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    Câmbio sem controle, longe do perfil ultraliberal: como especialistas veem pacote de Milei

    Com algumas medidas liberais e outras, nem tanto, o fato é que o pacote causou ainda mais dúvidas sobre o futuro econômico do país, na visão dos especialistas ouvidos pela CNN

    Débora Oliveirada CNN , São Paulo

    Redução do Estado, desvalorização do peso e transferência de ações governamentais para o setor privado. Esse foi o resumo do pacote com 10 medidas econômicas anunciado pelo Ministro da Economia argentino, Luiz Caputo, no início da noite desta terça-feira (12).

    Com algumas medidas liberais e outras, nem tanto, o fato é que o pacote causou ainda mais dúvidas sobre o futuro econômico do país, na visão dos especialistas ouvidos pela CNN.

    Para o doutor em ciências políticas e professor de relações internacionais do Ibmec-BH Christopher Mendonça, a redução de subsídios para energia e transporte é uma clara medida liberal, muito anunciada na campanha e já cumprida no primeiro pacote, mas que pode gerar problemas sociais à medida que for realizada.

    “O transporte público argentino é muito dependente dos subsídios estatais. Terá que ser feito um esforço grande para que haja interesse do setor privado neste setor. Uma decisão necessária no momento, mas que precisa também ser provisória, porque o transporte gera uma economia importante no cofre público”, explica o professor.

    Além dos cortes nos subsídios do transporte, teve o corte da ajuda governamental nas contas de energia. Porém, não ficou claro sobre quanto seria e nem como será feito.

    Mas de todas as medidas anunciadas, a que preocupou mesmo, na visão do professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan, foi a desvalorização do peso argentino em relação ao dólar, medida que vai impactar a vida do cidadão comum, já que esse perderá ainda mais o poder de compra e não terá acesso a produtos básicos.

    “O quadro não parece ter sido solucionado, agravou as tensões políticas e com a desvalorização do câmbio nesta velocidade, demonstra de forma clara uma perda completa de controle por parte do novo governo quanto à questão cambial”, diz Trevisan.

    Uma novidade no pacote que chamou a atenção dos especialistas foi o corte no repasse de verba federal para as províncias, o que, para Christopher, indica um interesse do governo em concentrar na estrutura federal a administração dos recursos públicos.

    “Lembrando que muitos governadores e prefeitos peronistas foram eleitos, Milei pretende com isso desnutrir essas administrações e romper com estruturas menores, ou seja, fazer uma grande centralização.”

    Por outro lado, isso pode agravar uma briga com os governadores. “Ele ter cortado os repasses das províncias, vai gerar um impacto político muito forte, agravando uma briga com os governadores”, explica o professor Leonardo.

    Entre outras medidas, Caputo também anunciou a eliminação de tributos para exportações, enquanto substituirá o sistema para aprovação das licenças de importação. A medida que impacta a balança comercial com o Brasil não condiz com as promessas feitas durante a campanha de diminuir as relações comerciais com países vizinhos.

    Sobre isso, Leonardo Trevisan lembra que montadoras brasileiras pararam de entregar carros na Argentina, porque somente uma delas teria vendido 27 mil carros para lá, sem ter recebido um único centavo de dólar pelos veículos, já que os argentinos não têm dinheiro. “Então, neste cenário, liberar importações é só uma frase feita”, conclui o professor.

    Foi comum o consenso de que em uma primeira análise do pacote, ele ficou muito aquém das necessidades do país e ainda está longe do perfil ultraliberal defendido inicialmente por Milei. No momento existem apenas diretrizes gerais, que são importantes, mas não existem detalhamentos.

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