Entenda o cenário político do Chile que pode influenciar plebiscito de nova Constituição
Analista político da Universidade Diego Portales revisou o ambiente político que antecedeu a votação chilena sobre novo texto constitucional
O Chile vai às urnas para decidir se aceita ou não um novo texto para substituir a atual Constituição da era da ditadura de Augusto Pinochet.
Os dias que antecederam o plebiscito constitucional foram marcados por diversas polêmicas, algumas novas e outras reintegradas na agenda devido a acontecimentos específicos na política chilena.
O analista político da Universidade Diego Portales, Claudio Fuentes, revisou o ambiente político que antecede as votações sobre a referida questão em nosso país vizinho sul-americano.
Fuentes explicou que desde 2018 “não estamos em tempos normais”, o que ele atribuiu principalmente a um surto social, que dividiu forças e instalou um sólido clima anti-establishment na sociedade.
No cenário atual, haverá uma grande presença de eleitores indecisos que reagirão aos acontecimentos atuais, como o Caso dos Convênios – primeiro grande escândalo do governo Boric envolvendo a transferência de verba milionária do Ministério da Habitação para organizações ligadas aos partidos da coalizão governista.
Outro fator que pode influenciar é o tipo de campanha que temos visto: agora não se trata do texto, mas sim da aprovação ou não do governo.
“Isso é o que chamamos de campanha emocional. Eles estão promovendo o medo em ambas as campanhas, e acredito que, efetivamente, hoje pode ter mais relevância“, explicou.
O analista também abordou o quanto a fragmentação dos republicanos – que fazem oposição a Boric – liderada por Rojo Edwards poderia ter impacto.
“Acredito que isso efetivamente gera um impacto dentro desse segmento específico, especialmente através das redes sociais. É um grupo muito homogêneo que está interagindo muito entre si de uma forma muito hermética e que ainda por cima movimenta milhões de votos, então uma quebra realmente tem um impacto importante”, disse Fuentes.
No entanto, ele destaca como percebe uma dispersão nas forças políticas em geral se compararmos com o processo anterior.
“Essa será a coisa interessante para analisarmos no dia seguinte à eleição. Se o “Contra” vencer, por exemplo, quem é o dono disso? Aí veremos uma disputa de responsabilidade dos Republicanos, do Partido Comunista, da Frente Amplio e da sociedade que está irritada com tudo“, disse ele.
Questionado sobre o quanto ele acredita que as convocações e anúncios de votação emitidos por figuras políticas importantes, como Ximena Rincón, Eduardo Frei e outros, Fuentes aponto que o momento que vivemos continua muito antipolítico e, portanto, o impacto de alguns desses líderes será muito baixo.
“Alguém que se distingue, sim, é Michelle Bachelet, que tinha atributos muito distintos da política tradicional. Nas campanhas anteriores ela sempre brincou um pouco com o fato de ser uma outsider. Essa exceção pode mover um pouco a agulha, mas no resto dos casos vejo muito pouco apego. Temos uma crise de liderança muito forte no sistema político chileno“, acrescentou.