Presidente da Guiana se reúne com Nicolás Maduro nesta quinta-feira (14)
Encontro acontece em meio à crise gerada pela disputa do território de Essequibo
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, se reúne nesta quinta-feira (14) com o líder venezuelano Nicolás Maduro, em meio à crise entre os dois países pela disputa do território de Essequibo.
A reunião ocorre durante o encontro de líderes da Comunidade do Caribe (Caricom), em São Vicente e Granadinas.
O anúncio da reunião bilateral foi feito depois que Maduro conversou com Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, que também atua como presidente interino da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), e com o secretário-geral da ONU, António Guterres, no sábado (9).
O governo da Venezuela disse que o encontro “é para preservar a nossa aspiração de manter a América Latina e o Caribe como uma zona de paz”.
Já o líder da Guiana afirmou que não pretende abordar a questão de Essequibo com Maduro. “Resolver a fronteira terrestre não é assunto para discussões bilaterais e a questão está devidamente resolvida pelo Tribunal Internacional de Justiça”, disse Ali em uma carta a Gonsalves.
No documento, Ali reafirma seu comprometimento de falar com Maduro e agradece aos países que estão mediando a questão, incluindo o Brasil e integrantes da Celac.
“Permita-me assegurar-lhe, caro colega, que estou preparado para falar com o presidente Maduro sobre qualquer outro aspecto que possa contribuir para melhorar e fortalecer a amizade e relações entre os nossos dois países”, afirma Ali.
Entenda a crise
A Venezuela voltou a reivindicar o território de Essequibo, na fronteira entre os dois países, nos últimos anos após a descoberta de uma reserva com potencial para produção de cerca de 11 bilhões de barris de petróleo e gás offshore.
A questão remonta uma disputa do século XIX. Em 1899, uma sentença arbitral de Paris concedeu ao Reino Unido a soberania sobre toda a área em disputa e deixou à Venezuela parte da terra próximo ao rio Orinoco, no sul. Na época, Guiana era uma colônia britânica.
Quase um século depois, em 1962, a Venezuela denunciou a sentença perante a ONU e deixou claro que considerava a decisão nula e sem efeito.
Em 1966, é assinado o Acordo de Genebra, no qual o Reino Unido reconhece que existe uma disputa por aquele território. Naquele mesmo ano, a Guiana alcançou a sua independência e iniciaram-se negociações diretas entre os dois países sobre a disputa territorial.
Em setembro deste ano, a Assembleia Nacional da Venezuela convocou um referendo sobre a região de Essequibo.
Antes da votação, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu que o governo venezuela se abstenha de tomar qualquer tipo de ação que possa alterar a situação do território. No entanto, o Tribunal não impediu a realização do referendo. Resultado: o governo de Maduro disse que mais de 95% da população votou pela anexação do território, que compõe 70% da Guiana.
Dias depois, o líder venezuelano anunciou a criação da zona de defesa integral da Guiana Essequibo e nomeou um general como “única autoridade” da área.
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, considerou a medida uma ameaça ao território e pediu por uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.
O Equador apresentou, durante a reunião fechada nas Nações Unidas, um texto que pede que Venezuela e Guiana cheguem a uma solução pacífica para a disputa sobre o território de Essequibo e que haja respeito às regras do direito internacional.
Sobre Essequibo
A região, com mais de 160 mil metros quadrados, equivale a 70% do território da Guiana. A área tem uma população de mais de 125 mil pessoas. A língua oficial é o inglês, por se tratar de uma região que é ex-colônia britânica.
Sendo uma região rica em recursos naturais, florestais e agrícolas, a principal fonte de renda de Essequibo é a extração de petróleo e as reservas de ouro.
Seus habitantes obtêm recursos principalmente das florestas tropicais, das plantações de cana, dos campos de açúcar, de arroz e da pesca.
Em 2015, a ExxonMobil descobriu petróleo na área reivindicada pela Venezuela. Desde então, a Guiana mostrou crescimento econômico significativo. Só em 2022, a economia do país cresceu 60%.
Atualmente, o país produz cerca de 400 mil barris de petróleo e gás por dia.
Relação Brasil-Venezuela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse a aliados ouvidos pela CNN que está cada vez mais decepcionado com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e sinalizou que pode romper politicamente com o líder do país vizinho caso se confirme a invasão da região guianense de Essequibo.
Lula, que chegou a receber Maduro em Brasília em maio deste ano, estaria “menos cético” que o Itamaraty sobre a possibilidade de uma guerra na região e lamentou que Maduro tenha “explodido” o esforço brasileiro para normalizar as eleições do ano que vem na Venezuela e assim tirar o país do isolamento, segundo fontes próximas ao presidente.
Maduro e Lula chegaram a conversar por telefone na semana passada. Segundo apurado pela CNN, o presidente brasileiro disse ao venezuelano que suas atitudes na crise com a Guiana podem dar pretexto a potências estrangeiras como os Estados Unidos a enviarem tropas à região.
Prefeitos de cidades de Roraima, situadas na fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana, acompanham a tensão entre os países vizinhos e relatam a apreensão com a possibilidade de um conflito na América do Sul.
O movimento expressivo de blindados e militares é registrado no município de Pacaraima, cidade ao Norte de Roraima, que fica na fronteira com a Venezuela. O Exército está posicionado em pontos estratégicos também em Uiramutã, outra cidade ao lado do país vizinho.