the Money and Run” como está, colocando-o em uma plataforma para ser considerado e criticado.

    No mundo da arte, obras que questionam o valor da arte em si – como Maurizio Cattelan pregando uma banana na parede ou Banksy destruindo uma pintura em um leilão – não são novidade.

    Lasse Andersson, diretor do Museu de Arte Moderna Kunsten, disse esperar que dinheiro seja devolvido por tratar-se de patrimônio público
    Lasse Andersson, diretor do Museu de Arte Moderna Kunsten, disse esperar que dinheiro seja devolvido por tratar-se de patrimônio público / Museu de Arte Moderna Kunsten, em Aalborg

    Já houve até o caso de obras de arte invisíveis, com o falecido Yves Klein exibindo uma sala vazia para milhares de pessoas em 1958.

    Comentar sobre o valor do trabalho é, afinal, o que Haaning pretendia. “Acho que por trás da peça está uma afirmação muito mais geral: que (você) deve olhar para as estruturas das quais participa e refletir sobre elas”, disse ele, listando a religião e o casamento entre elas. “E se necessário, pegue o dinheiro e saia correndo.”

    Andersson tem sua própria interpretação das molduras vazias, que estão em exibição no contexto da mostra de seu museu, “Work it Out”.

    “Temos que trabalhar por dinheiro ou podemos apenas aceitá-lo?”, questionou o diretor do museu. “Por que vamos trabalhar? Todo esse tipo de coisa nos faz começar a refletir sobre os hábitos culturais da sociedade da qual fazemos parte. E isso também se aplica à pergunta: os artistas são pagos o suficiente pelo que fazem?”

    Mesmo assim, o diretor do museu gostaria de ver o dinheiro devolvido. “Não é meu dinheiro – é dinheiro público, é dinheiro do museu”, disse ele. “Então é por isso que (em janeiro) precisamos ter certeza de que ele vai voltar para nós.”

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)

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