‘Esta é uma década decisiva para nosso mundo’, diz Biden na Assembleia-Geral da ONU
Em primeiro discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, democrata reconhece perdas causadas pela pandemia e diz que mudo precisa 'trabalhar junto para salvar vidas'
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, abriu seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (21), reconhecendo as enormes perdas em todo o mundo causadas pela pandemia de Covid-19.
“Nós nos encontramos este ano em um momento de grande dor e possibilidades extraordinárias. Perdemos muito para esta pandemia devastadora que continua a ceifar vidas em todo o mundo e causar tanto impacto em nossa existência. Estamos de luto por mais de 4,5 milhões de pessoas, pessoas de todas as nações, de todas as origens. Cada morte é um sofrimento individual”, disse ele.
O democrata prosseguiu dizendo que esta é “uma década decisiva para o nosso mundo”, que “quase literalmente determinará nosso futuro como uma comunidade global”.
Sobre a pandemia, Biden questionou: “Vamos trabalhar juntos para salvar vidas, derrotar a Covid-19 em todos os lugares e tomar o controle necessário para nos prepararmos para a próxima pandemia, porque haverá outra, ou deixaremos de aproveitar as ferramentas à nossa disposição à medida que variantes mais virulentas e perigosas se instalam?”
Ele também afirmou que a “desafiadora ameaça do clima” já é sentida em todas as partes do mundo e causa devastações e cobrou o enfrentamento das mudanças climáticas para mitigar as condições meteorológicas extremas.
“Ou sofreremos a marcha impiedosa das piores secas, inundações, incêndios mais intensos, furacões, ondas de calor mais longas e mares ascendentes.”
Biden também se posicionou em defesa da “dignidade humana e os direitos humanos” sob os quais disse que a ONU foi fundada há mais de 70 anos de forma a evitar que esses princípios sejam “pisoteados e distorcidos na busca do poder político puro”.
“Na minha opinião, como responderemos a essas questões neste momento, se escolhemos lutar por nosso futuro compartilhado ou não, reverberará pelas gerações que ainda estão por vir. Considero este um ponto de inflexão na história e estou aqui hoje para compartilhar com você como os Estados Unidos pretendem trabalhar com parceiros e aliados para responder a essas questões no compromisso de minha administração ajudar a liderar o mundo em direção a um futuro próspero e mais pacífico para todas as pessoas em vez de continuar a lutar nas guerras do passado.”
Saída do Afeganistão
Acabamos com 20 anos de conflito no Afeganistão e, à medida que fechamos este período de guerra implacável, estamos abrindo uma nova era de diplomacia implacável, de usar o poder de nossa ajuda para o desenvolvimento, para investir em novas maneiras de elevar as pessoas em todo o mundo, de renovar e defender a democracia
Joe Biden, presidente dos EUA
Biden também comentou sobre a saída dos Estados Unidos e de seus aliados do Afeganistão, em agosto, abrindo caminho para os combatentes do Talibã reassumirem o controle do país.
Ele ressaltou que essa é a primeira vez em duas décadas que um presidente norte-americano discursa na Assembleia-Geral da ONU sem que o país esteja envolvido diretamente em alguma guerra.
O presidente norte-americano disse que o foco do país voltará para a região do Indo-Pacífico e prometeu trabalhar com aliados e a ONU.
“E à medida que os Estados Unidos voltam o foco para as prioridades e as regiões do mundo como o Indo-Pacífico, que são mais importantes hoje e amanhã, faremos isso com nossos aliados e parceiros por meio da cooperação e de instituições multilaterais como as Nações Unidas para ampliar nossa força e velocidade coletiva, nosso progresso para lidar com esses desafios globais”, disse ele.
Ele disse que os EUA estarão concentrados em dedicar seus recursos aos desafios que “detêm as chaves do nosso futuro coletivo”.
“Acabar com esta pandemia, abordar a crise climática, administrar as mudanças na dinâmica do poder global, moldar as regras do mundo em questões vitais como o comércio, tecnologias cibernéticas e emergentes e enfrentar a ameaça do terrorismo tal como está hoje”, disse Biden, aos líderes globais.
Papel de liderança global dos EUA
Biden também reafirmou para os demais líderes mundiais o comprometimento de seu governo com o papel de liderança global exercido historicamente pelos Estados Unidos.
“Estamos de volta à mesa em fóruns internacionais, especialmente nas Nações Unidas, para chamar a atenção e estimular a ação global em desafios compartilhados”, disse ele nesta terça-feira.
Biden enfatizou o apoio a organizações como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a União Europeia (UE) e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), uma clara mudança de tom em relação ao isolacionismo do país nos quatro anos de governo de seu antecessor, Donald Trump.
US$ 100 bi contra mudanças climáticas e US$ 10 bi contra fome
Citando “mortes e devastação generalizadas” devido às mudanças climáticas, Biden anunciou que trabalhará com o Congresso dos EUA para dobrar o financiamento do país para ajudar os países em desenvolvimento a combater a crise.
Ele disse que, junto com os esforços do capital privado, a medida atenderia à meta de mobilizar US$ 100 bilhões para apoiar ação climática nas nações em desenvolvimento.
O presidente norte-americano também anunciou um comprometimento de US$ 10 bilhões como parte de um esforço para “acabar com a fome e investir em sistemas alimentares nos EUA e no exterior”.
“Em um momento em que quase 1 em cada 3 pessoas globalmente não tem acesso a alimentos adequados, apenas no ano passado, os Estados Unidos se comprometeram a reunir seus parceiros para lidar com a desnutrição imediata e garantir que possamos alimentar o mundo de forma sustentável nas próximas décadas.”
Futuro otimista
Biden encerrou seu discurso de mais de 30 minutos expressando sua crença de que a comunidade global se mobilizará em prol da construção de “um futuro melhor”.
O futuro pertencerá àqueles que abraçam a dignidade humana. Não aos que a atropelam. O futuro pertence àqueles que liberam o potencial de seu povo, não àqueles que o sufocam
Joe Biden, na Assembleia-Geral da ONU
Biden disse que a democracia vive em manifestantes pacíficos, defensores dos direitos humanos, jornalistas, mulheres que lutam pela liberdade, entre outros, em países como Belarus, Zâmbia, Síria e Cuba, enquanto refletia sobre as dificuldades da democracia dentro dos EUA.
(*Com informações de Adrienne Vogt, Kevin Liptak e Aditi Sangal, da CNN)